Chapter 3

Uma Porta Fechada

Sara agarrou uma conta de hospital amassada, seus tênis arrastando na calçada rachada enquanto corria para um ponto de ônibus. Sua jaqueta desbotada pendia frouxa, sua respiração embaçada pelo frio da manhã.

Ela embarcou no ônibus, colocando moedas na fenda, e sentou-se perto de uma janela, os números vermelhos da conta, $12.347 dólares,  queimando em sua mente. Ela olhou para a cidade passando rapidamente, seus dedos torcendo a borda do papel.

O ônibus parou com um rangido em um subúrbio tranquilo, gramados bem cuidados se estendendo sob um céu cinzento. Sara desceu, alisando a jaqueta, e caminhou até uma casa com portão, sua fachada de tijolos à vista. Ela apertou o interfone, com a mão tremendo.

"É a Sara", disse ela, em voz baixa. Um zumbido soou, o portão se abrindo com um clique. Ela subiu o caminho de pedra, segurando a nota com mais força, e bateu na porta polida. A irmã de seu pai, tia Linda, abriu-o, com a blusa de seda impecável e os olhos semicerrados.

"Sara, o que é isso?", perguntou Linda, de braços cruzados. Sara engoliu em seco, segurando a conta. "Mamãe está doente, o hospital precisa pagar, preciso de ajuda." Linda franziu os lábios, pegou o papel e o examinou.

"É muita coisa", disse ela, devolvendo-o. As mãos de Sara tremeram. "Por favor, qualquer coisa, ela está piorando." Linda suspirou, dando um passo para trás. "Entre, mas não espere milagres."

Lá dentro, a sala de estar brilhava,  sofás de couro, uma mesa de centro de vidro, fotos de família sobre a lareira. Sara estava parada, sem jeito, seus tênis arrastando no tapete. Linda sentou-se, gesticulando para uma cadeira. Sara sentou-se na beirada, a conta amassando em seu colo. "Não somos um banco", disse Linda, com a voz ríspida.

"Seu pai só nos deixou problemas, você sabe disso." Os dedos de Sara apertaram o papel. "Eu sei, mas a mamãe é tudo o que eu tenho, eu te pago de volta." Linda balançou a cabeça, levantando-se.

"Temos nossas próprias despesas, verba para a faculdade das crianças." A garganta de Sara se apertou, ela também se levantou. "Só um pouquinho, por favor, ela está morrendo." O rosto de Linda endureceu. "Desculpe, Sara, não podemos." Ela abriu a porta, com a mão firme na maçaneta. Sara saiu, a porta se fechando com um clique atrás dela.

No ponto de ônibus, Sara sentou-se em um banco, a nota dobrada no bolso. Seus olhos ardiam, ela os enxugou com a manga. O ônibus chegou com um estrondo, ela embarcou, afundando-se em um assento. Seu telefone vibrou, uma mensagem do hospital: faltam 6 dias. Ela o empurrou para longe, pressionando a testa contra a janela fria, os prédios cinzentos da cidade passando como um borrão. Suas mãos torceram a bainha do casaco, sua respiração irregular.

De volta ao hotel, Sara empurrou seu carrinho de limpeza pelo saguão, com as rodas chacoalhando. Os lustres brilhavam, as risadas dos convidados ecoando. Ela esfregou uma porta de vidro, com as mãos em carne viva, o limpador de limão penetrando em seu nariz. Maria, sua colega de trabalho, inclinou-se perto, limpando um balcão. "Você parece um fantasma, Sara", disse Maria, jogando o pano para trás. "O que foi?" Sara continuou esfregando, em voz baixa. "Só cansada." Maria bufou. "Cansada não parece assim, desembucha." Sara fez uma pausa, com o pano parado. "A conta do hospital da mãe, está ruim." O rosto de Maria suavizou, ela se aproximou. "Quanto?" Sara puxou a conta, mostrando-a. Maria assobiou. "Droga, que duro, você tem família para ajudar?" Sara balançou a cabeça, dobrando a conta. "Tentei, mas disseram que não." Maria suspirou, dando um tapinha em seu ombro. "Quem me dera conseguir, mas também estou quebrada." Sara assentiu, retomando a esfregação, agora com mais força.

 Na sala de descanso dos funcionários, Sara estava sentada sozinha, seu sanduíche velho intocado. Ela abriu o caderno, rabiscando a lápis: Vender joias, pedir turnos extras. Seu telefone vibrou, outra mensagem do hospital. Ela o silenciou, com os dedos tremendo, e deu uma mordida no sanduíche, mastigando lentamente. Um colega de trabalho, Tom, entrou, pegando um refrigerante. "Sara, você está bem? Vocês estão todas quietas", disse ele, abrindo a lata. Ela forçou um sorriso. "Bem, só pensando." Ele deu de ombros, saindo. Ela olhou para o caderno, o lápis estalando em sua mão.

Em casa, Sara destrancou a porta do apartamento, o ar pesado com o cheiro de remédio. Sua mãe estava deitada na cama, uma tosse quebrando o silêncio. Sara encheu um copo com água e o colocou ao lado da cama. "Você está atrasada", disse sua mãe com a voz rouca, os olhos semiabertos. "Desculpe, mãe, tive que ver alguém", disse Sara, ajeitando o cobertor. A mão de sua mãe agarrou a dela, fraca, mas quente. "Você está se preocupando demais, eu vejo." O sorriso de Sara vacilou, ela apertou a mão da mãe. "Estou bem, só descanse." Ela foi até a cozinha, esquentando a sopa, a chama do fogão tremeluzindo. A conta estava no balcão, com a tinta vermelha brilhando. Ela a ignorou, mexendo a panela, o vapor subindo em espirais.

No corredor do hotel, Sara tirou o pó de uma suíte, seu pano deslizando sobre uma mesa de mogno. O perfume de um hóspede pairava no ar, forte e intenso. Ela parou diante de um espelho, seu reflexo pálido, as olheiras evidentes. Seu telefone vibrou, seu primo, Mark, por parte de pai. Ela atendeu, com a voz suave. "Mark, a tia Linda te contou sobre a mamãe?" A voz dele era monótona. "Sim, contou, Sara, é difícil, mas não podemos ajudar, temos nossas próprias contas." Seus dedos apertaram o telefone. "Só um pouquinho, Mark, qualquer coisa." Ele suspirou. "Desculpe, não posso, falo com a Linda de novo." A ligação terminou, ela empurrou o telefone para longe, tirando o pó mais rápido, com as mãos tremendo.

No ônibus para casa, Sara sentou-se perto da janela, as luzes da cidade fracas. Suas mãos torceram a nota no bolso, as bordas desfiando. Ela inclinou a cabeça para trás, fechando os olhos, o zumbido do ônibus constante. No apartamento, ela entrou na ponta dos pés, verificando a mãe. A tosse estava mais suave agora, mas o cobertor mal se levantou. Sara sentou-se ao lado dela, segurando sua mão, o calor fraco. "Nós daremos um jeito, mãe", sussurrou ela, com a voz embargada. Os olhos da mãe tremeram, um aceno fraco. Sara se levantou, foi até o balcão e abriu a conta novamente. Seus olhos ardiam, ela os enxugou, andando de um lado para o outro no pequeno quarto.

Na manhã seguinte, Sara preparou café, a cafeteira chiando. Sua mãe tossiu, acordando. "Você não dormiu", disse a mãe, com a voz frágil. Sara trouxe água, sorrindo. "Estou bem, mãe, não se preocupe." Ela pegou seu uniforme, o tecido áspero, e foi para o hotel. O saguão estava agitado, hóspedes fazendo o check-out. Ela empurrou o carrinho, limpando uma mesa de vidro, as mãos firmes, mas lentas. Alexander Grayson passou, seu terno impecável, seu olhar breve, mas penetrante. "Bom dia", disse ele, em voz baixa. "Bom dia, senhor", murmurou Sara, movendo suas roupas mais rápido.

No vestiário, Sara se trocou, evitando seu reflexo. Seu telefone vibrou, hospital novamente. Ela o ignorou, amarrando o avental, e pegou o elevador de serviço. Em uma suíte, ela limpou uma bandeja, com sobras de pão tentando seu estômago vazio. Ela balançou a cabeça, empilhando os pratos. Maria colocou a cabeça para dentro. "Sara, você já falou com sua família?", perguntou ela, dobrando uma toalha. Sara assentiu, com a voz tensa. "Sim, eles não vão ajudar." Maria franziu a testa. "Que frio, você tem mais alguém?" Sara balançou a cabeça, empilhando mais rápido. "Só eu." Maria suspirou, saindo. Sara continuou limpando, seus movimentos mecânicos.

No almoço, Sara sentou-se sozinha, com o caderno aberto. Ela rabiscou: Loja de penhores, horas extras. Seu sanduíche estava intocado, seu estômago roncando. Tom passou, oferecendo uma barra de chocolate. "Pegue, Sara, você precisa", disse ele, sorrindo. Ela balançou a cabeça.

"Estou bem, obrigada." Ele deu de ombros e foi embora. Ela olhou fixamente para o caderno, com o lápis pairando no ar, e então escreveu: Ninguém saiu.

Em casa, Sara cozinhava arroz, a panela fumegando na cozinha mal iluminada. Sua mãe comia devagar, com as mãos trêmulas. "Você não está comendo o suficiente", disse a mãe, franzindo a testa.

"Estou bem, mãe", disse Sara, limpando a tigela. Sentou-se no balcão, abrindo a conta, cujos números estavam borrados. Pegou o telefone e ligou para o tio, marido de Linda.

"Tio Ray, é a Sara, sobre a conta da mãe", começou ela, em voz baixa. A voz dele era rouca. "Linda me disse que não podemos, Sara, temos nossos próprios problemas." Ela agarrou o telefone. "Por favor, só uma coisinha." Ele suspirou. "Não, desculpe." A ligação terminou, ela largou o telefone, com as mãos cobrindo o rosto.

O turno da noite do hotel se arrastava. Sara esfregava um banheiro, com os azulejos brilhando. O perfume de um hóspede lhe ardia no nariz. Ela foi para outro quarto, com o carrinho chacoalhando.

A voz de Alexander ecoava no corredor, dando ordens. "Depressa", disse ele a um gerente. Sara mantinha a cabeça baixa, limpando o pó de um abajur, as mãos trêmulas. Ela fez uma pausa, olhando para a nota no bolso, e então retomou, com a roupa borrada. As luzes da cidade do lado de fora da janela brilhavam, distantes e frias, enquanto ela trabalhava noite adentro, com a esperança desaparecendo a cada passada.

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