Arrumando confusão.

Vitória,

Ele é muito diferente dos psicólogos que veio aqui até hoje. Não consegui seduzi-lo para me deixar em paz, mas do jeito que ele fala até parece que está me obrigando a falar.

— Temos o dia todo, Vitória. Me responda, porque matou o seu pai?

— Você foi pago para isso, não é? Pois pode devolver o dinheiro deles, porque eu não vou contar nada.

— Você vai, pode não ser hoje, mas vai. — Ele se levanta e se aproxima mais de mim. — Mas eu tenho uma teoria. Ele abusou de você e por isso você o matou. Você estava com a faca na mão e toda cheia de sangue. Não falou nada naquele momento e nem até agora. Porque?

Olho para frente, e não digo mais nada. Ele está muito errado, não foi esse o motivo por eu ter matado aquele desgraçado.

— Ou foi com alguém próximo de você que ele machucou? Sua mãe está desaparecida, foi ela que ele machucou? — Olho para ela com surpresa, mas, volto a olhar para frente. — Ok, nossa sessão está encerrada, pode sair da minha sala.

Me levanto e fico de frente para ele, que parece ter descoberto tudo. Olho bem em seus olhos e passo por ele, saindo da sala. Quando eu fecho a porta, a guardinha coloca a algema nos meus pulos, e me leva de volta para o meu quarto, que eu chamo de cela, já que estou em uma prisão infantil. O quarto eu divido com mais 3 meninas, cada uma em uma cama da beliche.

Vou direto para a minha cama, que é a de baixo do lado esquerdo. Me encosto na parede, dobro as minhas pernas, e fico pensando nele. Não quero tocar nesse assunto, não quero ter que reviver aquele momento. Não quero me lembrar de nada, queria bater a minha cabeça e esquecer quem eu sou e tudo que eu vi.

— Você está bem, Vitória? — Uma das meninas pergunta, mas eu viro meu rosto pra parede. Se eu tivesse bem eu esteira rindo e não do jeito que eu estou. — Podemos conversar?

— Vai pro inferno, cäralho, me deixe em paz, carniça. — Praticamente grito com ela, e só assim ela entende que não quero aproximação.

— Desculpa, eu só queria ser sua amiga. — Reviro os olhos, as últimas que me fizeram essa proposta, me fez parar no castigo da dama de ferro. Não existe amizade, é apenas um tentando sobreviver em cima do outro.

Chega a hora do jantar, todas saem em fileiras para ir ao refeitório, não pode andar do lado, tem que ser na fila retinha, e ai de quem cair e desmoronar a fila, essa apanha igual uma condenada. Uma das minhas "amigas" do passado, achou engraçado me empurrar, mas só eu apanhei naquele dia. Desde então, eu sempre fico por último, para que ninguém fique nas minhas costas e possa fazer isso de novo.

Mas, ser a última não é tão bom como aparenta. Eu posso até não levar umas pancadas das guardinhas, mas quase sempre fico sem sobremesa. Só consigo pegar quando é banana, mas, para evitar comentários e risadinhas, sempre corto ela antes de levar a boca.

Três meninas se sentem na minha mesa, eu nem olho, mas já imagino que vem confusão. Minha sorte, ou delas, que usamos talheres de plásticos, ou eu enfiava na barriga de cada uma.

— Uma menina veio reclamar de você.

— Isso é um problema dela, e não meu. — Respondo, ainda sem olhar.

— Então, mas agora virou problema nosso, e seu também. Ela falou com você com educação, e você foi mal criada com ela. — Dessa vez eu a olho, só para responder olhando em seus olhos, como um gesto de educação.

— E daí? Não vou ser educada com quem eu não quero. Mas, se você quiser que eu seja, me obrigue! — Ela dá um sorriso de lado, nem foi com ela, e tá se doendo.

Para me pirraçar, ela coloca o dedo na minha bandeja, e puxa para o lado dela. Eu puxo de volta, e a encaro com raiva. Ela faz o mesmo, e eu deixo ela levar a bandeja. Se tem uma coisa que é regra dentro desse reformatório, é que quem começa a briga que paga o pato. Mesmo que a outra te incomode, não deve começar uma briga.

— Pode comer, deve está morrendo de fome. E pelo seu tamanho, acredito que o que a tia dá, não lhe seja o suficiente.

— Está me chamando de gorda?

— Se a carapuça serviu! — Ela se levanta com tudo, e eu olho para o lado. Pelo menos, as guardas estão de olho, e assim, vai ver que ela que está começando.

— Repete, sua lombriga seca.

— Se a carapuça, serviu. — Repito, mas dessa vez silabando bem devagar para ela entender melhor.

Ela empurra a bandeja para mim, e a sopa cai em cima do meu corpo. Eu só não me queimo porque a sopa não estava tão quente, mas ainda sinto um ardor. Me levanto e estico a roupa para não pegar na minha pele.

— Você deveria está num hospício, e não no reformatório. — Digo sacudindo a minha roupa.

— E você num cemitério. Mas logo você vai para lá, não se preocupe. — Ela olha para o lado, e vê as guardas vindo para perto de nós. — Me aguarde.

Elas saem e eu fico tentando me limpar. As guardas voltam para o ponto delas encostada nas paredes, e eu sigo para o banheiro. Droga, agora vou dormir com fome por causa dessa nojenta. Passo água onde sujou e tento esfregar. Ouço o barulho da porta abrindo e olho pelo espelho.

A mesma menina que me sujou entra sorrindo e vai até um dos box e mija com a porta aberta. Continuo tentando me limpar enquanto escuto ela mijando, parecendo uma cachoeira.

— Terminei. — Reviro os olhos, até parece que eu não ouvi que o barulho cessou. — Venha me secar!

Começo a gargalhar, isso só pode ser brincadeira.

— Estou mandando Vitória! — Torço a minha camisa e me viro de frente para ela. — Se não fizer, vai ser muito pior para você.

Levanto a mão e dou o dedo do meio para ela. Caminho até a porta, mas, ao tentar abrir, percebo que está trancada. Droga! Já vi que vou ter que bater nessa menina para que ela me deixe em paz.

— Ainda estou te esperando, Vitória. — Volto até onde ela está, a mesma está com as pernas abertas e me chama com o dedo. — Se ajoelha e seca com a língua.

Me aproximo mais, porém, em vez de me ajoelhar como ela tinha mandado, seguro a cabeça dela e começo a bater contra a parede. E só paro quando vejo a parede vermelha de sangue.

— Tá seca agora, ou quer que eu seque mais?

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