Capítulo 3 – O Primeiro Lance

O saguão do hotel cinco estrelas é um verdadeiro espetáculo de arquitetura e luxo. Mármore polido, lustres de cristal e arranjos florais estrategicamente posicionados tornam impossível não se sentir parte de algo grandioso ali dentro. Cada passo que dou ecoa com precisão, como se o próprio chão reconhecesse a mulher que estou me tornando. Não sou mais uma sombra silenciosa sou o furacão depois da calmaria. E estou aqui para destruir, com classe.

Elisa caminha ao meu lado, impecável em seu conjunto azul-marinho, cabelo preso em um coque elegante e pastinha de couro em mãos. Seu olhar está firme, embora eu perceba o leve tremor de antecipação. Ela sabe o que estamos prestes a fazer. O que está em jogo. Mas, mais do que isso, ela sabe que isso não é apenas uma reunião corporativa. É uma declaração. Um aviso.

A recepcionista nos recebe com um sorriso polido.

— Bom dia. Posso ajudá-las?

— Temos uma reunião com o representante do Governo de Minas Gerais e a diretoria da Nexus. Phoenix Group. Nome da reserva: Elisa Fontes — respondo, antes que Elisa diga qualquer coisa. Gosto de deixar claro quem manda, mesmo quando jogo com sutilezas.

A mulher confirma os dados no sistema e faz uma ligação breve, informando nossa chegada. Logo em seguida, um funcionário do hotel nos conduz por um corredor silencioso até uma sala privativa no andar executivo. As portas de vidro fosco estão fechadas, mas consigo ouvir as vozes abafadas do lado de dentro. Uma delas, eu reconheceria mesmo depois de mil anos.

Leonardo.

Pego a mão de Elisa e a seguro por um breve instante, olhando em seus olhos.

— Você sabe o que fazer, Elisa. Mantenha a postura. Fale com firmeza, mas não revele demais. Que eles pensem que você é apenas o rosto da Phoenix. Deixe que a subestimem.

Ela respira fundo, assente e se recompõe. Caminha até a porta e entra.

Me mantenho do lado de fora, recostada na parede de mármore branco, observando meu reflexo no vidro espelhado. O vestido vinho que escolhi hoje é sóbrio, mas marcante. Ombros estruturados, corte impecável, salto agulha. Minha maquiagem é sutil, com exceção do batom vermelho, minha armadura. Meus olhos brilham com a fúria silenciosa de quem esperou, planejou e renasceu.

Do lado de dentro, as vozes se tornam mais claras agora que a porta foi aberta.

— Sinceramente, Sr. Barreto — diz Leonardo, com aquele tom sedoso de quem acha que controla tudo — a Nexus tem quase uma década  de experiência nesse setor. Somos pioneiros em soluções tecnológicas de integração fiscal. Essa tal de Phoenix apareceu do nada. Sem histórico, sem portfólio conhecido. É arriscado demais para um contrato desse porte.

— Concordo plenamente — acrescenta uma voz feminina enjoada, melodiosa demais para ser sincera. Isadora. — Só o nome já parece uma loja de brinquedos, não é? “Phoenix Group”... A verdadeira responsável pela empresa nem teve coragem de vir. Deve estar morrendo de medo de competir com uma gigante como a Nexus.

— Bom dia a todos. — ouço Elisa dizer, com elegância contida. — Meu nome é Elisa Fontes, assistente executiva da Phoenix Group. Estou aqui representando nossa diretoria na primeira parte da reunião.

Silêncio.

Um silêncio desconfortável.

Consigo imaginar os olhares trocados, a surpresa contida. E então...

— Oh, então é você a responsável por esse teatrinho corporativo? — Isadora provoca, com aquele veneno mal disfarçado que só pessoas inseguras sabem destilar. — E a dona de verdade? Onde está? Escondida atrás da cortina, com medo de enfrentar os tubarões?

É o meu momento.

Abro a porta com calma. Cada passo que dou ecoa no piso de madeira clara como se o mundo estivesse se curvando ao meu redor. Leonardo está sentado à cabeceira da mesa, olhos fixos em Elisa, mas sua expressão muda bruscamente ao me ver. Sua mandíbula relaxa, os olhos se arregalam. Isadora vira o rosto, e sua boca se contorce num riso forçado que dura menos de dois segundos.

Me aproximo com a postura de quem está prestes a comprar o edifício inteiro. Paro diante de Isadora, mantendo minha expressão impassível.

— Phoenix representa renascimento. Um lembrete de que toda vez que tentam me destruir, eu volto. E volto mais forte.

Leonardo ainda está boquiaberto. Sua voz sai num sussurro quase trêmulo:

— Beatrice?

Viro para ele, olhando diretamente em seus olhos.

— Sim. Beatrice Marchesi. Fundadora, CEO e alma da Phoenix Group. 

O representante do governo, um homem alto, grisalho, de terno bem cortado, se levanta com um sorriso intrigado.

— Senhorita Marchesi. Prazer em conhecê-la pessoalmente. Sou Celso Barreto, diretor de operações tecnológicas do Governo de Minas Gerais. Tive acesso ao seu dossiê de apresentação. Impressionante.

Aperto sua mão com firmeza, sustentando o olhar.

— O prazer é todo meu, senhor Barreto. Agradeço a oportunidade de apresentar um novo caminho. Mais eficiente, mais transparente e sobretudo, mais comprometido com os resultados que esse projeto exige.

Celso indica uma das cadeiras para mim, e me sento com a serenidade de quem está no controle. Elisa se senta ao meu lado, e por um breve instante, trocamos um olhar cúmplice. Ela foi perfeita. Cumpriu seu papel como esperado.

Leonardo, ainda atordoado, tenta recompor a postura, mas o estrago já foi feito. Isadora cruza os braços, visivelmente irritada, tentando recuperar o controle da narrativa.

— Bem — diz Celso, retomando o ritmo — agora que todos estão aqui, podemos começar. Esta reunião é para esclarecer propostas, revisar cronogramas e entender a visão estratégica de cada empresa para este projeto de digitalização fiscal. O contrato é bilionário. E o Estado precisa de garantias, não de promessas vazias.

Eu sorrio, leve, mas firme.

— Sr. Barreto, a Phoenix não oferece promessas. Oferece transformação. E resultados auditáveis em seis meses. Posso provar com dados, se me permitir.

Celso assente, e a reunião, de fato, começa.

Enquanto os números são apresentados, os gráficos projetados e os argumentos lançados de cada lado, minha mente permanece afiada. Cada fala minha é uma flecha. Cada olhar de Leonardo, um lembrete de que ele não me conhece mais. E nunca mais vai me subestimar.

Ele se esqueceu de quem eu era. E agora vai aprender quem eu me tornei.

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