O restaurante escolhido por Nice era pequeno, aconchegante, com iluminação baixa e uma banda ao fundo tocando clássicos em versão acústica. Um lugar com mais alma do que luxo, mas com um charme inegável. Era fácil entender por que ela gostava daquele ambiente.
Sebastian chegou às 19h55. Pontualidade era uma questão de honra para ele. Entrou no local como quem pertence a todos os lugares. Vestia uma camisa preta de tecido leve, os dois primeiros botões abertos, revelando um pouco do peito largo. A calça de alfaiatariar seguia o corte perfeito que delineava as pernas longas e firmes, os cabelos escuros estavam alinhados com precisão e o relógio caro no pulso só reforçava a imagem de homem no controle de tudo.
Quando entrou, viu-a já sentada em uma mesa próxima à pista de dança, com uma taça de vinho nas mãos. Usava um vestido vermelho de tecido leve, que se ajustava à cintura com naturalidade, reaçando as curvas discretas. O decote era sutil, mas o suficiente para deixar à mostra a pele clara e delicada, os cabelos castanhos estavam parcialmente soltos emoldurando o rosto de traços suaves. Os olhos, atentos, avaliadores, como sempre.
Ela o viu se aproximar e sorriu de leve. Discreta. Quase imperceptível. Mas Sebastian percebeu.
— "Pontual. Gosto disso."
— "Prometi, não prometi?" — Ele puxou a cadeira e sentou-se.
O garçom se aproximou. Nice indicou o vinho da casa, Sebastian concordou sem questionar.
— "Então... costuma convidar muitos homens para jantar aqui?" — Ele perguntou, com aquele tom entre a provocação e a curiosidade genuína.
— "Na verdade… não." — Ela deu um gole no vinho. — "Dançar é uma terapia para mim. Normalmente venho com amigos, e ainda aproveito a deliciosa comida, mas, como você me instigou bastante, hoje… resolvi fazer diferente."
— "Sorte a minha." — O sorriso dele foi lento, quase preguiçoso. Ela fingiu que não percebeu.
Enquanto jantavam, conversaram sobre assuntos neutros. Ela se manteve no terreno seguro: falou da cidade, de livros, de vinhos, de música. Ele seguiu o fluxo, mas sempre jogando pequenas perguntas com segundas intenções. Pequenos testes. Ela respondia tudo com inteligência, mas sem dar espaço para que ele avançasse demais.
Quando a banda iniciou a próxima música — um bolero clássico —, Sebastian largou os talheres.
— "Você me disse que gostava de dançar... mas não me disse se sabe dançar isso."
— "Bolero?" — Ela sorriu. — "Acho que você vai ter que descobrir."
— "Perfeito." — Ele se levantou e estendeu a mão, sem dar espaço para recusas.
Nice hesitou por menos de um segundo, então aceitou. A palma dele era quente, firme, ao segurar na mão dele sentiu até uma quentura diferente, não sabia explicar, algo que mecheu com ela, mas, que a aparência deslumbrante dele.
Ao chegar na pista, Sebastian posicionou uma das mãos na cintura dela, firme. A outra segurou sua mão com controle, mas sem brutalidade. Ela sentiu o calor do toque dele, o comando no movimento, o perfume amadeirado que ele usava a envolveu imediatamente, como se fosse uma droga lhe deixando inebriada.
Ele começou a conduzir, passos lentes, firmes, cada movimento com intenção. O corpo dele contra o dela, guiando, dominando e ao mesto tempo, respeitando os limites.
— "Aprendi isso há alguns anos..." — Ele murmurou próximo ao ouvido dela, o tom de voz, baixo e rouco, fez um arrepio subir pela espinha dela.
— "Por causa de uma mulher que eu achava que queria impressionar."
Nice soltou uma risadinha curta.
— "E conseguiu?"
— "Não. Mas pelo menos o bolero ficou e agora está servindo para tentar impressionar uma bela dama."
Ela ergueu os olhos para ele. Os olhares se encontraram. Ficaram presos por segundos a mais do que o aceitável entre dois estranhos.
— "Parece que você é bom em aprender e dizer coisas por conveniência."
— "E você parece boa em provocar sem perceber."
A música terminou, os corpos ainda próximos, as respirações um pouco mais aceleradas do que o normal, Sebastian aproveitando o momento não soltou a mão dela imediatamente.
— "Vou querer mais dessas danças, Nice."
Ela apenas sorriu e ele soube que estava sentindo algo diferente, que estava entrando em um terreno que não tinha total controle.