O som das batidas na porta me tirou de um dos meus raros sonhos bons — aquele em que eu tinha uma casa na praia, uma máquina de café que nunca acabava e nenhum homem carrancudo me dizendo o que fazer.
— Alice? — era a voz inconfundível de Dona Ge. — Tá acordada, menina?
— Agora tô — murmurei, me espreguiçando como um gato preguiçoso num domingo. Caminhei até a porta com os cabelos parecendo um ninho de pássaro rebelde.
Ao abrir, lá estava ela: de avental, chinelo e um brilho de missão no olhar.
— Bom dia, flor do dia! — disse animada, como se não fosse antes das oito da manhã. — Preciso da sua ajuda.
— Já começou mal, hein — brinquei, encostando na porta. — Toda vez que alguém começa com “preciso da sua ajuda”, é uma cilada.
Ela riu, sem nem fingir que ia negar.
— A escola aqui do bairro vai fazer uma feirinha literária no sábado. A diretora quer trazer algo diferente esse ano. Daí pensei: quem melhor pra dar uma força do que nossa escritora de São Paulo?
— Dona Ge, com todo o carinho,