“Se há uma vontade, há sempre um caminho meu amigo”
Richard Kuklinski
Hades estava demorando muito tempo com aquilo, finalmente tinha fugido das suas obrigações para ir lá. Ele estacionou o carro na frente do hospital psiquiátrico e suspirou ao se ver sozinho, infelizmente chamar seus irmãos iria dar muito na cara que estaria acontecendo algo antes do casamento acontecer, ele queria que a sua mãe estivesse vendo aquilo.
— Em que posso ajudá-lo? — A recepcionista solicita perguntou assim que Hades chegou perto do balcão da recepção.
— Quero ver Antonella D'Angelo — Os olhos da mulher se arregalaram em surpresa.
— Antonella D'Angelo? — Ela franziu a testa.
— Sim, algum problema? — A garota engoliu em seco ao lembrar que os rumores estavam sendo verdadeiros.
— Nenhum, qual o seu nome?
— Hades D'Angelo — Seus olhos focaram na pulsação do pescoço da moça, quanto mais tempo passava mais ela ficava nervosa, Hades supôs que ela o conhecia, de alguma maneira.
— Identificação, por favor. — Os lábios do homem quase se esticaram em um sorriso.
— Abra a maldita porta — O tom calmo e sereno nunca deixou se elevar, o toque ameaçador foi o charme. Segundos depois o barulho do portão elétrico se abrindo foi ouvido pelos dois, ela não conseguia desviar o olhar dos dele, que nunca a deixou quebrar o contato. — Obrigado
Mesmo sem conhecer o local, Hades conhecia sua mãe, ele caminhou até estar do lado de fora, ele sabia que ela não estava sendo contida nos últimos meses. A silhueta magra e familiar chamou a atenção e o italiano caminhou até a mulher.
Assim que Hades colocou seus olhos em Antonella D'Angelo a vontade de ser quem todos temia veio como uma onda, com força e invadindo seu auto controle.
— Mãe.
Antonella levantou sua cabeça enquanto delicadamente arrancava as pétalas de rosas. Primeiramente seus olhos se arregalaram, a tristeza genuína invadiu seu semblante e as lágrimas quentes inundaram seus olhos antes de escorrerem livremente pelo seu rosto já envelhecido.
— Meu filho... — O sussurro choroso quase quebrou a postura do homem.
Hades resolveu se sentar quando sua mãe não fez nenhum movimento para se levantar. A cabeça da mulher mais velha encostou no ombro de Hades e ele tentou não endurecer pelo toque tão familiar e amoroso. Ela ficou uns bons minutos chorando em silêncio, somente suas lágrimas eram testemunha do seu choro, assim como todos seus irmãos, sua mãe tinha aprendido a chorar sem fazer barulho.
— Finalmente — O sussurro e o aperto desesperado em seu braço perto pela blusa social branca que estava dobrada na altura do cotovelo fez Hades apertar as mãos que cravaram as unhas em sua pele. — Finalmente — O suspiro de alívio escapou dos seus lábios e ela levantou a cabeça procurando os olhos do filho. — Como?
— Ele mereceu, cada gota de sofrimento — O sorriso da senhora apareceu, mais genuíno o possível. — Peço desculpas porque não fui eu que causei esse sofrimento, infelizmente.
— E seus irmãos? Hefesto, Perseu, Pan, Apolo, Ártemis?
— Apolo está a caminho — Hades não queria lhe dizer que estava temendo pela vida do seu irmão, fazia quatro dias que Hades tinha chegado em Sicília, e nada de Apolo, em breve ele mandaria seus contatos procurá-lo.
O corpo da sua mãe relaxou e ela abraçou Hades pelo pescoço. Ao contrário da mãe, Hades não sabia como reagir, fazia muitos anos que não recebia tal afeto, suas mãos se apoiaram na coluna da mulher.
— Sinto muito por ele ter te colocado aqui mãe, nós não sabíamos — Mesmo não conseguindo demonstrar que estava chateado com sigo mesmo pelo tom de voz, Hades realmente se culpou pela mãe ter passado tantos anos sozinha, assim como Ártemis.
— Vocês foram felizes? — Ela perguntou e se afastou dele, querendo olhá-lo nos olhos.
— Eu senti paz onde fiquei — Hades nunca soube se foi feliz, mas se sentiu tranquilo a maioria do tempo.
— Então valeu tudo a pena, faria de novo se soubesse que pelo menos um pouco vocês conheceram o mundo dos civis.
— Terei que fazer a vendetta. — O semblante da sua mãe caiu e os brilhos dos seus olhos desapareceram.
— Sinto muito meu filho, ele não merece tal honra — Hades olhou para sua mãe.
— Vamos, te contarei com mais detalhes quando estivermos no carro.
Desacreditada, Antonella se levantou com ajuda do Hades, suas pernas estavam bambas e ele notou isso.
— Sair? Daqui? — O sussurro da sua voz fez ele olhar nos seus olhos e acenar com a cabeça, as lágrimas voltou, e novamente silenciosas.
*****
Hades observou no canto da parede sua mãe abraçar todos os filhos, ele ficou levemente aliviado de que nenhum dos seus irmãos soube devolver tal carinho na mesma medida, os abraços foram estranhos e desajeitados. Ele deixou que seus irmãos contassem a ela sobre o quadro clínico da sua irmã enquanto se distanciava cada vez mais da sala principal.
— Hades. — Drago caminhou sério em sua direção.
Problemas, seus olhos diziam.
— Venha.
Os dois se distanciaram da casa e Hades encostou suas costas na árvore do jardim dos fundos da mansão.
— Seu pai deixou a Cosa Nostra com muitos problemas, casar com a filha do Don da Bratva vai melhorar algumas coisas, poucas, por pouco tempo — O tom emblemático de Drago fez Hades suspirar. — Cosa Nostra é inimiga da Camorra e Ndrangheta — Os lábios de Hades se repuxa um pouco em desprezo.
— Camorra e Ndrangheta sempre foram nossas aliadas — Hades relembra o que seu tio tinha dito. — Engraçado, meu tio havia me dito que as duas famílias estavam em paz. Diga-me o que sabe.
— Seu pai brigou com os dois Don. Hades, eu não sei quem poderia ter matado seu pai — Drago diz olhando para o amigo — Ao longo dos anos ele foi muito irresponsável com os negócios, os homens mais poderosos da Sicília e Itália queriam o seu pescoço como troféu.
Isso tornava sua vendetta mais difícil.
— Em menos de dois dias irei me casar Drago, amanhã serei batizado, preciso saber quem o matou. Pode ser um rato com contatos, um rato aliado, um simples cara querendo vingança. Tantas opções.
Drago encostou na outra árvore de frente para Hades. Mesmo sabendo que o assunto não iria acabar ali, ele sentiu a curiosidade de Drago no ar. Ele iria mudar de assunto.
— Você conheceu a moça? — Falar sobre seu casamento era uma coisa que Hades não queria fazer, ele arrancou um cigarro do bolso e acendeu com isqueiro.
— Não, provavelmente só vou vê-la no casamento.
Drago deixou suas expressões suavizar.
— Esse foi um dos motivos pelo qual não quis entrar na Cosa Nostra — Hades ergueu uma das sobrancelhas.
— Você não entrou na Cosa Nostra porque não é siciliano — Dando de ombros Drago brincou com a sua faca de coleção entre os dedos.
— Você me pediria para ser seu consigliere, ou seu cão.
— Você é um labrador bem indomável — Hades ergueu uma das sobrancelhas com um quase sorriso.
— Adoraria domar e deixá-lo dócil — À voz suave da sua prima foi ouvida pelos dois e Drago se virou para Katrina com aquele olhar inexpressivo, sem reação ou qualquer sinal que ele gostou ou desgostou da brincadeira.
— Vocês partirão para procurar pistas, preciso o mais rápido possível o filho da puta.
Katrina deixou sua postura de flerte em segundos, o rosto fechado deixou Hades imaginar qual tortura ela estava imaginando que poderia fazer em quem tocou sua prima.
— Será um prazer passar os dias com esse labrador — As facas foram passadas entre os dedos mais rápido, era o único movimento que Hades notou em Drago, ele estava se controlando. — Mesmo preferindo trabalhar sozinha.
Em três dias Katrina e Drago iriam procurar pelo homem que desonrou Ártemis.
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