O Grito da Terra
Rafael parou diante do antigo sobrado, o olhar perdido entre as rachaduras das paredes e os cipós que escorriam como veias vivas pelas janelas abandonadas.
A estrutura parecia respirar, como se guardasse dentro de si um lamento antigo, um choro abafado por décadas de esquecimento.
Ele sentiu um frio subir pela espinha, e não era apenas o vento úmido que soprava do leste.
Era algo mais profundo.
Uma presença.
Um chamado.
As folhas secas estalavam sob os passos de Ana Luísa enquanto ela caminhava ao redor do velho armazém, absorvendo o peso do que haviam acabado de encontrar.
O céu, antes meramente nublado, agora parecia se fechar sobre eles, uma espessa cortina de nuvens acinzentadas prestes a rasgar em chuva.
Ana se aproximou devagar, os passos leves sobre a terra molhada.
Os olhos dela, atentos, exploravam cada fresta, cada sombra, como se buscassem a si mesma dentro daquela casa.
O cheiro de mofo, terra molhada e ferrugem a envolveu como um manto