Sebastian voltou para a confeitaria no sábado seguinte. Não por causa do café, definitivamente não, ele não sabia o porquê, mas a imagem daquela mulher o pserguira durante os últimos dias. Ele queria vê-la de novo, queria observar, sentir até onde ela permitiria sua aproximação.
Nice estava na mesma mesa de sempre. Os cabelos presos do mesmo jeito, óculos de armação discreta, o mesmo estilo de vestido social casual que marcava a cintura com leveza, como se ela não soubesse, ou simplesmente não se importasse com o quanto era atraente.
Sebastian a observou de longe antes de se aproximar. O jeito como ela franzia o cenho, como mordia o canto do lábio inferior ao revisar um texto, eram detalhes pequenos, mas, que pareciam gritar por atenção. Ele caminhou até ela com aquela segurança natural de quem comanda salas de reunião com uma palavra e faz executivos de multinacionais repensarem decisões com um único olhar, com a calma de quem domina qualquer ambiente.
— “Bom dia, Nice.”
Ela ergueu os olhos devagar, com a mesma expressão neutra da última vez, observou o homem deslumbrante a sua frente, ele vestia uma camisa social escura, com as mangas dobradas até o antebraço, revelando o relógio de pulseira de couro e o físico bem definido de quem não negligenciava a academia. O rosto sério e os traços bem desenhados só reforçavam o ar de mistério e autoridade que o cercava.
— “Sebastian.”
Só o nome. Sem convite para sentar, sem sorriso. Ele não se incomodou. Puxou uma cadeira e sentou-se mesmo assim.
— “Tem costume de vir sempre a esse lugar?”
— “Sábado de manhã, sim.”
Ela respondeu sem emoção, voltando os olhos para a tela. Sebastian observou em silêncio por alguns instantes.
— “Posso te fazer um convite?” — ele perguntou, finalmente.
Nice soltou um leve suspiro, largando a caneta.
— “Não costumo aceitar convites de estranhos.”
— “Então deixa eu resolver isso.”
Ele sorriu de leve e se inclinou um pouco para frente.
— “Trabalho com investimentos. Sou CEO de um grupo empresarial. Odeio perder tempo. E nunca insisto com quem não demonstra interesse. Mas, com você, resolvi abrir uma exceção. Não quero um encontro. Não quero te tirar da sua zona de conforto. Quero apenas, um almoço, amanhã, sem compromisso.”
Nice o observou por alguns segundos, avaliando. Parte dela queria recusar por instinto. Outra parte, bem estava curiosa. O homem era direto, sem rodeios, diferente do tipo de gente com quem lidava no escritório.
— “Amanhã… tenho o domingo livre.”
Ela fechou o notebook.
— “O que prefiro manter desta forma, para descansar, não sair da minha rotima, mas, vou te fazer uma contraproposta.”
Sebastian arqueou a sobrancelha.
— “Gosto de mulheres que negociam. Diga.”
— “Tem um restaurante onde costumo ir aos sábados à noite. Música ao vivo. Espaço para dançar. Se quiser realmente aproveitar o tempo, venha comigo hoje. Jantamos. E… se quiser, dançamos.”
Sebastian demorou dois segundos a mais do que o habitual para responder. Dançar não era exatamente a forma como ele planejava passar a noite. Mas, a proposta vinda dela despertou algo inesperado.
— “Fechado.”
Ele se levantou com a mesma calma com que tinha chegado.
— “Me passa seu endereço, para te buscar.”
Ela sorriu de canto. Pela primeira vez, deixando escapar uma pequena rachadura na muralha que a protegia.
— “Não. Te passo o endereço do restaurante e te vejo lá às 20h. Se realmente quiser.”
Sebastian a encarou, gravando cada detalhe daquele olhar firme e decidido.
— “Vou estar lá.”
E pela primeira vez em muito tempo, ele se pegou ansioso pela chegada da noite.