CAPÍTULO 4

“É melhor viver um dia como um leão do que cem anos como um cordeiro”

John Gotti

Dois dias depois, Hades estava observando o caixão do seu pai descer para a cova no cemitério privado aos homens de honra da famiglia.

— Nem pude vê-lo agonizando — Perseu falou em um tom baixo.

O sereno da chuva estava se intensificando e as pessoas — principalmente mulheres dos seus primos — estavam erguendo os guarda-chuvas.

A luva que ele nunca tirava coçou seu maxilar olhando para o movimento do caixão sendo colocado no fundo do jazigo pelos coveiros.

— Agora vocês estão cientes do que me espera — Hades proferiu murmurando, a terra cobria o caixão mais caro da funerária.

— Vendetta — Hefesto proferiu entre dentes. Desde que viu a irmã caçula ele estava levemente alterado, deixando sua raiva transparecer e o seu ódio explícito.

— Exato — Nem todos dos irmãos estavam ali, mas a famiglia sentiu o poder dos três que estavam ombro a ombro sem tirar os olhos do caixão, os irmãos de suspensório definitivamente estavam de volta.

Hades viu nos olhos dos primos mais distante a descrença de se tornar um homem de honra novamente, aquilo nunca tinha acontecido e os homens daquela famiglia sabiam que nunca iria acontecer novamente.

— Vocês estão sendo a sensação do enterro — Sua prima Katrina apareceu com os olhos brilhando e um sorriso perfeitamente alinhado. Hades ergueu uma das sobrancelhas ao ver as vestes de um macacão de látex preto grudado em todo o seu corpo realçando suas curvas.

— O prazer da sua vida é ver seu pai morrer lentamente de um ataque cardíaco, não? — Os olhos escuros da moça cresceram igual ao de um gato e o brilho assassino fez charme no seu sorriso.

— Qualquer oportunidade de fazê-lo se irritar eu faço com o maior prazer — A voz de Katrina se tornou aveludada e ela se virou para ficar do lado de Perseu.

— Hermes já sussurrou no ouvido da mamãe que irá te fazer engolir essa roupa — Belial abraçou os ombros da sua irmã e ela se aconchegou nos braços em forma.

— Quantos segundos ele demorou? — A boca do seu primo se entortou e Katrina sorriu satisfeita.

— Está me devendo 5 mil euros — Belial suspirou.

— Assim eu vou ficar falido — Katrina deu uma risadinha baixa e olhou para Hades que estava no meio dos seus irmãos. — Não sei nem por que ainda aposto com você. Você sempre ganha.

— Primo, agora que você é o Don, não pretendo me casar, não é? — Hades olhou para Katrina em silêncio e deixou que isso fosse uma resposta que ela entendesse.

Se fosse necessário casar Katrina em prol da famiglia, ela teria que ir para o seu destino sem se contentar. Sendo Don da Costa Nostra, o papel de casamenteiro também vinha com o cargo.

— Hades — Olhos azuis se voltaram para a mulher com a postura rígida sendo cercada pelos braços do irmão.

— Você não me serve casada Katrina — Hades tinha planos de mandar Drago e Katrina em busca do estuprador de Ártemis.

O melhor assassino e a melhor rastreadora trabalhando juntos.

Sua prima ficou em silêncio enquanto o coveiro amassava com a pá a terra mexida para ficar uniforme. Depois de alguns minutos todos estavam se direcionando para os carros e indo para a mansão D'Angelo.

Os três dos seis irmãos olharam todos se afastando quando o enterro acabou, dois soldados e homens de honras com o cargo mais elevado ficaram com o Don.

— Encontramos vocês lá — Katrina se despediu dos três primos erguendo o queixo e puxou seu irmão Belial para fora do círculo que estava se formando entre os mais bem requisitados.

Alguns soldados solteiros se ousaram dar uma segunda olhada em Katrina, que desfilava com o seu salto agulha no meio dos túmulos recentes.

— Sem querer ser rude, devido a tal situação, creio que você já se decidiu o que irá fazer — Um dos capos do seu pai lhe disse olhando para Hades com o semblante neutro. Hades ainda não era Don, o termo usado sem respeito não iria fazer a menor diferença para a famiglia.

— Meu sobrinho sabe dos seus deveres e não está fugindo disso Pagano, somente hoje e agora, não é o lugar para discutir isso — Hermes falou entre dentes confrontando Pagano de frente.

Hades só iria ser considerado homem de honra novamente quando anunciasse a vendetta em público, mas no momento ninguém sabia dos seus planos a não ser Drago.

Hades viu cada um aceitar a ordem direta do consigliere da famiglia e um por um foi se distanciando para longe.

Os olhos de Pagano fixaram em Hades antes de dar um breve aceno para Hermes que não mexeu um músculo nos próximos minutos.

— É um prazer estar de volta aos negócios — Hefesto disse com um sorriso zombeteiro para Hades que colocou as mãos nos bolsos e caminhou calmamente para o seu mais novo carro.

*****

A mansão D'Angelo estava cheia, igual as antigas lembranças de Hades, ele bebeu o pouco do seu whisky rodeando o grande salão, ninguém o via quando ele estava no segundo andar observando a pequena reunião se formar.

— Mesmo sendo cego consigo ver as engrenagens da sua cabeça rodando. — A voz baixa e rouca soou a alguns metros de distância.

Hades se virou apenas para ver o seu irmão Pan, a blusa social branca com o suspensório preto fez os lábios de Hades se repuxarem poucos centímetros. O pano preto que cobria seus olhos fez o italiano se lembrar de um dos motivos que ele juntou todos os seus irmãos para fugirem.

Mesmo sendo cego, Pan poderia ser letal se quisesse. O corpo bem construído e os músculos em forma fizeram Hades perceber que ele nunca tinha parado de se exercitar.

— Ainda não desceu, imagino eu — Pan negou com a cabeça, se Hades não tivesse visto o momento que Pan ficou cego ou a venda preta em seus olhos ele poderia jurar que seu irmão sempre enxergara. Os passos silenciosos e estratégicos do seu irmão se aproximaram dele.

— Não me dou bem com barulho ou multidões. — Hades sabia disso, esteve ao seu lado quando o ouvido de Pan se tornou tão sensível que o disparo de uma arma se tornava o caos. — Quem falta?

— Apolo.

— Os velhos irmãos dos suspensórios voltam às origens novamente — Hades soube que o treinamento endureceu todos os seus irmãos.

Hades sempre comparou Perseu e Pan. Seu irmão quatro anos mais novo tinha endurecido como pedra nos anos do treinamento, o gosto de matar o assustou no início e o leve gosto de ser temido era um tipo de um jogo para ele. Pan sempre foi o mais sentimental e emocional, os anos que fora treinado não foi nada fácil para ele, porém no dia que Pan ficou cego algo mudou dentro dele e aqui estava, tão inexpressivo quanto Perseu, ele não iria matar por qualquer motivo, mas Hades tinha certeza que sua mão não tremeria ou hesitaria em atirar.

— Vai fazer a vendetta? — Depois de alguns minutos em silêncio, lado a lado, ouvindo as pessoas do andar de baixo conversando.

— Sim.

— Qual vai ser o meu teste para virar novamente um homem de honra? — Pan estava todo duro ao lado de Hades.

— Eu ainda não sei... fidelidade a mim?

— Isso não é um teste Hades.

— É quando você está caído — A cabeça de Pan se virou lentamente para o próximo Don da Cosa Nostra.

— Do que está falando? — O tom sério fez Hades encarar seus irmãos no andar de baixo, Hefesto estava louco para voltar ao hospital e ficar com Ártemis, ele via os movimentos inquietos e nervosos, Perseu não tinha movido um músculo desde que se encontra na parte o mais longe possível das pessoas.

— Amor. Ou você vai negar para mim? — A boca de Pan afinou subitamente e as mãos apertaram a grandes históricas da mansão antiga. — Você trouxe a garota para o fogo cruzado. Estamos entrando em uma guerra irmão, suponho que ela não é uma simples foda.

A mandíbula de Pan ficou tensa e Hades viu os seus dentes serem pressionados dentro da sua boca, pelo contorno das bochechas.

— Não ela não é, eu irei contar quem eu sou e o que eu fiz e provavelmente irei voltar a fazer — A voz de Pan se voltou para Hades. — Ela também não é siciliana, muito menos italiana. Estou disposto a matar qualquer um — Hades estreitou seus olhos para Pan. — Se ela me aceitar depois que eu lhe contar tudo.

— Pelo o que eu vi você está quebrando alguns mandamentos — Hades disse somente para sentir o prazer da resposta bruta. — Dizer a alguém que é da famiglia... Não de casar com uma siciliana...

— Eu não me importo.

— Bom, eu também não — Mesmo Pan não enxergando sua cabeça se virou para Hades como se não acreditasse no que ouviu. — Irei me casar com a filha do Don da Bratva. — Mesmo Pan não expressando Hades sabia que seu irmão estava chocado.

— Puta merda.

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