(( Dante ))
Eu costumava pensar que meu pai era feito de pedra. Um monumento de orgulho, silêncio e ferro. Mas naquela tarde, sentado ao lado dele no jardim de inverno, percebi que até as rochas um dia se desgastam com o tempo.Ele estava lá, como sempre, entre as hortênsias que minha mãe cultivava e ele nunca deixou que morressem, as mãos calejadas regando as flores com um cuidado que me parecia quase inconveniente para um homem como Vittorio Montanari. Um gesto herdado. Um ritual. Me aproximei em silêncio, sem saber como começar a conversa que me queimava por dentro há semanas. Ele notou minha presença antes mesmo que eu dissesse algo.— A água certa meu filho, na raiz certa, e a flor nunca trai o jardim — disse ele, como se fosse um provérbio antigo.— Mas a gente trai meu filho. Por medo. Por amor. Por silêncio.Me sentei ao lado dele. O som das gotas molhando a terra preenchia o espaço entre nossas palavras não ditas.— Eu t