“É melhor viver um dia como um leão do que cem anos como um cordeiro”
John Gotti Dois dias depois, Hades estava observando o caixão do seu pai descer para a cova no cemitério privado aos homens de honra da famiglia. — Nem pude vê-lo agonizando — Perseu falou em um tom baixo. O sereno da chuva estava se intensificando e as pessoas — principalmente mulheres dos seus primos — estavam erguendo os guarda-chuvas. A luva que ele nunca tirava coçou seu maxilar olhando para o movimento do caixão sendo colocado no fundo do jazigo pelos coveiros. — Agora vocês estão cientes do que me espera — Hades proferiu murmurando, a terra cobria o caixão mais caro da funerária. — Vendetta — Hefesto proferiu entre dentes. Desde que viu a irmã caçula ele estava levemente alterado, deixando sua raiva transparecer e o seu ódio explícito. — Exato — Nem todos dos irmãos estavam ali, mas a famiglia sentiu o poder dos três que estavam ombro a ombro sem tirar os olhos do caixão, os irmãos de suspensório definitivamente estavam de volta. Hades viu nos olhos dos primos mais distante a descrença de se tornar um homem de honra novamente, aquilo nunca tinha acontecido e os homens daquela famiglia sabiam que nunca iria acontecer novamente. — Vocês estão sendo a sensação do enterro — Sua prima Katrina apareceu com os olhos brilhando e um sorriso perfeitamente alinhado. Hades ergueu uma das sobrancelhas ao ver as vestes de um macacão de látex preto grudado em todo o seu corpo realçando suas curvas. — O prazer da sua vida é ver seu pai morrer lentamente de um ataque cardíaco, não? — Os olhos escuros da moça cresceram igual ao de um gato e o brilho assassino fez charme no seu sorriso. — Qualquer oportunidade de fazê-lo se irritar eu faço com o maior prazer — A voz de Katrina se tornou aveludada e ela se virou para ficar do lado de Perseu. — Hermes já sussurrou no ouvido da mamãe que irá te fazer engolir essa roupa — Belial abraçou os ombros da sua irmã e ela se aconchegou nos braços em forma. — Quantos segundos ele demorou? — A boca do seu primo se entortou e Katrina sorriu satisfeita. — Está me devendo 5 mil euros — Belial suspirou. — Assim eu vou ficar falido — Katrina deu uma risadinha baixa e olhou para Hades que estava no meio dos seus irmãos. — Não sei nem por que ainda aposto com você. Você sempre ganha. — Primo, agora que você é o Don, não pretendo me casar, não é? — Hades olhou para Katrina em silêncio e deixou que isso fosse uma resposta que ela entendesse. Se fosse necessário casar Katrina em prol da famiglia, ela teria que ir para o seu destino sem se contentar. Sendo Don da Costa Nostra, o papel de casamenteiro também vinha com o cargo. — Hades — Olhos azuis se voltaram para a mulher com a postura rígida sendo cercada pelos braços do irmão. — Você não me serve casada Katrina — Hades tinha planos de mandar Drago e Katrina em busca do estuprador de Ártemis. O melhor assassino e a melhor rastreadora trabalhando juntos. Sua prima ficou em silêncio enquanto o coveiro amassava com a pá a terra mexida para ficar uniforme. Depois de alguns minutos todos estavam se direcionando para os carros e indo para a mansão D'Angelo. Os três dos seis irmãos olharam todos se afastando quando o enterro acabou, dois soldados e homens de honras com o cargo mais elevado ficaram com o Don. — Encontramos vocês lá — Katrina se despediu dos três primos erguendo o queixo e puxou seu irmão Belial para fora do círculo que estava se formando entre os mais bem requisitados. Alguns soldados solteiros se ousaram dar uma segunda olhada em Katrina, que desfilava com o seu salto agulha no meio dos túmulos recentes. — Sem querer ser rude, devido a tal situação, creio que você já se decidiu o que irá fazer — Um dos capos do seu pai lhe disse olhando para Hades com o semblante neutro. Hades ainda não era Don, o termo usado sem respeito não iria fazer a menor diferença para a famiglia. — Meu sobrinho sabe dos seus deveres e não está fugindo disso Pagano, somente hoje e agora, não é o lugar para discutir isso — Hermes falou entre dentes confrontando Pagano de frente. Hades só iria ser considerado homem de honra novamente quando anunciasse a vendetta em público, mas no momento ninguém sabia dos seus planos a não ser Drago. Hades viu cada um aceitar a ordem direta do consigliere da famiglia e um por um foi se distanciando para longe. Os olhos de Pagano fixaram em Hades antes de dar um breve aceno para Hermes que não mexeu um músculo nos próximos minutos. — É um prazer estar de volta aos negócios — Hefesto disse com um sorriso zombeteiro para Hades que colocou as mãos nos bolsos e caminhou calmamente para o seu mais novo carro. ***** A mansão D'Angelo estava cheia, igual as antigas lembranças de Hades, ele bebeu o pouco do seu whisky rodeando o grande salão, ninguém o via quando ele estava no segundo andar observando a pequena reunião se formar. — Mesmo sendo cego consigo ver as engrenagens da sua cabeça rodando. — A voz baixa e rouca soou a alguns metros de distância. Hades se virou apenas para ver o seu irmão Pan, a blusa social branca com o suspensório preto fez os lábios de Hades se repuxarem poucos centímetros. O pano preto que cobria seus olhos fez o italiano se lembrar de um dos motivos que ele juntou todos os seus irmãos para fugirem. Mesmo sendo cego, Pan poderia ser letal se quisesse. O corpo bem construído e os músculos em forma fizeram Hades perceber que ele nunca tinha parado de se exercitar. — Ainda não desceu, imagino eu — Pan negou com a cabeça, se Hades não tivesse visto o momento que Pan ficou cego ou a venda preta em seus olhos ele poderia jurar que seu irmão sempre enxergara. Os passos silenciosos e estratégicos do seu irmão se aproximaram dele. — Não me dou bem com barulho ou multidões. — Hades sabia disso, esteve ao seu lado quando o ouvido de Pan se tornou tão sensível que o disparo de uma arma se tornava o caos. — Quem falta? — Apolo. — Os velhos irmãos dos suspensórios voltam às origens novamente — Hades soube que o treinamento endureceu todos os seus irmãos. Hades sempre comparou Perseu e Pan. Seu irmão quatro anos mais novo tinha endurecido como pedra nos anos do treinamento, o gosto de matar o assustou no início e o leve gosto de ser temido era um tipo de um jogo para ele. Pan sempre foi o mais sentimental e emocional, os anos que fora treinado não foi nada fácil para ele, porém no dia que Pan ficou cego algo mudou dentro dele e aqui estava, tão inexpressivo quanto Perseu, ele não iria matar por qualquer motivo, mas Hades tinha certeza que sua mão não tremeria ou hesitaria em atirar. — Vai fazer a vendetta? — Depois de alguns minutos em silêncio, lado a lado, ouvindo as pessoas do andar de baixo conversando. — Sim. — Qual vai ser o meu teste para virar novamente um homem de honra? — Pan estava todo duro ao lado de Hades. — Eu ainda não sei... fidelidade a mim? — Isso não é um teste Hades. — É quando você está caído — A cabeça de Pan se virou lentamente para o próximo Don da Cosa Nostra. — Do que está falando? — O tom sério fez Hades encarar seus irmãos no andar de baixo, Hefesto estava louco para voltar ao hospital e ficar com Ártemis, ele via os movimentos inquietos e nervosos, Perseu não tinha movido um músculo desde que se encontra na parte o mais longe possível das pessoas. — Amor. Ou você vai negar para mim? — A boca de Pan afinou subitamente e as mãos apertaram a grandes históricas da mansão antiga. — Você trouxe a garota para o fogo cruzado. Estamos entrando em uma guerra irmão, suponho que ela não é uma simples foda. A mandíbula de Pan ficou tensa e Hades viu os seus dentes serem pressionados dentro da sua boca, pelo contorno das bochechas. — Não ela não é, eu irei contar quem eu sou e o que eu fiz e provavelmente irei voltar a fazer — A voz de Pan se voltou para Hades. — Ela também não é siciliana, muito menos italiana. Estou disposto a matar qualquer um — Hades estreitou seus olhos para Pan. — Se ela me aceitar depois que eu lhe contar tudo. — Pelo o que eu vi você está quebrando alguns mandamentos — Hades disse somente para sentir o prazer da resposta bruta. — Dizer a alguém que é da famiglia... Não de casar com uma siciliana... — Eu não me importo. — Bom, eu também não — Mesmo Pan não enxergando sua cabeça se virou para Hades como se não acreditasse no que ouviu. — Irei me casar com a filha do Don da Bratva. — Mesmo Pan não expressando Hades sabia que seu irmão estava chocado. — Puta merda. ________________________________________“Se há uma vontade, há sempre um caminho meu amigo”Richard Kuklinski Hades estava demorando muito tempo com aquilo, finalmente tinha fugido das suas obrigações para ir lá. Ele estacionou o carro na frente do hospital psiquiátrico e suspirou ao se ver sozinho, infelizmente chamar seus irmãos iria dar muito na cara que estaria acontecendo algo antes do casamento acontecer, ele queria que a sua mãe estivesse vendo aquilo. — Em que posso ajudá-lo? — A recepcionista solicita perguntou assim que Hades chegou perto do balcão da recepção. — Quero ver Antonella D'Angelo — Os olhos da mulher se arregalaram em surpresa. — Antonella D'Angelo? — Ela franziu a testa. — Sim, algum problema? — A garota engoliu em seco ao lembrar que os rumores estavam sendo verdadeiros. — Nenhum, qual o seu nome? — Hades D'Angelo — Seus olhos focaram na pulsação do pescoço da moça, quanto mais tempo passava mais ela ficava nervosa, Hades supôs que ela o conhecia, de alguma maneira. — Identifi
“O novo sempre destrona o velho, não existe zona de conforto neste nosso mundo”. Luciano Leggio À sua frente estava Hermes D'Angelo, seu tio e consigliere de seu pai, ao lado estava o capo direto de Ares D'Angelo, Pagano. Um pouco mais atrás estavam seus irmãos como testemunhas e chicoteadores, Hades estava fazendo aquilo pela segunda vez na sua vida e como na primeira, não estava nada animado. — Aqui está, Hades D'Angelo, sucessor e primogênito de Ares D'Angelo, assim como a lei da famiglia diz, hoje estou seguindo o mandamento não citado nos 10 mandamentos; passar o cargo de Don da Cosa Nostra a Hades D'Angelo. — A palma de mão é levantada para cima pelo Pagano, a faca furou a ponta do seu dedo e o italiano nem sentiu o corte. No meio do ritual, Hades viu todos os seus irmãos — Menos Apolo — olhando para ele, anos atrás ele pegou seus irmãos mais novos e colocou cada um em um país, longe da Itália, longe de seu pai e consequentemente longe da sua mãe. O sangue escorreu e p
“Atrás de cada grande fortuna, há sempre um crime!” Charlie “Lucky” Luciano Hades nunca sequer olhou para um preparativo de casamento, ele somente contratou as pessoas certas e deixou a mercê da sua noiva. Sua única exigência era que não poderia ser em hipótese alguma numa igreja, assim como a famiglia, a igreja era negócios e ele não iria misturar isso. Apesar de Hades ser siciliano e um homem de honra — novamente — ele nunca acreditou em uma religião específica, como um bom negociador e estratégico ele via os líderes religiosos manipulando as pessoas de fé, usando o mais baixo e antigo modo de extorsão para ganhar o que queria, e claro, Hades tinha esses líderes aos seus pés . Muitos homens de honra optaram por usar a imagem da igreja como pretexto para manter a boa imagem diante a comunidade siciliana. Hades nunca precisou fingir, muitas pessoas de fé temia a Deus no juízo final por causa de seus pecados praticados em vida, temiam a morte. Hades não era um Deus, mas era m
“Há certas promessas que você faz que são mais sagradas que qualquer coisa que acontece em um tribunal de justiça, eu não me importo para a quantidade de Bíblias em que você põe sua mão.” Paul Castellano Svetlana calculou todas as variantes de que se precisasse mataria seu mais novo esposo no altar. Ela sabia que sua entrada chocou a todos, principalmente quando escolherá entrar com as armas banhadas a ouro em mãos em vez de um buquê estúpido. A cerimônia aconteceu normalmente até o homem à sua frente falar sobre a ormetà¹. — O pedido especial da noiva é que o senhor Hades D'Angelo jure a omertà a ela — Svetlana quis sorrir ao olhar para Hades. Sim, ela tinha ousado colocar a omertà no casamento, assim como ela, ele iria fazer o voto de silêncio da família. Hades ficou de frente para Svetlana e seus azuis vieram para ela. Sem hesitar ele tirou uma adaga do cós da sua calça e levantou
“Alguns deles, excluindo a parte criminosa de suas vidas, podem ser gente muito bacana.”Rudolph Giuliani Hades tinha que mostrar para o seu recém sogro que ninguém iria desrespeitá-lo, foi uma ofensa de grandes proporções não ter ido ao seu casamento. Os italianos eram povos extremamente familiares, não vir nenhum membro da famiglia de Svetlana foi uma mensagem de que não se importava com tal aliança que seu consigliere fora tão persistente. — Sua famiglia, como está? — Hades perguntou para sua recém esposa enquanto a girava pelo salão, dançando. Svetlana o olhou com curiosidade, ele tinha reparado como ela analisava sua interação com seus irmãos, e com todo o ambiente, em nenhum momento sua esposa parou de analisar tudo e todos. — Eu não sei, não falo com eles — Ela esticou seu pescoço olhando tudo por cima dos ombros de Hades. — Eles não terem vindo foi uma desonra com você, esposa — Svetlana olhou seu corpo tensionando levemente. — Eu não me importo. — Ela disse
“Um dos princípios da máfia italiana, é nunca trair a esposa, pois: se você é capaz de trair quem confia em fechar os olhos e dormir ao seu lado, você não é digno de confiança de ninguém"Máfia italiana Na manhã seguinte Hades se levantou da cama sozinho. Rapidamente se sentou procurando sua esposa, a arma debaixo do travesseiro foi pega em segundos e em movimentos ágeis ele estava esticando seus braços deixando a arma na altura dos seus olhos e consequentemente todos os pontos da suas costas apertam a pele. Ele olhou ao redor de seu quarto procurando por alguma ameaça ou inimigo. Não tinha amanhecido ainda para a claridade tomar conta do cômodo. A arma foi travada quando ele reparou em um pequeno corpo feminino enrolado em cobertas no canto da parede ao seu lado esquerdo, não muito longe da cama. O simples clique da trava fez Svetlana abrir os olhos e ela olhou para ele com suas íris escurecidas, ele quase não reconheceu o seu rosto e de como ele ficou com aqueles olhos azuis o
Para todas que amam homens que endeusam suas mulheres Andreia Vitória Hades suspirou ao sair do aeroporto. Tantos anos longe da Sicília para no final acabar no mesmo lugar de anos atrás. Ele não sabia do por que foi convocado mas pretendia descobrir o quanto antes. — Táxi! D'Angelo entrou no automóvel com o motorista a sua frente e lhe informou o endereço, o taxista olhou pelo retrovisor com o semblante claro que estava analisando seu perfil, desconfiado o homem de idade ergueu uma das sobrancelhas com a suspeita da sua pessoa. Suspirando, Hades jogou cem euros no banco do passageiro da frente e sentiu o carro andar pelas ruas da famosa cidade siciliana. Minutos depois ele estava de frente ao portão da grande mansão da famiglia D'Angelos, a nostalgia de boas lembranças esquecidas a tanto tempo veio com força, as raras vezes que ele corria atrás de seus irmãos com algum tipo de brincadeirinha de perseguição. Hades olhou ao redor, agora, notando a quantidade de soldados, fuzil vi
"O homem paciente é o homem que controla. Ele é firme; constante em todas as coisas. Quando pretende acabar com seus inimigos, começa por matar seu próprio ego. Onore. Vendetta. Lealtà." Cosa Nostra Hades entrou no hospital particular com o rosto num semblante gélido, por dentro seu sangue fervia, quem teria a ousadia de tocar em sua irmã? Quem seria tão estúpido o suficiente por violenta-la? Seu tio estava a sua frente conversando com a recepcionista enquanto seus olhos observavam o local, o hospital era muito bem requisitado, sem dúvidas ela estaria recebendo os melhores tratamentos. — Sobrinho — Hades olhou para onde lhe chamaram e seguiu seu tio para um corredor branco adentrando no hospital. Era só questão de tempo para todos estarem lá, seus irmãos também haviam sido convocados pelo seu pai. No corredor da UTI ele viu através da janela de vidro a sua irmã inconsciente. Precisou de todo o seu autocontrole para não arrancá-la daquela maca. Ártemis estava magra e pálida,