O castigo de Vitória

Vitória

Volto até a porta e começo a bater, chamando alguém para abrir. Digo que a menina caiu, se machucou, e que está sangrando. Enfim, a porta se abre. As meninas que estavam com ela no refeitório entram junto com uma das guardas, e eu saio do banheiro. Mas, a guarda me chama, pega meus dois braços e me algema.

— Você sabe das regras, e gosta mesmo de ficar no calabouço, não é? Vamos ver se vai ser divertido ficar lá por três dias. — Droga, não queria ficar naquele inferno, mas ainda prefiro isso do que lamber büceta mijada.

Ela sai me puxando e abre a porta de ferro, tira as minhas algemas, e me j**a dentro. Ela me colocou na pior cela, está cheio de ratos no chão e baratas na parede. Não para para dormir, nem mesmo se sentar nesse buraco, então, fico paradinha tentando não chamar atenção deles para mim. Quando um rato se aproxima, eu chuto ele para o outro lado da sala com o pé.

— Fica desse lado aí que eu fico aqui. A gente não se dá bem, então, melhor cada um de um lado da sala mesmo que seja pequeno, cabe todo mundo.

Eu não sei dizer o que dói mais: o frio do cacete que está aqui dentro, o medo de enlouquecer com esses insetos ou minhas pernas que parecem não querer mais me sustentar. Nem sei quantas horas estou de pé, mas se não for o terceiro dia, não sei se vou aguentar mais.

A cela é escura, úmida, e tem cheiro de morte. Tem algo podre aqui dentro, um rato morreu e o outros estão comendo ele. O fedor agarra na minha pele, nos meus cabelos, que entra pelas minhas narinas e parece corroer tudo por dentro. O silêncio aqui é cruel… mas não é total. Às vezes, ele é rasgado pelo som das garras dos ratos arranhando o chão, ou tiqui tique das baratas andando nas paredes. Elas estão por toda parte.

É como se eu tivesse sido jogada fora. Como se eu tivesse deixado de existir.

Minhas pernas tremem. De frio. De nojo. De desespero. Tento não encostar nas paredes, mas elas estão tão perto... tudo aqui é apertado, sufocante. Sinto algo se mexendo perto do meu pé e preciso prender o grito na garganta. Não adianta gritar. Aqui ninguém escuta, só posso chutar e me esquivar deles.

A portinha se abre e a minha refeição chega. Pelo que veio, acredito que já está de manhã. Mas, como vou comer nesse lugar. Pego apenas a garrafa de água, e empurro o prato. Mas, pego ele de volta, se eu colocar o prato no canto, talvez eu possa me sentar um pouco, enquanto eles comem.

Coloco o prato bem no canto, e, como eu havia imaginado, eles vão tudo para cima da comida. Olho pro chão, que, mesmo podre, está sem os bichos. Me sento, e sinto como se minhas pernas estivessem com um peso em cima delas. Mas, enquanto eles estiverem em cima da comida, eu posso descansar.

Para minha sorte, eles levam um bom tempo comendo, e isso me dá umas horas de descanso. Mas, quando a comida acaba, eles volta a ficar tentando cavar a parede para sair. É como se eles tivessem sido colocados aqui. Olho para todos os lados, e não vejo nenhuma brecha por onde eles podem ter passado para entrar, então, percebo o óbvio. A portinha se abre e eu me levanto.

— Seu psicólogo está te chamando. Não era para você sair até completar os três dias, mas a diretora mandou te tirar. Mas depois que acabar a sessão, você vai voltar para cá, entendeu?

— Sim, senhora. — Repondo ironicamente, mas agradecendo mentalmente por sair daqui. Pelo menos, vou respirar um ar puro.

Ela vai me levando direto para a sala do psicólogo, nem me deixando tomar um banho primeiro para tirar o fedor que impregnou no meu corpo. Ela abre a porta e eu entro. Ela retira a minha algema e fecha a porta. Ele parece ter sentido o fedor, pois virou o rosto para o lado fechando a cara e tampando o nariz.

— Está confortável com o teu cheiro? — Me aproximo mais dele e o vejo quase vomitando.

— Não, mas eu não tenho escolha, então sou obrigada a me acostumar. E já que me chamou aqui, você também será obrigado a isso. — Ele se levanta se afastando de mim, e eu estou me divertindo com isso.

Ele vai até a porta, b**e e a guarda abre.

— A leve para tomar banho, não sou obrigado a sentir esse fedor. — Ela me chama com a mão, e eu passo por ele. Ainda para, para que ele sinta. Ele faz mensão de vomitar e sai novamente de perto de mim. A guarda coloca a algema nos meus pulso, e me conduz até o banheiro.

— Seja rápida!

— Você não se importa com o fedor, também não?

— Quase todos os dias eu tiro alguém do calabouço com o mesmo cheiro que o seu. No começo eu cheguei até a vomitar, mas hoje em dia já não me incomoda mais. Vai logo, não tenho todo tempo do mundo.

Ela me entrega o kit e eu entro no chuveiro. Me lavo bem, esfregando a minha pele para tirar o fedor, o que não adianta muito, já que depois que o psicólogo for embora, eu vou voltar para o mesmo lugar.

Ela me entrega um novo uniforme, e me leva de volta para a sala dele. Ele me olha, e dessa vez não fica com nojo de mim. Me sento na cadeira de sempre, e ele fica me observando.

— Para que você volta, se sabe que eu não vou falar nada?

— Porque a sua história me intriga. Ninguém com 14 anos mata o pai sem motivos. E eu pesquisei sobre você, não encontrei a sua mãe e nem parente por perto. Daqui um mês você completa 21 anos e vai sair daqui, e para onde vai?

— Vou voltar para minha casa.

— E vai fazer o que de vida?

— Me prostituir, já que eu não vou ter muitas opções. Descobriu mais o que dá minha vida, doutor?

— Do lado de fora nada demais. Só que aqui dentro vejo que você está se metendo em várias confusões. O que aconteceu ontem a noite para você ter batido a cabeça daquela menina na parede? — Bufo, e olho para o lado sem responder ele. — Estou aqui para te ajudar, mas você tem que confiar em mim.

— Eu nem te conheço, a única coisa que eu sei, é que está aqui para saber o porquê matei o meu pai. Mas, isso não vai mudar em nada a minha situação. Se eu te contar o porquê eu bati na folgada, também não vai mudar em nada, já que depois que você for embora, eu vou voltar para o calabouço.

— Se eu te tirar do calabouço, você vai confiar em mim?

— Não, mas já será um começo. — Vejo ele sorrindo de lado, será que ele vai convencer a dama de ferro de não continuar o castigo? Eu duvido muito.

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