Cai a tempestade.

Após muito tempo ameaçando, a chuva começou a cair. As gotas alagavam a grama lá fora, e o cheiro do orvalho fresco tomava conta do quarto de Nadine assim que a noite mais profunda caía.

Este era o lar do rei vampiro. Lá fora, as casas se acendiam. A maioria das criaturas era noturna, e a noite era como seu dia: Lobisomens, vampiros e vários outros tipos de bestas, como costumávamos falar. O lugar se encheu de vida, mesmo que não fossem exatamente vivos.

A cidade tinha um estilo vitoriano antigo, mas muito bem construído, com canais e casas de pedra. Navios mercantes vinham — não tantos e tão cheios quanto os de Faldonia — Mas os piratas vinham em massa e agiam com respeito na cidade do rei Johan. Nadine assistia a tudo isso na janela, enquanto Lua dormia de barriga para cima em algum ponto do quarto.

Foi quando três batidas na porta perturbaram o silêncio.

— Senhorita Nadine? — A voz era delicada.

Ela questionou-se levemente, mas abriu a porta.

A mulher que estava do outro lado era linda, não havia como descrevê-la de outra forma. Tinha cabelos brancos e cinzas misturados com várias penas de coruja.

Seus olhos eram grandes, redondos e pretos, sua pele era coberta por penugem e seus traços eram finos e bem retratados, como um pássaro. Ela vestia uma capa com penas até onde se via.

— Olá...? — Nadine já estava desconfiada de forma clara, afinal, toda a sua vida agora estava diferente.

— Eu sou Carcará, a coruja que ontem levei sua mensagem. — Disse baixo, mas o suficiente para que ela escutasse.

— Entre! Ele já te viu chegar? — A bruxa rapidamente puxou-a para dentro, fechando a porta para que ninguém visse.

— Ele tem olhos em todos os lugares, já deve saber que eu cheguei. — Suas penas se arrepiaram de susto ao ser puxada. Ela se encolheu, preocupada.

— Droga... Tá, mas, me diz, como foi a reação do meu pai à mensagem? O que ele respondeu?

— Ele me ameaçou e me atacou, mas quando pegou a mensagem, disse apenas que viria dentro de uma semana, junto do príncipe e de uma comitiva para negociar. Vi sombras em seus olhos... — Ela disse, enquanto um som baixinho de coruja ressoou de sua garganta, desprendendo-se do peito, preocupada.

— Ai que droga... Imagino que ele vai arrumar confusão...

— Ele parecia tão disposto quanto o príncipe a fazer isso. — Ela sussurrou, quando três toques na porta quebraram a imersão das duas.

Carcará se levantou rapidamente, ficando distante de Nadine quando uma armadura daquelas entrou no quarto.

— Senhorita Nadine e Senhorita Carcará, o Rei Johan as convida para tomar café nos Jardins de Inverno no primeiro andar do castelo. Não, não é uma opção. As vestes de escolha estão nos armários para a senhorita Nadine. — Era apenas uma voz vazia falando. A bruxa interior da mulher ficava curiosa em saber que tipo de feitiço era aquele que dava vida as armaduras.

As coisas ficaram geladas com o nervosismo, que superou a curiosidade. Ela acenou que sim, e a armadura se despediu, saindo. Em seguida, a pequena bruxa se levantou, indo para o armário.

— Você deve saber a intenção real do vampiro comigo. Diga-me, morrerei em breve? — Ela suspirou fundo, em um tom de aceitação de destino.

A coruja se encolheu um pouco e se aproximou, ajudando a menina a vestir o vestido como desculpa para estar mais perto e dizer o que ia dizer.

— Tem uma grande chance, senhorita, de você partir em um dos rituais de extração de sangue do Rei Johan... — Ela comentou baixo. — Mas também pode demorar a acontecer.

— Certo... — A verdade era que aconteceria, mais cedo ou mais tarde. — Mas ele vai mesmo deixar meu povo em paz? — A mesma afundou a ponta dos dedos no vestido dentro de seu armário, respirando fundo. — Caso eu me case?

— Desde que seu povo, o rei e o príncipe cumpram com os acordos, sim. Ele deixará em paz e ajudará seu povo a prosperar. — Ela dizia baixo, e então a menina terminou de se vestir.

O tempo lá fora não estava dos mais bonitos para pessoas comuns, mas para pessoas que gostam de trovões, escuridão e tempestades, o tempo estava maravilhoso. A menina andava lado a lado com Carcará, enquanto Lua vinha logo atrás. No lugar determinado, a mesa estava posta, e Johan estava de pé. Em seu braço havia um corvo muito bonito e grande, que comia alguma caça da mão do rei.

— Bem-vindas — Ele disse sem olhar para trás. — Como vão as garotas mais importantes deste castelo?

— ... Vou bem, majestade... — Carcará disse baixo. Em seguida, ela se transformou. Sua capa virou suas asas, e a coruja voltou a aparecer, pousando no poleiro do jardim.

— Eu vou ficar bem — Nadine disse, afiada, nervosa. Ela imaginava que ele não iria esperar o pai chegar para fazer o primeiro ritual.

— Vi a resposta de seu pai e seu irmão — Ele destacou, falando baixo. — E sei que você também já viu. Que tipo de comitiva acha que ele trará?

— ... Apesar de meu pai ser tolo na escolha dos inimigos dele, eu acredito que ele não é tolo o suficiente para vir às suas terras representar qualquer risco, mesmo que mínimo.

A bruxa finalmente entrou no jogo dele. Ela decidiu que a melhor forma de começar alguma coisa contra Johan era se aliando a ele por agora e concordando, assim inflando seu ego. Pelo menos era o que ela estava pensando.

Mas Johan já sabia disso.

— Olha só quem decidiu enxergar algumas verdades... O que mais me preocupa não é o seu pai. — Ele disse, se aproximando dela depois que o corvo voou. Ele puxou a cadeira, perto o suficiente dela para o fazer.

— Por que meu irmão? — Ela ficou curiosa na hora.

— Seu irmão não tem o mesmo poder que você, mas sei quanto ele treina e vem se preparando para se tornar um grande caçador e general. — Ele disse com um tom suave, sem demonstrar emoções.

— Desde que nasceu, ele tem esse amor pela morte. Não vou dizer que isso não se tornou uma preocupação para meus pais — Ela desabafou um pouco, mas sentiu o toque dele em seus cabelos, logo atrás dela, e seu rosto ganhou um rubor diferente até mesmo para ela.

Ele afastou seu cabelo, acariciando seu pescoço.Um arrepio percorreu seu corpo levemente.

— Nunca preocupou você o tanto que ele te inveja?

As palavras de Johan envenenaram lentamente seu coração, enquanto ela abaixava o rosto, pensando.

— Ele era o rei sucessor. Caso você se case, você se torna rainha, e mesmo se não casasse, estaria em primeiro lugar na linha, caso ele não se casasse... — Ele passou as unhas afiadas sobre sua pele macia, parecendo testar, mas ela não sabia o que poderia estar testando.

— Ele nunca demonstrou... — Ela sussurrou.

— E ele já falou com você sobre o reinado?

— Não... Para mim, isso é mais que o suficiente.

Ela se encolheu lentamente. Então ele parou em sua frente, colocando uma caixinha grande de veludo diante dela.

— Abra. Tenho esse presente para você desde antes mesmo de te conhecer. Eu sabia que seria seu. — Ele empurrou a caixinha.

Apesar de relutante, Nadine tocou o veludo da caixinha preta, e quando a abriu, um colar muito bonito de prata e com pedras vermelhas estava ali. Com delicadeza, ele pegou o colar, envolvendo-o no pescoço da bruxa, que em silêncio sorriu...

Ele fechou o colar em seu pescoço, fazendo um carinho ali.

— Ficou perfeito na sua pele... Quase como sangue.

Ali, naquele momento, Nadine imaginava ou tentava imaginar ou se lembrar de algum momento onde Taddeus, o seu irmão, poderia ter alguma raiva ou demonstrado algo, mas não lhe veio nada à cabeça. Johan plantava esse tipo de semente, mas também conhecia a verdade que estava completamente escondida da bruxa. Ele sabia que o irmão dela era perigoso e estava tentando proteger a mente de Nadine primeiro, pois sabia que eles estariam em sua terra em breve.

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