A terra estremeceu em um lugar distante, os pássaros cessaram seus cantos, e o vento recolheu sua brisa, restando nada além do vazio.
No coração de um antigo mausoléu, o portal a muito tempo esquecido voltou a pulsar com energia sombria, a pretura contorceu ganhando forma. Criaturas emergiram uma a uma, algumas com corpos esqueléticos, com pele derretida e enegrecida, olhos brilhando em um vermelho intenso, como brasas ardentes, que exalavam uma presença aterradora, os rostos estavam contorcidos em um sorriso macabro, revelando dentes afiados feitos para rasgar carne, assim como as mãos enormes que se fechavam em garras
Outras criaturas eram ainda mais grotescas, rastejando para fora das sombras como se estivessem sendo expelidas pelas entranhas do próprio inferno. Estes pareciam flutuar sobre o chão, os olhos eram órbitas vazias e seus corpos não obedeciam a uma forma definida.
— Bem-vindo ao mundo novamente — uma voz irrompeu como um trovão abafado.
Algo diferente emergiu interrompendo a saudação . Não era uma aberração grotesca igual as outras.Esta era uma figura alta, envolta em um manto negro feito de penas escuras. Por baixo da vestimenta, uma armadura dourada refletia o brilho pálido do portal, destacando-se um vestígio de glória perdida. Seu rosto permaneceu oculto sob o capuz, mas seus olhos… ah, seus olhos. Brilhavam em tons vibrantes de amarelo e vermelho.
— Senhor… — sua voz gorgolejou, um som viscoso — Como forma de gratidão por nos libertar. Ofereço-lhe a minha obediência. E a de todo o meu exército.
Ele abaixou ainda mais a cabeça, enquanto as demais criaturas o seguiam, curvando-se diante daquilo que os havia trazido de volta.
— Isso sim é uma recepção digna — Uma gargalhada perversa de satisfação preencheu o silêncio. O som reverberou pelas sombras, fazendo até mesmo as criaturas mais letais se encolherem.
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Em uma sala de pedra, onde a luz mal penetrava, uma mistura de dor e angústia ressoava entre gritos abafados.
Dariel estava deitado em uma cama de ferro, sua figura pálida estava coberta apenas por lençois brancos que destoavam com as manchas de sangue que fluíam demasiadamente de seu corpo. O suor escorria por sua pele, um reflexo do tormento que o consumia. Havia cortes em seus lábios e braços, mas era o rasgo profundo em sua barriga que ameaçava puxá-lo para a escuridão, como se sua vida estivesse se esvaindo em cada respiração.
Ele não se lembrava de como fora atingido, nem mesmo de como havia chegado ali. As últimas memórias que sua mente confusa conseguia alcançar eram fragmentos de uma batalha violenta, corpos caindo, som de espadas, sombras e gritos. O cheiro de ferro e morte ainda impregnava em sua pele..
Um homem que aparentava ser mais velho do que realmente era se aproximou. Com um olhar de preocupação, segurava um copo com ervas. Ele sabia que o que tinha em mãos não era suficiente para curar uma ferida daquele tamanho, mas era tudo que podia oferecer enquanto aguardava o retorno do ancião para salvá-lo.
Dariel sentiu o líquido verde e amargo ser forçado por sua garganta seca. Tossiu, mas não teve forças para resistir. Assim que a poção desceu, uma onda de sonolência tomou conta dele. O mundo ao seu redor começou a se desfocar, e a dor, por um breve momento, se diluiu em espasmos. As sombras dançavam ao seu redor, e ele se viu mergulhado em um estado de semi-consciência antes de apagar por completo.