“Esse foi o começo do fim da Cosa Nostra.”
Anthony Casso Assim que Hades adentrou na mansão D' Angelo seu tio estava com um homem desconhecido na sala de visita. Os passos longos se tornaram curtos gradualmente até estar a dois metros de distância dos homens. Tinha visitado sua irmã caçula novamente, ele estava decidido a fazer do seu quarto um lugar apto para comportar todas as necessidades dela até melhorar, mesmo que o hospital não apresentava nenhuma ameaça ele nunca poderia saber de onde o seu inimigo estava vindo, poderia simplesmente voltar e terminar o que fez com Ártemis. A gerência de seu pai sempre teve algumas falhas, uma delas a principal era fazer da mansão D'Angelo o complexo da famiglia. Seu pai sempre gostou de esbanjar a riqueza que a famiglia tinha conquistado. — Sobrinho — Assim que Hermes percebeu sua presença ele se levantou junto com o homem ao seu lado. O rosto tenso do estrangeiro não era um bom sinal, Hades só queria voltar para o seu lugar secreto e esquecer de toda essa bagunça que o seu pai tinha deixado. — Esse é Petrova, consigliere do Don da famiglia Vasiliev — Hades olhou para a mão estendida e lentamente cumprimentou. No torço da mão do homem mais velho estava o símbolo da Bratva, famiglia russa e inimiga da Cosa Nostra. — Esse é o meu sobrinho — Ligeiramente Hermes foi para o lado de Hades. Os soldados nas janelas não eram do quase novo Don. Hades olhou para o homem à sua frente. Típicas feições russas endurecidas não demonstraram nenhuma reação, porém os olhos azuis inteligentes analisaram Hades. — A honra desse encontro é motivo de?... — O aperto firme e os olhos azuis se direcionaram ao seu tio. — Sobrinho, creio que seu pai fez planos em segredos, que até eu mesmo não tinha conhecimento — O sorriso social se estendeu nos lábios de Hades ao ouvir aquilo. Ele não estava nem perto de estar contente com aquela situação, mas para o consigliere do Don da Bratva estar no seu território tranquilo insinua que seu pai tinha feito algum acordo com os russos para ter proteção. A mente de Hades corria enquanto apontava com a mão para todos ir no escritório do seu falecido pai. A mandíbula de Hades tencionou no caminho até o cômodo, porques percorria por sua cabeça. Uma peça se encaixou na sua mente assim que a mão do primogênito da famiglia D'Angelo tocou na maçaneta. Seu pai tinha convocado para que todos voltasse a Itália, seu pai, não seu tio, mesmo parecendo burro no momento só agora que ele tinha percebido que quando seu pai ordenou ele ainda estava vivo. Como pudera deixar passar esse detalhe? — Perdoe a bagunça — Hades falou em um inglês fluente. Apesar de quase toda a casa estar limpa e tendo tudo que quebrou reconstruído, Hades deixou o escritório por último. O sofá todo esburacado por tiros de metralhadora foi o que Hades ofereceu para que Petrova se sentasse. Os olhos do russo foram para a mancha vermelha de sangue no sofá e ele escolheu o lado limpo, porém com mais buracos de balas. A elegância de se sentar e abrir o único botão que estava prendendo o paletó na sua barriga chamou a atenção para o pano. — Terno italiano, eu imagino — Disse Hades se sentando na poltrona onde ao lado da sua cabeça estava com perfuro de faca. Petrova tirou do bolso na parte de dentro do paletó um cigarro e um isqueiro. — O melhor. Uma tragédia com o que aconteceu com o seu pai — Petrova tragou o cigarro depois de acender. — Minhas sinceras condolências. — Obrigado. — Porém, antes que chegasse nesse terrível fim o Don da Cosa Nostra fez um tratado de paz com a Bratva — Hades inalou devagar o ar do escritório. — Qual seria esse tratado? Petrova tirou o contrato com a assinatura do pai de Hades do outro lado do paletó. O italiano leu o contrato e segurou fundo a vontade de matar o velho que já estava vegetando. — D'Angelo, se não aceitar está avisado que começará uma desavença direta com o Don da Bratva. Seu pai concordou selando a paz com as duas famílias quando assinou o contrato. Hades olhou para Petrova e com a respiração ritmada sorriu cordialmente. — É bom que ele acelerou esse processo, já estava nos meus planos arrumar uma esposa. — Pois agora não precisa mais se preocupar ou procurar, a partir de hoje o senhor está comprometido com a filha primogênita do boss da Bratva. Hades colocou o contrato na coxa, sorrindo seus olhos expressando um ódio controlado. — Quando será a data para o meu casamento? ****** Assim que Petrova saiu da mansão D'Angelo pelo portão da frente, Hades olhou para Hermes irado. — Meu pai estava mesmo mexendo uns pauzinhos — O Don mesmo a beira da morte estava um passo à sua frente e isso não era bom. — Precisamos dessa casa limpa e em perfeito estado até o baile de seu batismo — Hermes falou olhando ao redor do escritório destruído. Lidar com uma esposa tão cedo não estava nos seus planos, Hades tinha muito problema e ter uma esposa para proteger era um peso morto desnecessário no momento. Quando era mais jovem ele ja tinha aceitado que se casaria por algum motivo maior da famiglia, sexo fácil era o máximo que ele tinha, sabia que se fosse para se casar seria com alguma siciliana de famiglia. Se falassem para o Hades de vinte anos de idade que ele se casaria com uma Vasiliev, russa, provavelmente ele teria matado sem pensar duas vezes, por muitos anos seu pai manipulou todos os irmãos D'Angelo para odiar os inimigos, principalmente os russos. Suspirando, Hades abriu os primeiros botões da camisa social querendo ar, onde estavam os seus malditos irmãos também? — Você acha que pelo menos esse casamento vai durar? — Hades poderia matar sua esposa e ninguém saberia que ele seria o causador, poderia formular uma morte por acidente. — Um tratado de paz com a Bratva é um grande passo para nossa mercadoria entrar no território russo, a famiglia lucraria muito com essa aliança. Hades precisava que Drago aparecesse o quanto antes. ***** — O que você sabe? — Drago perguntou inclinado em um dos soldados de Hades. — Eu não entendi o chamado, senhor — O homem se direcionou a Hades, que estava no canto do cômodo sujo de braços cruzados. — Tcs, tcs, tcs — Drago colocou a faca de coleção na bochecha do homem e o fez virar o rosto para ele. Naquele momento Hades tinha deixado Drago seguir com o interrogatório sem interrupções. — Conte-nos o que sabe, e o Don deixará que viverá — Hades comprimiu os olhos centímetros antes que Belial se movesse do seu lado. — Que coisa mais tediosa — Disse Belial ao bocejar. — Sairei vivo e bem se contar? — Contente-se que sairá respirando. — Preciso da palavra de honra do Don — Hades quase sorriu com a ousadia. — Tudo bem — Hades interrompeu saindo do canto da parede e indo até uma cadeira que ficaria de frente para o homem que estava com os pulsos amarrados com uma corda. — Me diga o que você sabe — Ordenou, se sentando graciosamente na cadeira. O homem desidratado olhou para Hades com o suor escorrendo pela testa, banhando-o como uma cachoeira. Ele engoliu várias vezes antes de tomar coragem e abrir a boca. — Existe um boato pela famiglia — Ele olhou nos olhos de Hades. — Que foi uma emboscada. — Isso já sabemos, já posso matá-lo? — Belial andou ansioso para iniciar sua nova arma com estilo. — Uma emboscada.... De um rato — Subitamente todos ficaram em silêncio. Hades sentiu o prazer de saber que tinha um rato na famiglia, finalmente seu pai tinha provado do próprio veneno. Uma leve fisgada em sua têmpora do lado direito lembrando-o que com essa afirmação ele teria que planejar a sua vendetta¹. _________________________________ vendetta¹ = Vingança“É melhor viver um dia como um leão do que cem anos como um cordeiro” John Gotti Dois dias depois, Hades estava observando o caixão do seu pai descer para a cova no cemitério privado aos homens de honra da famiglia. — Nem pude vê-lo agonizando — Perseu falou em um tom baixo. O sereno da chuva estava se intensificando e as pessoas — principalmente mulheres dos seus primos — estavam erguendo os guarda-chuvas. A luva que ele nunca tirava coçou seu maxilar olhando para o movimento do caixão sendo colocado no fundo do jazigo pelos coveiros. — Agora vocês estão cientes do que me espera — Hades proferiu murmurando, a terra cobria o caixão mais caro da funerária. — Vendetta — Hefesto proferiu entre dentes. Desde que viu a irmã caçula ele estava levemente alterado, deixando sua raiva transparecer e o seu ódio explícito. — Exato — Nem todos dos irmãos estavam ali, mas a famiglia sentiu o poder dos três que estavam ombro a ombro sem tirar os olhos do caixão, os irmãos de
“Se há uma vontade, há sempre um caminho meu amigo”Richard Kuklinski Hades estava demorando muito tempo com aquilo, finalmente tinha fugido das suas obrigações para ir lá. Ele estacionou o carro na frente do hospital psiquiátrico e suspirou ao se ver sozinho, infelizmente chamar seus irmãos iria dar muito na cara que estaria acontecendo algo antes do casamento acontecer, ele queria que a sua mãe estivesse vendo aquilo. — Em que posso ajudá-lo? — A recepcionista solicita perguntou assim que Hades chegou perto do balcão da recepção. — Quero ver Antonella D'Angelo — Os olhos da mulher se arregalaram em surpresa. — Antonella D'Angelo? — Ela franziu a testa. — Sim, algum problema? — A garota engoliu em seco ao lembrar que os rumores estavam sendo verdadeiros. — Nenhum, qual o seu nome? — Hades D'Angelo — Seus olhos focaram na pulsação do pescoço da moça, quanto mais tempo passava mais ela ficava nervosa, Hades supôs que ela o conhecia, de alguma maneira. — Identifi
“O novo sempre destrona o velho, não existe zona de conforto neste nosso mundo”. Luciano Leggio À sua frente estava Hermes D'Angelo, seu tio e consigliere de seu pai, ao lado estava o capo direto de Ares D'Angelo, Pagano. Um pouco mais atrás estavam seus irmãos como testemunhas e chicoteadores, Hades estava fazendo aquilo pela segunda vez na sua vida e como na primeira, não estava nada animado. — Aqui está, Hades D'Angelo, sucessor e primogênito de Ares D'Angelo, assim como a lei da famiglia diz, hoje estou seguindo o mandamento não citado nos 10 mandamentos; passar o cargo de Don da Cosa Nostra a Hades D'Angelo. — A palma de mão é levantada para cima pelo Pagano, a faca furou a ponta do seu dedo e o italiano nem sentiu o corte. No meio do ritual, Hades viu todos os seus irmãos — Menos Apolo — olhando para ele, anos atrás ele pegou seus irmãos mais novos e colocou cada um em um país, longe da Itália, longe de seu pai e consequentemente longe da sua mãe. O sangue escorreu e p
“Atrás de cada grande fortuna, há sempre um crime!” Charlie “Lucky” Luciano Hades nunca sequer olhou para um preparativo de casamento, ele somente contratou as pessoas certas e deixou a mercê da sua noiva. Sua única exigência era que não poderia ser em hipótese alguma numa igreja, assim como a famiglia, a igreja era negócios e ele não iria misturar isso. Apesar de Hades ser siciliano e um homem de honra — novamente — ele nunca acreditou em uma religião específica, como um bom negociador e estratégico ele via os líderes religiosos manipulando as pessoas de fé, usando o mais baixo e antigo modo de extorsão para ganhar o que queria, e claro, Hades tinha esses líderes aos seus pés . Muitos homens de honra optaram por usar a imagem da igreja como pretexto para manter a boa imagem diante a comunidade siciliana. Hades nunca precisou fingir, muitas pessoas de fé temia a Deus no juízo final por causa de seus pecados praticados em vida, temiam a morte. Hades não era um Deus, mas era m
“Há certas promessas que você faz que são mais sagradas que qualquer coisa que acontece em um tribunal de justiça, eu não me importo para a quantidade de Bíblias em que você põe sua mão.” Paul Castellano Svetlana calculou todas as variantes de que se precisasse mataria seu mais novo esposo no altar. Ela sabia que sua entrada chocou a todos, principalmente quando escolherá entrar com as armas banhadas a ouro em mãos em vez de um buquê estúpido. A cerimônia aconteceu normalmente até o homem à sua frente falar sobre a ormetà¹. — O pedido especial da noiva é que o senhor Hades D'Angelo jure a omertà a ela — Svetlana quis sorrir ao olhar para Hades. Sim, ela tinha ousado colocar a omertà no casamento, assim como ela, ele iria fazer o voto de silêncio da família. Hades ficou de frente para Svetlana e seus azuis vieram para ela. Sem hesitar ele tirou uma adaga do cós da sua calça e levantou
“Alguns deles, excluindo a parte criminosa de suas vidas, podem ser gente muito bacana.”Rudolph Giuliani Hades tinha que mostrar para o seu recém sogro que ninguém iria desrespeitá-lo, foi uma ofensa de grandes proporções não ter ido ao seu casamento. Os italianos eram povos extremamente familiares, não vir nenhum membro da famiglia de Svetlana foi uma mensagem de que não se importava com tal aliança que seu consigliere fora tão persistente. — Sua famiglia, como está? — Hades perguntou para sua recém esposa enquanto a girava pelo salão, dançando. Svetlana o olhou com curiosidade, ele tinha reparado como ela analisava sua interação com seus irmãos, e com todo o ambiente, em nenhum momento sua esposa parou de analisar tudo e todos. — Eu não sei, não falo com eles — Ela esticou seu pescoço olhando tudo por cima dos ombros de Hades. — Eles não terem vindo foi uma desonra com você, esposa — Svetlana olhou seu corpo tensionando levemente. — Eu não me importo. — Ela disse
“Um dos princípios da máfia italiana, é nunca trair a esposa, pois: se você é capaz de trair quem confia em fechar os olhos e dormir ao seu lado, você não é digno de confiança de ninguém"Máfia italiana Na manhã seguinte Hades se levantou da cama sozinho. Rapidamente se sentou procurando sua esposa, a arma debaixo do travesseiro foi pega em segundos e em movimentos ágeis ele estava esticando seus braços deixando a arma na altura dos seus olhos e consequentemente todos os pontos da suas costas apertam a pele. Ele olhou ao redor de seu quarto procurando por alguma ameaça ou inimigo. Não tinha amanhecido ainda para a claridade tomar conta do cômodo. A arma foi travada quando ele reparou em um pequeno corpo feminino enrolado em cobertas no canto da parede ao seu lado esquerdo, não muito longe da cama. O simples clique da trava fez Svetlana abrir os olhos e ela olhou para ele com suas íris escurecidas, ele quase não reconheceu o seu rosto e de como ele ficou com aqueles olhos azuis o
Para todas que amam homens que endeusam suas mulheres Andreia Vitória Hades suspirou ao sair do aeroporto. Tantos anos longe da Sicília para no final acabar no mesmo lugar de anos atrás. Ele não sabia do por que foi convocado mas pretendia descobrir o quanto antes. — Táxi! D'Angelo entrou no automóvel com o motorista a sua frente e lhe informou o endereço, o taxista olhou pelo retrovisor com o semblante claro que estava analisando seu perfil, desconfiado o homem de idade ergueu uma das sobrancelhas com a suspeita da sua pessoa. Suspirando, Hades jogou cem euros no banco do passageiro da frente e sentiu o carro andar pelas ruas da famosa cidade siciliana. Minutos depois ele estava de frente ao portão da grande mansão da famiglia D'Angelos, a nostalgia de boas lembranças esquecidas a tanto tempo veio com força, as raras vezes que ele corria atrás de seus irmãos com algum tipo de brincadeirinha de perseguição. Hades olhou ao redor, agora, notando a quantidade de soldados, fuzil vi