Capítulo 3 – Incêndio Silencioso

Incêndio Silencioso

  A noite caiu sobre São Paulo com um silêncio que contrastava com o barulho do dia. No apartamento de alto padrão onde morava com uma amiga há alguns anos, Lívia Montecchia se permitia, finalmente, respirar.

  Tirou os sapatos na entrada, largou a bolsa sobre a poltrona e foi direto para a cozinha. Serviu-se de uma taça de vinho tinto, sem cerimônia. O dia tinha sido longo. Exaustivo. E, ao mesmo tempo, eletrizante.

  Sentou-se no sofá, pernas dobradas sob o corpo, encarando a cidade pela janela ampla da sala. As luzes dos prédios piscavam como constelações urbanas. Mas sua mente não estava ali. Estava em outra sala, em outra vibração, ainda sentindo o calor invisível do olhar de Heitor Castellan.

  “Ele me viu.”

  Não no sentido literal — porque muitos a viam. Mas ele a enxergou. E isso era raro.

  O modo como observava cada palavra sua, o jeito como testava seus limites com perguntas provocativas… havia ali um tipo de tensão que não era apenas profissional. Lívia sentia. E não era do tipo que se enganava com a própria intuição.

  O celular vibrou sobre a mesinha de centro. Ela olhou. Um número desconhecido.

  “Parabéns pela condução impecável da reunião. Não é todo dia que me sinto desafiado. H. Castellan.”

  Lívia leu a mensagem duas vezes. Depois, um leve sorriso surgiu em seus lábios.

  Não era comum ele enviar mensagens diretas. Sabia disso. O homem tinha uma equipe inteira para intermediar contatos. Mas ele escrevera pessoalmente. Curto. Direto. E com um elogio que, vindo dele, soava como uma medalha.

  Sentiu um arrepio subir pelas costas.

  Deixou o celular de lado e tomou mais um gole do vinho. O corpo começava a relaxar, mas a mente… ah, essa seguia em combustão lenta. E, sem que percebesse, sua imaginação começou a tomar formas mais ousadas.

  Heitor... em seu escritório escuro... aproximando-se com aquele olhar firme... as mãos grandes tocando-lhe a cintura, puxando-a com firmeza...

  Os lábios roçando seu pescoço enquanto ele sussurrava que ela o deixava fora de controle…

  Lívia fechou os olhos.

  A cena se desenrolava em sua mente como um filme proibido. Sentia o calor do toque dele, a respiração pesada em seu ouvido, o cheiro do perfume amadeirado misturado à tensão que pairava no ar. Ele a pressionava contra a mesa de reuniões — agora vazia, agora cúmplice — e tomava seus lábios com fome. Nada era suave. Tudo era bruto, voraz, como se palavras fossem inúteis e o desejo, soberano.

  As mãos dele percorriam seu corpo com domínio. Ela sentia cada toque como uma ordem silenciosa. Ele a deitava sobre a madeira fria da mesa e, com movimentos calculados, se despia diante dela. O paletó primeiro. Depois a gravata, lentamente, como quem sabe o poder que tem em cada gesto.

  Ela arfava. O corpo pulsava de antecipação. E quando ele se aproximava, ajoelhado entre suas pernas, Lívia perdia todo e qualquer controle.

  Ele a beijava ali, sem pudores. Como se ela fosse dele desde sempre. Como se quisesse gravar seu nome em sua pele com a língua. Longo. Molhado. Inesquecível.

  Lívia apertou as coxas instintivamente. A taça de vinho repousava agora esquecida. Seu corpo inteiro estava desperto. Tinha calor, latejava por dentro, os mamilos rijos por baixo do tecido leve da blusa. Sentia o ventre se contrair a cada nova imagem que sua mente provocava.

  Agora era ela que o puxava pela nuca. Que o empurrava contra a parede do escritório. Que desabotoava sua camisa e percorria com a boca aquele peitoral firme, tatuado com a palavra “disciplina” em latim, acima do lado esquerdo. Ele gemia baixo, rouco, contido — como se perder o controle fosse ao mesmo tempo um risco e um prazer inegociável.

  Ela sabia exatamente o que queria. E, naquela fantasia, ela tomava. Sem cerimônias. Sentava sobre ele na poltrona de couro, os dois ainda semi vestidos, e cavalgava no próprio ritmo. Sussurrava em seu ouvido que ele não era tão inabalável quanto pensava. E ele... ele a deixava conduzir. O rei do império, agora rendido aos comandos de uma mulher que não se intimidava.

  Lívia estremeceu.

  Foi ao quarto, despindo-se no caminho. Deitou-se nua sobre os lençóis brancos. Os dedos deslizaram entre suas pernas com naturalidade. Não precisava mais imaginar. Estava sentindo. Cada toque, cada pressão, cada estalo de prazer era para ele. Para Heitor. Seu nome ecoava em seus gemidos abafados. Ela gozou com força, o corpo arqueando, o coração acelerado como se tivesse corrido uma maratona.

  Ficou ali, imóvel por alguns minutos, o peito subindo e descendo lentamente. Depois pegou o celular. Olhou novamente a mensagem.

  “Parabéns pela condução impecável da reunião. Não é todo dia que me sinto desafiado. H. Castellan.”

  Respondeu apenas:

  “Desafios são meu combustível, senhor Castellan.”

  E sorriu.

  Porque sabia: a faísca já havia sido acesa.

  E ela estava pronta para jogar com fogo.

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