((Dante))
Eu sempre preferi o silêncio.
Não o silêncio que sufoca — o silêncio que permite pensar, observar, medir o terreno.
O silêncio que antecede a ação.
Naquela noite, porém, o silêncio era outro.
Era pesado.
Denso.
Elástico.
Como se a própria casa segurasse o ar, esperando o que ainda não tinha nome.
Vitória dormia no meio da cama, abraçada ao ursinho que dei a ela no aniversário. A luz fraca do abajur deixava o rosto dela iluminado, macio… inocente.
E era essa inocência que me apertava o peito de um jeito que nenhuma batalha jamais conseguiu.
Eu estava sentado ao lado dela quando Enzo entrou devagar, sem fazer barulho. Ele não disse nada. Só sentou do outro lado, como fazia quando éramos meninos — um de cada lado, guardando aquilo que era precioso.