— E você, Bea... como se sente com tudo isso? — perguntou Lívia, baixando a taça pela metade e me olhando com aquela sinceridade sem floreios que só ela sabia ter.
Fiquei em silêncio por alguns segundos. O tipo de pergunta que atravessa o peito como uma lança não se responde com pressa. Respirei fundo, os olhos perdidos no teto do quarto, sentindo o peso daquela verdade silenciosa que ainda não tinha verbalizado nem para mim mesma.
— Eu... — comecei, ajeitando o corpo no travesseiro — não gostaria de perdê-la. Já perdi meu pai, e aquilo me levou para um lugar escuro por tempo demais. Achei que não sobreviveria. Agora, saber que posso perder minha mãe... mesmo depois de tudo que vivemos, de tudo o que ela me causou... dói.
Lívia não disse nada. Apenas se aproximou e me puxou para um abraço apertado, firme, sem dizer uma palavra. E naquele gesto simples, desabei. Não chorei, não me descompus. Mas senti o nó se desfazendo um pouco. Porque era isso que a dor fazia: se acumulava em silênci