Capítulo 2

um ano antes....

A lua cheia pairava no céu como uma guardiã silenciosa, banhando a floresta com sua luz prateada. Havia algo diferente naquela noite — uma tensão elétrica no ar, como o momento exato antes de um raio cair. Lyra sentia isso na pele. No sangue. No fundo da alma.

Hoje, ela completava dezoito anos.

Para qualquer loba ligada à Deusa da Lua, essa idade marcava o início de um novo ciclo: o momento em que o destino começava a se revelar, quando o vínculo com o companheiro predestinado poderia finalmente ser reconhecido.

Mas Lyra não pensava nisso enquanto caminhava pela clareira silenciosa da alcatéia. Na verdade, ela não sabia por que caminhava. Estava no meio de sua própria festa, rodeada por risos, música e danças — e ainda assim, seu coração a arrastava para longe. Um cheiro a envolvia, doce e selvagem, impossível de ignorar. Algo antigo e inevitável a chamava.

Seus pés, movidos por instinto, a levaram até o campo de treinamento.

Foi então que ela o viu.

Ele estava no centro do terreno, suado após o treino, os músculos tensos e a respiração firme. Era impossível não notá-lo. Rhis, o futuro alfa da Alcatéia Lua Crescente, era o tipo de lobo que parecia esculpido pelo próprio destino. Aos vinte anos, era forte, temido e respeitado, mas sempre envolto por uma aura de silêncio — como se carregasse um peso que ninguém via.

Quando seus olhos encontraram os de Lyra, o tempo parou.

Ela sentiu um puxão no peito, como se uma parte de si finalmente tivesse sido encontrada. O cheiro — aquele que a guiara até ali — era dele. Só podia ser.

Rhis, por sua vez, paralisou. Aquela presença... era inconfundível. O vínculo havia se manifestado. Ela era sua companheira.

A escolhida pela Deusa.

Mas, ao contrário do que os contos antigos prometiam, não houve êxtase. Nenhuma alegria. Apenas um endurecimento sutil nos traços de Rhis, como se a revelação tivesse sido um golpe.

O silêncio entre eles era pesado, elétrico.

Então, a tensão foi quebrada por uma voz leve e familiar:

— "Aí está você..."

Lara.

Ela surgiu como uma brisa doce, envolta pelo luar, os cabelos dourados soltos sobre os ombros e os olhos cheios de brilho ao vê-lo. Sem hesitar, caminhou até Rhis e envolveu sua cintura com os braços, apoiando a cabeça no peito dele como se aquele lugar lhe pertencesse.

— "Você sumiu, amor. Fiquei te esperando. Achei que fôssemos dançar..."

Lyra sentiu um frio subir pela espinha. “Amor”.

Rhis hesitou por um segundo, mas seus braços acabaram se movendo por reflexo, pousando sobre os ombros de Lara. Não havia intensidade no gesto, mas também não houve recusa.

— "O salão estava cheio demais."

— "Você sempre foge quando as coisas ficam agitadas." — ela riu contra o peito dele. — "Mas eu conheço você... e sei como te encontrar."

Ela ergueu o rosto, ficando na ponta dos pés. Os dois ficaram tão próximos que Lyra não soube se estavam prestes a se beijar. O coração dela batia em desespero.

— "Sabe o que eu queria agora?" — Lara murmurou, com um sorriso travesso. — "Que a noite parasse aqui, só nós dois... você, eu e a lua."

Rhis a olhou por um instante. Seus olhos, que há segundos pareciam intensos e conflitantes, agora estavam... vazios. Ele não sorriu, mas também não disse nada.

— "Você anda estranho ultimamente." — Lara franziu o cenho, tocando o rosto dele. — "Tem algo errado?"

Rhis balançou a cabeça lentamente.

— "Está tudo bem."

— "Você me promete?" — ela perguntou, quase em sussurro.

Ele não respondeu com palavras. Apenas inclinou a cabeça e deixou um beijo suave na testa dela. Um gesto íntimo, cuidadoso. Terno.

Lyra assistia à cena em silêncio absoluto. A respiração presa, o peito apertado, a alma em conflito. Algo dentro dela gritava que aquele não era o final da história. Mas, ali e agora, tudo o que via era a mulher que ocupava o lugar que deveria ser seu.

Lara, ao notar a presença de Lyra mais adiante, virou o rosto em sua direção. Seu sorriso gentil vacilou por um segundo, antes de reaparecer como um verniz de perfeição.

— "Ah, parece que vocês têm companhia."

Rhis voltou o olhar para Lyra uma última vez.

Dessa vez, seus olhos diziam tudo o que sua boca não ousava: ele sabia.

Mas ainda assim, virou-se e foi embora — com Lara entrelaçada a seu braço.

E Lyra, sob o olhar sereno e impiedoso da lua, soube que a Deusa acabara de lhe entregar seu destino... e um coração partido.

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