Capítulo 4 – Missão Cumprida

Assim que a apresentação começa, respiro fundo e deixo que o controle tome conta de cada fibra do meu corpo. Elisa projeta o primeiro slide com segurança. A tela exibe o plano de implementação da Phoenix, com cronograma, metas e resultados esperados nos primeiros seis meses. Tudo está impecavelmente estruturado, desenhado para ser não apenas convincente, mas incontestável.

— Como podem ver — começo, com voz firme — nossa solução opera com inteligência artificial para cruzamento de dados fiscais em tempo real, o que garante não só eficiência, mas também rastreabilidade completa das movimentações. Cada centavo é verificado e categorizado. E mais do que isso: os dados alimentam um sistema de alertas que sinaliza inconsistências antes mesmo que se tornem um problema real.

Apontei para os dados na tela com o controle remoto em mãos. Os números pulam aos olhos: 47% de aumento na eficiência de auditorias internas nas três empresas-piloto com quem trabalhamos. 62% de redução de tempo em trâmites burocráticos. 33% de economia em gastos com correções fiscais.

— Nosso algoritmo é treinado com dados brasileiros, adaptado à realidade tributária do país e validado por um time técnico composto por ex-funcionários da Receita Federal e engenheiros de software com passagens por grandes empresas internacionais.

Olho discretamente para Celso Barreto. Seus olhos estão fixos na projeção. As mãos cruzadas sobre a mesa, mas há um leve tamborilar de dedos indicando concentração. Ele está absorvendo tudo.

— Impressionante — comenta ele, sem disfarçar. — Vocês conseguiram resultados consideráveis com tempo e equipe reduzida. Os gráficos de desempenho realmente superam os da concorrência.

Leonardo se remexe na cadeira. A insegurança é quase palpável, e eu saboreio esse momento como um bom vinho: devagar, com satisfação, deixando o gosto se espalhar antes de engolir. Ele não está acostumado a ser desafiado. Nunca esteve. E agora, está diante da mulher que ele jurava que jamais voltaria a ver no mundo corporativo.

Ele se inclina, tentando recuperar espaço.

— Senhor Barreto, com todo o respeito — começa, o tom ainda polido, mas com uma ponta de desespero disfarçada — os números são apenas parte da equação. A Nexus tem histórico. Confiança construída ao longo de quase dez anos no mercado. Nossa estrutura é sólida, temos mais de cento e cinquenta funcionários, todos com certificações reconhecidas internacionalmente. Trabalhamos com o setor público desde 2016. A Phoenix é, com todo o respeito, uma incógnita.

— Uma incógnita que já provou mais resultado com menos recursos — rebate Elisa com naturalidade. — E que apresentou um plano de auditoria reversa, garantindo transparência ao governo e aos contribuintes. Algo que a Nexus nunca propôs em suas licitações anteriores.

Leonardo a olha, surpreso. Ele não esperava que a minha “assistente executiva” falasse com tanta propriedade. E agora, começa a perceber que subestimou ambas.

Isadora, visivelmente incomodada, tenta intervir:

— Celso, não podemos ignorar que estamos falando de segurança nacional. Qualquer falha, qualquer instabilidade no sistema pode custar caro. Muito caro. A Nexus tem infraestrutura de sobra para garantir suporte 24 horas. E a Phoenix? Vai depender de home office?

Reviro os olhos. Não podia deixar passar.

— A Phoenix não depende de home office, Isadora. Nós investimos em núcleos regionais de atendimento, com servidores próprios e equipe especializada. Nosso sistema já opera com redundância em nuvem e backups automáticos a cada quinze minutos. E quanto à segurança nacional... me diga, quantos ataques cibernéticos a Nexus sofreu nos últimos dois anos?

Ela empalidece.

— Um deles quase comprometeu o sistema de arrecadação da prefeitura do Paraná — completo, antes que ela consiga formular uma resposta. — E sabem por que isso aconteceu? Porque os dados estavam centralizados sem criptografia adequada.

Celso arqueia uma sobrancelha.

— Confirma essa informação, senhorita Isadora?

Ela engole em seco.

— Infelizmente, sim. Mas foram tomadas medidas desde então...

— Medidas paliativas — rebato, sem permitir espaço para justificativas. — A Phoenix trabalha com tecnologia proativa. Prevenção, não reação. Nosso sistema é auditável, adaptável e, acima de tudo, seguro.

Celso faz uma anotação e se recosta na cadeira, os olhos voltando para mim. Há um brilho ali. Um brilho que só vejo quando a vitória está próxima.

— Senhores — diz ele, com um tom de encerramento — agradeço imensamente as apresentações. Ambas as empresas trouxeram propostas valiosas, mas a decisão precisa se basear em desempenho comprovado, inovação e segurança real.

Ele fez uma pausa dramática.

— Sendo assim, declaro a Phoenix Group como vencedora da licitação.

Silêncio.

Um silêncio tão profundo que posso ouvir o som de Isadora apertando os dentes.

— Agradeço a confiança — digo, com serenidade. — Prometo que essa escolha vai se traduzir em resultados visíveis para o Estado.

Celso sorri e se levanta.

— Estarei em contato nas próximas semanas para oficializar o contrato. Parabéns, senhorita Marchesi.

Aperto sua mão com firmeza. Ele se despede e deixa a sala.

Assim que a porta se fecha, Leonardo se levanta abruptamente.

— Você não tinha o direito! — rosna, a voz baixa, mas carregada de fúria. — Não tinha o direito de sair do esgoto e tomar isso de nós. Esse contrato era nosso!

Me levanto também, sem pressa, sem perder a compostura.

— Eu venci a licitação, Leonardo. Quem mostrou mais competência, levou. E se você acha que isso é sair do esgoto, talvez seja porque nunca esteve limpo o suficiente pra entender o que é merecimento.

Ele está vermelho. Quase ofegante.

Isadora se aproxima, mas antes que ela fale qualquer coisa, viro para ela com um sorriso sutil.

— Aliás, Isadora, você deveria me agradecer.

— Pelo o que?

Ela me olha, confusa.

— O nome Nexus, foi escolhida por mim, eu projeitei a empresa que hoje você passeia pelos corredores como a dona, inclusive batizei.

— Foi o Léo quem batizou a empresa.

— Não minha cara, fui eu e o Leonardo sabe disso muito bem.

— Léo? — Ela perguntou e ele assentiu.

Isadora empalidece. Suas narinas dilatam de raiva.

— Agora vive dizendo que é “sua” empresa. Que ironia, não?

— Você é uma...

— Cuidado com as palavras — digo, interrompendo com um tom calmo, porém afiado como navalha. — Ou posso relembrar também de outras coisas que você preferiria deixar no passado.

Ela me encara como se fosse me matar com os olhos. Mas não diz mais nada. Apenas vira nos calcanhares e sai da sala pisando duro, quase rasgando o carpete com o salto.

Leonardo a segue, mas antes de sair, me lança um último olhar. Um misto de ódio, incredulidade e... medo. Sim, ele agora me teme. Finalmente.

Quando a porta se fecha, respiro fundo, sentindo o peso do momento. Viro para Elisa, que está parada ali, com um sorriso contido, os olhos brilhando.

— Primeira missão cumprida — digo, abrindo um sorriso genuíno.

Ela dá um passo à frente e segura minha mão.

— E com estilo, Beatrice. Com muito estilo.

Saímos da sala lado a lado, e eu sorria amplamente, pois estava apenas começando.

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