Implore.

Um choque percorreu seu corpo mais de uma vez. Primeiro, ao sentir o toque frio do homem em lugares nunca antes tocados. Segundo, ao ouvir suas palavras cheias de malícia e adiantamento... Nadine rapidamente se levantou, quase se lançando da cadeira com muita agilidade ao se afastar do tenebroso — e memorável — homem.

​— Como pode isso? Por que você iria querer casar com uma princesa de um reino de luz, quando seu reino é definitivamente algo das sombras? — Ela se segurou no próprio vestido, que era bem volumoso.

​— Imaginei que reagiria desta maneira. É claro que para uma princesa tola não existe um modo exato de enxergar tamanhos benefícios que um reino como o meu pode trazer ao seu.

Ela não demonstrou qualquer tipo de raiva ou coisa assim; na verdade, ficou sem entender muito bem o que ele disse...

​Uma risada feminina divertida ressoou na sala, quando Johan viu a cadela de antes lambendo um prato.

​— Eu falo a língua de qualquer humano. Dito isso, você está falando engraçado demais para ela entender, moço.

​— Lua!

​— Ele começou! — Ela lambeu a pata, ignorando os dois em seguida.

​— Tenha modos, dama!

​— ... Sua cadela acabou de falar. — Apontou ele, totalmente cheio de dúvidas.

​— Os animais da sua terra não falam?

​O silêncio do vampiro faminto pairou e pesou sobre os ombros dela... "Que animais?" Todos eram devorados? Ela não viu nenhum pelo castelo, como era em sua casa.

​— Resumidamente, traga para mim o seu pai, assim podemos conversar. Mas, para que você não fique totalmente sem norte, é simples... Eu sou a ameaça, o rei vampiro que ameaça e elimina seus exércitos. — Assim ele encerrou o assunto.

​A graça desapareceu com as palavras que escorregavam de sua boca. Ela apertou ainda mais o vestido.

​— Mas eu posso parar com tudo isso. — Ele se aproximou, segurando no queixo da mesma com certa calma e firmeza ao mesmo tempo. — Posso resolver todos os seus problemas... E os problemas do seu reino. Sou rico o suficiente para isso, e tudo que tem que fazer em troca é aceitar o meu pedido antes que eu traga seu pai para acertarmos os detalhes.

​Ela se soltou rapidamente e se afastou dele, cruzando os braços... Respirou fundo, pensando nas responsabilidades...

​— Quanto tempo eu tenho para decidir? — Perguntou, enquanto seus ombros caíram devagar.

​— Exigente, você... Tem até as próximas três luas, às cinco da tarde. Nada mais, nada menos.

​— Eu... Lhe darei a resposta quando for a hora certa, pois um monstro como você não tende a ser um bom marido. — Ela fixou o olhar em um ponto específico da madeira da janela, pensando até a cabeça doer.

​Ele deu dois passos para a frente. O comentário não o deixou feliz, mas sentiu algo. A cadela repentinamente estava na frente da donzela.

​— Podemos jantar? — Nadine disse de forma firme, mas por dentro estava desesperada. E para ele era isso que contava; ele podia sentir o que causou nela.

​Ele arrumou o terno preto, endireitando a postura, delicadamente bordado com linhas vermelhas, e se sentou em seu lugar. Quando ela se aproximou da cadeira, ele moveu a mão e a cadeira se afastou lentamente para que ela pudesse se sentar. Não demorou para que os servos de Johan servissem a mesa. Mas, obviamente, não colocaram nada perto de Johan. Os vampiros que serviam seu mestre pararam próximos à parede, observando ansiosos.

​Nadine estava tremendo. As histórias que contaram sobre sanguinários vampiros não contavam com o detalhe do desejo deles se tornarem maridos de alguém ou algo do tipo. Mal falavam de sua inteligência, generalizando a espécie Nosferatu para todos os outros tipos de vampiro. Johan, por sua vez, seguiu apenas observando, bebendo de sua própria taça.

​Quando ela comeu, por segundos até se esqueceu de onde estava ou com quem. Com um doce sorriso, ela olhou para Lua, que já comia.

​— Está gostoso. Eu gostei de verdade. Fazia tempo que eu não comia algo bom assim; os homens do exército eram um tanto desengonçados com a cozinha. — Ela disse com educação.

​Sussurros começaram entre eles ali, sorrisos e comemorações baixas dos vampiros que apostavam entre si quem fazia a melhor comida humana.

​Mas isso logo acabou.

​— Silêncio, saiam já daqui. — Johan rosnou a ponto de fazer até a própria garota se encolher de susto.

​Ele era maldoso, intolerante; as marcas de ferimentos em seus lacaios provavam isso. Johan se levantou depois que tudo acabou e começou a andar na direção da cozinha, depois de pedir educadamente licença.

​Essa noite não se arrastou muito, pois quando Nadine foi levada para o quarto, onde não pôde descansar até estudar os sigilos de proteção que bloqueavam suas magias, pegou no sono deitada na mesa que havia perto da janela.

​No dia seguinte, já na cama, bem pela manhã, ela acordou levemente confusa. Todo o castelo estava em silêncio, mas o clima lá fora não mudou de forma alguma: ainda era tempestuoso. Apesar disso, o sol ainda entrava pelas frestas mais finas, distante, luz que persistia além dos relâmpagos.

​"Como eu estou na cama?", pensou a bruxa, procurando ao redor pistas de Lua.

​Ao levantar os olhos, Johan estava de pé seus cabelos penteados para tras e um roupão de cor verde de luxo caia sobre seu corpo, lendo seus livros e estudos do dia passado.

​— O... O que você está fazendo aí? — A garota ficou nervosa, ansiosa com certeza.

​— Imaginei que ficaria curiosa sobre seus poderes... Mas é bem mais simples do que um sigilo, sabia? Posso até te mostrar.

​A menina se cobriu com as cobertas, um pouco mais assustada de verdade.

​— Você não pode entrar dessa forma... — A voz rouca de sono incitou Johan, que a olhou com uma expressão predadora.

​🖤 POV de Johan

Os olhos de mel refletem a doçura medrosa escondida por detrás daquela marra forçada... Seu coração b**e forte, e isso me atrai tanto quanto o correr de seu sangue, se não mais... Tocar o calor de sua pele me fez sentir algo novamente, então decidi que ela será minha, e nada poderá mudar isso. E agora ela está na minha frente dizendo o que eu não deveria fazer....

A expressão de raiva dela me leva a crer que eu fiz algo errado... Mesmo que ela não esteja em posição de fazer exigências, e eu deveria deixar isso claro.

​— Você sabe que não é uma simples convidada, certo? — Fechei o livro com apenas uma mão e deslizei ele pela cômoda onde ela estudava.

​Preciso ser firme com ela. Ela não pode entender que pode ter algum poder aqui caso passe por cima da minha vontade... Melhor influenciar o medo. Eu senti algo, e só vou deixar essa garota em paz o dia que eu descobrir o que foi isso...

​— Você é, com certeza, mais valiosa que um humano qualquer, mas rapidamente posso mudar isso na minha própria concepção, fazer você ser esquecida entre os mortos do corredor, como todos os outros que eu mando para lá. — Por enquanto mantenho minhas mãos no bolso.

​Passo após passo, me aproximo da mesma com calma, respirando devagar e fundo. Ela não podia prever meus movimentos sem poderes; isso me dá uma vantagem sobre ela.

​— E-Eu... Calma... Não precisa fazer dessa forma também. Eu não represento perigo algum, pelo jeito... — Ouvi ela dizer, ficando ligeiramente assustada.

​Toquei seu braço, envolvendo-o e puxei-a para mim, na direção da minha cintura. Com a outra mão segurei sua nuca, me aproximei do maldito cheiro de sangue prateado que essa garota tem. Era quase um pedido. O calor de sua pele, adocicada... O autocontrole tinha de ser poderoso, e no meu reino, lotado de vampiros sedentos por esse banquete? Eu tinha que tomar cuidado, até comigo mesmo.

​— ... Não se preocupe, madame... — Depositei um beijo lento em seu pescoço após sussurrar, mas fiquei satisfeito fortemente ao ver sua pele arrepiar de perto e a delicada pele do rosto corar... E me afastei até seus olhos.

​Aquele mel, eu sabia que não estavam só nesses olhos...

​— Isso só vai acontecer se você fizer algo errado. Eu sei que pode ser uma boa menina...

​Eu podia ouvir seu coração, senti sua pele esquentar num misto de sensações, e seu cheiro implorava por mais, mas mais o quê? Eu não sei... Ainda. Mas garanto que vou descobrir.

​— Eu vou obedecer você, desde que proteja minha família de você mesmo. Eu vi o que você é capaz, quantos homens matou sem nem sequer se alimentar. Não entendo por que é tão psicopata.

​Assim como acendi algo nela, ela me acendeu com essas palavras. Fiquei mais atento, e sem sangue correr no meu corpo, senti um arrepio quente, algo que não sentia há mais de cinco décadas.

​— Você pode ser doce, mas posso ver o quão afiada também pode ser. — E isso me instiga, mais do que eu gostaria. Não se deve apegar-se à comida...

​— Não se preocupe. Seu reino ficará bem. Tudo que tem que fazer é enviar uma carta. Deixarei aqui uma coruja. Ela já está com as coordenadas até sua família. Não tente mandá-la para outro lugar, ela não vai. Partirá essa noite com qualquer coisa que você mandar por ela.

​A coruja pousou na janela. Sorri para a metamorfa que agora portaria algo importante, e era de minha confiança.

​— Ah, sim, não tente nada. Eu saberei, e mais vidas vão sofrer por sua causa. Seja casta, e eu vou te tratar como a princesa que realmente é. — Então me afastei, dei alguns passos para trás, deixando-a com a sensação do beijo frio em seu pescoço, como um lembrete...

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App