Capítulo 3

Lyra não sabia como continuava de pé. Sentia-se vazia, como se o vínculo que se ativara segundos atrás agora a rasgasse de dentro para fora.

O cheiro dele ainda preenchia o ar, e era tortura. Ela o sentia na pele, no sangue — como uma promessa viva que havia sido quebrada no exato momento em que nasceu.

E ele se foi.

Sem uma palavra.

Sem uma explicação.

Sem sequer hesitar.

A presença de Lara, suave e encantadora, era o oposto da tempestade que rugia dentro de Lyra. Aquela garota o tocava como se fosse dela. E Rhis... ele permitia. Ele aceitava.

Ela era só uma intrusa. Uma peça fora do tabuleiro. Uma interrupção indesejada na vida que ele já havia escolhido.

E a dor disso era insuportável.

Lyra cambaleou até o limite da clareira, o coração espremido no peito como se o próprio vínculo, agora despertado, lutasse contra a rejeição. Sentia sua loba inquieta, confusa, uivando em silêncio dentro de si — clamando por algo que já lhe fora tirado.

Ela apertou o peito, como se pudesse conter a dor com os dedos. Mas era inútil.

Não havia consolo.

Ele a viu. Sentiu.

E mesmo assim, escolheu partir.

A dor queimava como fogo, mas por trás dela, algo começava a nascer. Uma raiva contida. Uma ferida que deixaria cicatriz. Porque ela não era fraca. E não seria deixada para trás como se não importasse.

Ele podia não tê-la escolhido.

Mas o destino já havia feito sua escolha.

E nem ele, nem Lara, podiam mudar isso.

Rhis

Ele andava em silêncio, o maxilar travado, as mãos fechadas como garras.

Por dentro, a raiva borbulhava como lava sob a superfície.

Raiva dela.

Raiva da Deusa.

Raiva de si mesmo por ter sentido — ainda que por um segundo — aquele calor inegável quando os olhos dela tocaram os seus.

Ela.

A companheira escolhida.

Dois anos.

Dois malditos anos.

Ele esperou. Odiou a espera. Viu seus amigos encontrando seus pares, sentindo o vínculo florescer, assistindo-os viverem aquilo que ele acreditava nunca ter. E quando percebeu que sua companheira talvez nunca viesse, escolheu parar de esperar.

Escolheu Lara.

Lara, que esteve ali quando ninguém mais estava. Que o viu em suas piores versões e ainda assim ficou. Que o ajudou a carregar o peso da liderança quando sua alma estava em frangalhos.

E agora... agora a Deusa ousava lhe entregar outra?

Tarde demais.

O vínculo era real, sim. Ele o sentira, como uma corrente invisível apertando o coração. Mas também era uma maldição. Uma lembrança cruel de tudo o que ele não teve. De tudo o que não quis mais querer.

Rhis parou no meio da trilha e socou uma árvore com força, o impacto fazendo o tronco estremecer. A dor física o ancorava — o mantinha longe da confusão que borbulhava dentro dele.

— “Você demorou demais.” — rosnou, como se falasse com ela. Como se ela pudesse ouvi-lo. — “Agora é tarde.”

Ele já tinha feito sua escolha.

Mesmo que a alma gritasse contra isso.

Mesmo que o vínculo tentasse puxá-lo para ela.

Mesmo que o destino o punisse por isso.

Ele não cederia.

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