Capítulo 2 – O Impacto

O Impacto

 O carro seguia pelas avenidas largas da Faria Lima, cortando o trânsito com a facilidade que só motoristas bem treinados conheciam. Do banco traseiro, Heitor Castellan observava a cidade através do vidro fumê, mas sua mente estava longe dali. Muito longe.

 Os olhos, fixos em um ponto qualquer da paisagem, não viam os prédios ou as pessoas que passavam. Ele ainda enxergava ela. A nova gerente geral. A mulher que, até duas horas atrás, era apenas um nome em um e-mail interno.

 Lívia Montecchia.

 O nome soava nítido em sua mente. Tinha firmeza, sonoridade. Como ela. Racional, articulada, estrategista. Apresentou uma análise detalhada do grupo Castellan com uma segurança que ele não via há tempos em um profissional de alto escalão. Ela não apenas conhecia os números — dominava as entrelinhas. E isso o intrigava.

 Heitor era acostumado a lidar com pessoas que o bajulavam, que hesitavam antes de falar, com medo de contrariá-lo. Lívia não. Ela o encarou de igual para igual. Sem arrogância. Sem subserviência. Apenas com o peso de quem sabe o próprio valor.

 E isso, definitivamente, o desestabilizava.

 — Você ficou calado demais na saída — comentou o Sr. Alcântara, ao lado dele no carro, rompendo o silêncio. — Não é do seu feitio.

 Heitor desviou o olhar da janela, mas não respondeu de imediato. O diretor financeiro era uma figura experiente, quase como um conselheiro para ele, mesmo que não admitisse em voz alta. Sabia que Alcântara percebia mais do que dizia.

 — Ela é boa — murmurou, enfim. — Muito boa.

 Alcântara assentiu, mas manteve o olhar firme sobre ele.

 — Boa, sim. Mas notei algo mais do que admiração profissional no seu silêncio, Heitor.

 O aviso, embora sutil, era direto. Heitor arqueou uma sobrancelha.

 — Está sugerindo que me deixei influenciar por… uma mulher?

 — Estou apenas dizendo que você é um homem acostumado a ter o controle. E que, às vezes, quando esse controle é desafiado de forma inesperada, há o risco de misturar fascínio com interesse estratégico.

 Heitor sorriu de lado. Um sorriso contido, sem negar nem confirmar.

 — Ela tem uma presença forte. Isso é inegável.

 — E você tem uma história de não resistir a esse tipo de presença — respondeu Alcântara, com um tom neutro, mas firme.

 O silêncio voltou ao interior do carro, mas dessa vez carregado de significados.

 Heitor recostou-se no banco e cruzou os braços. Ainda podia ouvir o tom da voz dela, a forma como articulava cada argumento, a maneira como mantinha a postura mesmo sob pressão. E aquele olhar… direto, sem medo. Como se ela o desnudasse sem sequer se mover.

 Era raro encontrar alguém que não apenas sobrevivesse ao jogo corporativo, mas que o jogasse com maestria. Lívia Montecchia fazia isso. E fazia com elegância.

 Mas não era apenas isso.

 Ela o deixara curioso. Intrigado.

 — Sabe o que me chamou mais atenção nela, Alcântara?

 — Diga.

 — Ela não parece buscar aprovação. Não tenta provar nada pra ninguém. Ela é. Ponto. E isso é raro.

 O diretor lançou um olhar de soslaio.

 — E é exatamente por isso que você deve manter distância. Profissionalismo é o que mantém impérios como o nosso de pé. Misturar desejo e negócios… nunca termina bem.

 Heitor soltou um leve suspiro, cruzando uma perna sobre a outra, como quem pondera o aviso.

 — Acha que não sei disso?

 — Acho que você esquece disso quando está diante de mulheres que te desafiam — respondeu sem hesitar.

 Mais uma vez, Heitor riu. Dessa vez, um pouco mais solto. Gostava da sinceridade de Alcântara, mesmo quando ela o irritava.

 — Não se preocupe, velho amigo. Sei muito bem separar as coisas. Mas confesso que estou curioso. Quero entender mais sobre o que a move. De onde ela veio, o que construiu. Esse tipo de profissionalismo não brota da noite para o dia.

 Alcântara franziu os lábios.

 — Só lembre que curiosidade pode virar armadilha, Heitor. E você tem muito mais a perder do que ganhar se atravessar essa linha.

 — Eu nunca atravesso a linha sem um propósito — ele respondeu, em tom mais frio.

 O carro parou diante do prédio da holding. O motorista desceu rapidamente para abrir a porta. Heitor ajustou o paletó e saiu com passos decididos, mas por dentro, seu pensamento continuava girando em torno de Lívia Montecchia.

 Ela havia deixado uma marca. Uma faísca. E ele sabia, com a experiência de quem já viu muita coisa acontecer no mundo dos negócios e das relações, que aquilo não era passageiro.

 Ainda não sabia o que faria com essa sensação.

 Mas de uma coisa tinha certeza: ela não seria ignorada.

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