CAPÍTULO 7

Narrado por Henrique

Vi que ainda confiava só em mim naquele momento e sorri, tentando passar segurança:

— Pode confiar no meu amigo.

Ela balançou a cabeça e seguiu os policiais, lançando olhares para mim até se aproximar do carro. De repente, ela correu de volta e perguntou desesperada:

— Por favor, senhor, onde está Alberto? Eles estavam atrás dele também!Olhei para ela e, meio aborrecido, perguntei:

— Alberto? É seu namorado?

Antes que respondesse, o celular dela tocou. Pegou com nervosismo e disse:

— Alberto, onde está?

Ele informou a rua onde conseguiu despistar os perseguidores e que estava perto dali. Ela sorriu e pediu para ele ir até ela, mas não falou sobre a polícia presente.

— Pode dispensar seus amigos policiais? — perguntou.

— Por que você não vai mais depor? — perguntei irritado.

— Sim, vou. Mas Alberto, que está envolvido nessa confusão, pode não querer vir se vir a polícia lá. Preciso convencê-lo antes.

— Você disse aluno? — perguntei, surpreso.

— Sim, delegado… Ainda não sei seu nome, senhor?

— Henrique Macedo.

— Muito prazer, senhor Macedo. Devo a minha vida a você.

— Não precisa agradecer. Sou delegado, apenas fiz meu dever.

Sabia que faria aquilo por ela, mesmo que não fosse delegado. Ela sorriu novamente e falou:

— Sou professora de história no colégio São Jorge, morro Madalena. Alberto é meu aluno. Não sei como reagirá ao ver a polícia.

— Entendi. Parece que ele está envolvido em algo sério.

— Não acredito nisso, ele sempre foi esforçado.

— Vamos descobrir. Vou falar com Santos.

Ela concordou silenciosamente. Falei com Santos e o dispensei. Depois, voltei a ela, toquei seu ombro e, olhando em seus olhos, falei:

— Estou encarregado de levar você e seu aluno até a delegacia. Se ele não vier por bem, terá que ir por mal.

Ela assentiu nervosa, mordendo o lábio. Aquilo me fez engolir em seco e desviar o olhar daquele rosto belo e delicado.

Assim que o garoto chegou, abraçou Anita, mas demorou-se naquele gesto, e ela logo voltou a chorar. Eu, que observava a cena à distância, senti uma certa raiva do garoto — sabia que aquele abraço da parte dela, não era apenas afeto, mas um alívio pela certeza de que ambos estavam vivos após o grande perigo que enfrentaram.

Porém, notei um brilho nos olhos dele, um lampejo de admiração por sua professora. Ele devia ter uns 18 anos, mais ou menos, e um pensamento me passou pela cabeça:

— Qual jovem nunca sonhou com sua professora? Ainda mais uma tão linda quanto Anita?

Esse pensamento me incomodava. Estava sentado à parte, em uma mesa do restaurante, a pedido dela. Porém levantei-me, mas não me aproximei ainda porque Anita fez um sinal para que eu esperasse.

Ela olhou para mim, depois para Alberto, que falava suavemente enquanto segurava sua mão:

— Calma, professora. Já passou. Graças a você, estamos vivos! Sabe que lhe devo minha vida, não sabe?

Ela franziu o cenho, séria:

— Acabou, Alberto? Será que acabou mesmo? Aqueles homens eram muito perigosos e iam te matar ali mesmo se eu... Agi por impulso, nem sabia o que estava fazendo. Só quis te salvar. Mas preciso saber...

— Professora Anita, eu...

— Não, Alberto. Ainda não terminei. Quero que me conte o que aconteceu. O que fazia de fato naquela casa? Por que disseram que foi você quem pediu para falar com o proprietário? E quem era a pessoa que insistia para que ele soltasse?

Ele hesitou, pensando se deveria contar ou não.

— Fale, Alberto. Quem eram aqueles homens? Por que você se meteu nessa confusão? A dona Olga sabe disso?

— Não, professora... minha mãe não pode saber disso. Ela teria um ataque se soubesse...

Ao notar que eu me aproximava, ele percebeu que não era um simples cliente e calou-se. Anita o incentivou novamente:

— Alberto!

— Vamos, rapaz. Conta logo, você terá que falar, por bem ou por mal! — falei com minha voz firme e pesada, que pareceu amedrontar o garoto.

Anita me olhou surpresa. Aparentemente confusa a mudança tão repentina. Afinal aquele homem gentil de minutos atrás havia se tornado alguém arrogante – e parecia confusa a

— Quem é você? — perguntou ele assustado com minha expressão.

— Delegado Henrique Macedo, e você é Alberto, certo? — perguntei.

— Envolveu a polícia nisso, professora? — questionou ele, ainda mais assustado.

— Os homens me perseguiram até aqui, no restaurante, e eu devo minha vida a esse delegado. Se não fosse por ele, eu estaria morta agora. Mas não terminou. Eles ainda vêm atrás de mim. Viram meu rosto nas câmeras da casa, e você sabe que isso me põe em risco. Então, sim, chamei a polícia, e chamaria de qualquer jeito. — disse Anita, olhando para ele com seriedade.

O rapaz baixou a cabeça e murmurou envergonhado:

— Desculpa, professora Anita, por lhe envolver em toda essa confusão. Eu...

— Não foi você, fui eu mesma. Mas jamais deixaria que machucassem meus alunos sem fazer nada — disse ela, com convicção sem afetação alguma.

Ao escutar aquilo, senti uma admiração ainda maior por aquela mulher pequena, forte e determinada.

— Eu não queria que passasse por isso, professora. Agora você corre perigo por minha causa — falou ele, arrependido.

— É por isso que você precisa contar tudo de uma vez. Você não quer professora sofram por causa disso, quer ? — perguntei, mais sério e carrancudo.

— Eu não posso, eu...

— Não pode? Acha que não? Minha paciência acabou. Você vai falar, e será na delegacia! — afirmei, aproximando-me e pegando-o pelo colarinho, puxando-o para o meu carro.

Anita seguiu atrás, implorando:

— Por favor, delegado, não o machuque! Alberto, fale logo!

O garoto olhou para ela assustado e finalmente disse:

— Tudo bem, professora, eu falo!

E então, diante de mim, desabafou:

— Meu irmão mais velho é usuário e deve dinheiro para o Pivô. Ele o sequestrou, mas ainda não o matou porque paguei metade da dívida. Tenho até amanhã para conseguir o restante, ou ele o mata, mas ainda não consegui juntar o restante do dinheiro. Soube que o Pivô tinha essa casa aqui na Villa Olímpia. Pedi para falar com ele, para poder pedir mais tempo, mas ele ficou furioso e mandou os homens me apagarem. Só estou vivo por sua causa, professora.

— E sua mãe não sabe disso? Como isso é possível? — ela perguntou aparentemente intrigada.

— Boa pergunta! — falei de cenho franzido fuzilado o rapaz com um olhar que respondeu, assustado, baixando o olhar.

— Meu irmão mora no começo do morro, e minha mãe quase não sai de casa. Eu sou o único que vai vê-lo. Enganei ela dizendo que está tudo bem, mas não sei por quanto tempo.

Anita olhou para mim e explicou:

— Dona Olga, a mãe de Alberto, é cadeirante e enfrenta grandes dificuldades para se locomover no morro.

Mesmo assim, meu olhar não suavizou. Continuava a encará-lo com firmeza, quase feroz. Alberto, gaguejando, falou:

— Agora não sei o que vai acontecer com ele...

Ele começou a chorar, e Anita segurou sua mão com ternura:

— Calma, querido. Agora você terá ajuda da polícia.

O brilho nos olhos dele, ao sentí-la ali, não passou despercebido por mim. Fale com raiva:

— Isso era para ter feito faz tempo! Ter buscado a juda da polícia

— Acho que não vamos conseguir salvá-lo a tempo, professora. Se algo acontecer, não sei o que será da minha mãe... — lamentou.

— Você terá que depor sobre tudo se quiser que a polícia ajude seu irmão. E não se esqueça: fala a verdade, entendeu? — afirmei, sério. Alberto apenas concordou.

Entramos no carro e fui até a delegacia. Anita e eu esperamos lá fora enquanto Alberto dava o depoimento. Fiquei fascinado pelo delicado perfil dela, e ela percebeu meu olhar e corou. Sorri ao ver isso.

Um rapaz passou por Anita e disse:

— Professora Anita Furacão? O que faz aqui?

Ela ergueu as sobrancelhas e cruzou os braços, fazendo um bico:

— Pedro, sabe que odeio esse apelido!

— Desculpa, professora, é que é difícil evitar! Mas o que aconteceu?

Ela olhou para mim, que respondi:

— Assalto!

— Poxa, eu também estou por isso. A loja do meu pai foi assaltada e vim com ele — disse o rapaz, abatido.

— Sinto muito — falou Anita.

— A senhora conseguiu recuperar algo? — perguntou ele.

— Ah, sim! Mas preciso ainda registrar a queixa. Desculpe, tenho que ir — disse e entrou na sala do delegado.

Ao passar pelo, pai do seu aluno, ele comentou:

— Professora Anita?!

— Desculpa, senhor, seu filho explica depois — disse ela, um pouco impaciente.

Enquanto entrava, resmungava:

— Droga, com esses dois aqui, não é só o colégio que vai ficar sabendo, é toda a comunidade Madalena...

Olhei para ela, intrigado, buscando entender o significado daquele apelido, mas naquele momento preferi não perguntar nada, afinal o narizinho arrebitado dela estava totalmente franzido evidenciando a sua irritação.

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