“Você consegue muito mais com uma palavra amável e um revolver, do que somente com uma palavra amável sozinha”
Al Capone Rússia, Moscou. Svetlana observou Vasiliev na frente do carro preto. Ela andou até ele, saindo da grande propriedade escola de etiqueta, o que era uma fachada já que dentro daquele prédio era uma academia para tornar filhos de chefes famosos em profissionais de matar. — Svetlana — A saudação do homem mais velho foi estranha. A mulher ficou em silêncio esperando o próximo movimento. — Entre. A porta do carro foi aberta e a sensação de estar sendo condenada mais do que ela já era veio como um arrepio na nuca. Não era o tempo frio e gelado do país que a fez sentir os pelos eriçados, o cabelo médio voou pelo vento gelado quando ela se movimentou para entrar no carro. Vasiliev sentou ao seu lado e ele ordenou que o motorista dirigisse. — Alguns meses atrás fiz uma negociação muito bem sucedida — O homem dos cabelos cinzentos a olhou, Svetlana lembrava daquele olhar. Não questionar, não falar, não expressar nada sem receber a ordem. "Uma soldada bem sucedida na vida é aquela que escuta muito e fala pouco." — Você está prometida ao filho mais velho do D'Angelo — Vasiliev fez Svetlana olhá-lo nos olhos, segurando sua mandíbula. — Entramos com um acordo de paz, faz o seu trabalho como esposa e não teremos mais problemas com a máfia siciliana. — Da. Ao longe Svetlana olhou para a academia que passou sua infância, adolescência e os primeiros anos adultos, seu corpo duro se voltou para frente. Sua cabeça estava processando a informação que ela estava noiva, o casamento não era uma missão, ela não iria matar o seu marido, teria que conviver com ele pelo resto da sua vida, ou da dele. Svetlana estava se perguntando se aquilo seria um tipo de aposentadoria de matar, sua mão coçou em agonia, as coisas que ela aprendeu uma esposa normal não saberia fazer, ela pensou em pular do carro e fugir, roubar e matar alguém era fácil para conseguir dinheiro, mas para onde ela iria? Antes de chegar na fronteira toda a Bratva estaria apontando mil canhões em sua cabeça. Svetlana teve treinamento para tudo, menos para ser uma esposa, teve simulações de ser um casal com outro homem da academia, mas a diferença era que os dois sabiam que tudo aquilo seria passageiro. Ela sempre teve a nota mais alta em sedução, então seduzir seu marido seria fácil, se conseguisse manipulá-lo ela tomaria tempo para ver se matava-o ou continuaria a encenação. ***** Na mansão Vasiliev, Svetlana sentiu suas mãos suando, ela tinha poucas lembranças daquele lugar. Ao sair do carro o vento frio fez seus cabelos castanhos escuros médios voarem, a neve cobria o chão e poucos metros distantes estava sua irmã caçula, seu rosto vermelho e o vinco nas suas sobrancelhas denunciava sua ira. — Papai! — O salto agulha bateu contra o piso de mármore na varanda da casa. — Da. — Por que fez a aliança com ela? Eu treinei a minha vida inteira para esse momento — Os olhos lacrimejando fez Svetlana analisar a chateação verdadeira. As duas eram de mundos diferentes, enquanto Svetlana era a mais velha e fora enviada para a academia de assassinos russos aos três anos de idade para ser uma soldado, assassina cruel e sanguinária, Yuliya foi cria para ser a esposa perfeita, submissa e mãe exemplo para outras mulheres dentro da Bratva. Enquanto Svetlana era o cão de caça, Yuliya era a barbie, a princesa. Mesmo tendo treinamento de não fazer nenhuma expressão, foi difícil não fazer uma careta de desprezo ao ver as lágrimas escorrerem pelo rosto branco parecendo de porcelana de sua irmã mais nova. — Svetlana foi prometida ao filho do D'Angelo e sem mais discussões — Vasiliev esbravejou, Yuliya estremeceu enquanto as lágrimas escorriam em silêncio. — Da — Yuliya abaixou a cabeça em submissão. Mesmo sabendo que aquele era o seu nome, ainda estava sendo estranho se acostumar com ele, desde que entrou naquela academia seu nome tinha virado um número. Oito quatro meia. — Esteja apresentável — Vasiliev se virou para Svetlana. — Você parte amanhã. Rapidamente ela se viu sozinha com a sua irmã, os olhos vermelhos e irritados a encararam com ódio. Svetlana andou com os seus passos silenciosos porém marcados, ela subiu a longa escada sentindo o celular escondido no corpo. No seu quarto Svetlana rapidamente cobrou os favores para os seus contatos perguntando tudo sobre a vida do filho mais velho D'Angelo. ***** No dia seguinte, Svetlana estava olhando para o sovetnik¹ do seu pai, ele iria junto para as apresentações, enquanto Vasiliev não poderia sair do seu território por motivos que ela desconhecia. Então o seu braço direito iria com a grande missão de apresentar os noivos. A russa lembrava vagamente que ele tinha uma filha, 350 era poucos anos mais nova que Svetlana, mas já tinha visto suas provas na escola e como ela era habilidosa. O desejo de vasculhar o prédio procurando por furos e rotas de saída a fez ficar levemente inquieta, o suficiente para disfarçar a irritação. — Sei que em seu sangue corre o instinto assassino — O sovetnik disse para ela casualmente dentro do elevador. — Acho até uma loucura juntar você com o D'Angelo, sua irmã foi mais preparada que você. O russo olhou para a mulher ao seu lado com os dois soldados encostados na parede no fundo do elevador. — Sua beleza é impressionante Svetlana, é de se admirar os cuidados da academia — Cuidados esses eram a facilidade de esconder e cicatrizar cicatrizes. — Mas um rostinho bonito não segura uma aliança, e sim a honra de um homem feito, se D'Angelo aprovar você estamos no lucro, ele aceitou e concordou a proposta que você não nasceu para ser uma esposa e nem foi educada para tal, mas o velho acha que o filho vai se interessar por você. Filho esse que nem faz parte da família. A boca de Svetlana entortou levemente em desgosto, questão de milímetros antes de controlar suas facetas e ficar com o semblante neutro. Svetlana era uma soldada, um número, seguia ordens cegamente, mas desde que saiu da academia sua cabeça entrava em constante alerta sobre a fala de alguém — seja quem for — sobre algo. Geralmente as falas não eram de acordo com os pensamentos de Svetlana. O apartamento onde estava hospedada em um dos hotéis mais caros de Sicília era enorme, apesar de ser a filha do boss² da família russa, Svetlana não estava acostumada com conforto e suavidade, a cobertura era impressionante e a russa nunca tinha visto tanto luxo na sua vida. Svetlana não gostava de vestido, mas o sovetnik de seu pai disse para ela ficar o mais feminina possível. Parecia estar enferrujada, fazia muito tempo que estava em uma missão onde o objetivo era seduzir homens, seus cabelos soltos estavam deixando-a agoniada, Svetlana estava acostumada com calças e cabelo em um coque bem preso estilo bailarina. A porta principal se abriu e um dos capos de seu pai entrou e fez uma careta para o sovetnik. — Mudanças de plano, D'Angelo foi emboscado em seu complexo. O ambiente ficou tenso. Svetlana sentiu o peso da arma na sua cintura. _________________________________________ sovetnik¹= Conselheiro boss²= Chefe“Esse foi o começo do fim da Cosa Nostra.”Anthony Casso Assim que Hades adentrou na mansão D' Angelo seu tio estava com um homem desconhecido na sala de visita. Os passos longos se tornaram curtos gradualmente até estar a dois metros de distância dos homens. Tinha visitado sua irmã caçula novamente, ele estava decidido a fazer do seu quarto um lugar apto para comportar todas as necessidades dela até melhorar, mesmo que o hospital não apresentava nenhuma ameaça ele nunca poderia saber de onde o seu inimigo estava vindo, poderia simplesmente voltar e terminar o que fez com Ártemis. A gerência de seu pai sempre teve algumas falhas, uma delas a principal era fazer da mansão D'Angelo o complexo da famiglia. Seu pai sempre gostou de esbanjar a riqueza que a famiglia tinha conquistado. — Sobrinho — Assim que Hermes percebeu sua presença ele se levantou junto com o homem ao seu lado. O rosto tenso do estrangeiro não era um bom sinal, Hades só queria voltar para o seu lugar sec
“É melhor viver um dia como um leão do que cem anos como um cordeiro” John Gotti Dois dias depois, Hades estava observando o caixão do seu pai descer para a cova no cemitério privado aos homens de honra da famiglia. — Nem pude vê-lo agonizando — Perseu falou em um tom baixo. O sereno da chuva estava se intensificando e as pessoas — principalmente mulheres dos seus primos — estavam erguendo os guarda-chuvas. A luva que ele nunca tirava coçou seu maxilar olhando para o movimento do caixão sendo colocado no fundo do jazigo pelos coveiros. — Agora vocês estão cientes do que me espera — Hades proferiu murmurando, a terra cobria o caixão mais caro da funerária. — Vendetta — Hefesto proferiu entre dentes. Desde que viu a irmã caçula ele estava levemente alterado, deixando sua raiva transparecer e o seu ódio explícito. — Exato — Nem todos dos irmãos estavam ali, mas a famiglia sentiu o poder dos três que estavam ombro a ombro sem tirar os olhos do caixão, os irmãos de
“Se há uma vontade, há sempre um caminho meu amigo”Richard Kuklinski Hades estava demorando muito tempo com aquilo, finalmente tinha fugido das suas obrigações para ir lá. Ele estacionou o carro na frente do hospital psiquiátrico e suspirou ao se ver sozinho, infelizmente chamar seus irmãos iria dar muito na cara que estaria acontecendo algo antes do casamento acontecer, ele queria que a sua mãe estivesse vendo aquilo. — Em que posso ajudá-lo? — A recepcionista solicita perguntou assim que Hades chegou perto do balcão da recepção. — Quero ver Antonella D'Angelo — Os olhos da mulher se arregalaram em surpresa. — Antonella D'Angelo? — Ela franziu a testa. — Sim, algum problema? — A garota engoliu em seco ao lembrar que os rumores estavam sendo verdadeiros. — Nenhum, qual o seu nome? — Hades D'Angelo — Seus olhos focaram na pulsação do pescoço da moça, quanto mais tempo passava mais ela ficava nervosa, Hades supôs que ela o conhecia, de alguma maneira. — Identifi
“O novo sempre destrona o velho, não existe zona de conforto neste nosso mundo”. Luciano Leggio À sua frente estava Hermes D'Angelo, seu tio e consigliere de seu pai, ao lado estava o capo direto de Ares D'Angelo, Pagano. Um pouco mais atrás estavam seus irmãos como testemunhas e chicoteadores, Hades estava fazendo aquilo pela segunda vez na sua vida e como na primeira, não estava nada animado. — Aqui está, Hades D'Angelo, sucessor e primogênito de Ares D'Angelo, assim como a lei da famiglia diz, hoje estou seguindo o mandamento não citado nos 10 mandamentos; passar o cargo de Don da Cosa Nostra a Hades D'Angelo. — A palma de mão é levantada para cima pelo Pagano, a faca furou a ponta do seu dedo e o italiano nem sentiu o corte. No meio do ritual, Hades viu todos os seus irmãos — Menos Apolo — olhando para ele, anos atrás ele pegou seus irmãos mais novos e colocou cada um em um país, longe da Itália, longe de seu pai e consequentemente longe da sua mãe. O sangue escorreu e p
“Atrás de cada grande fortuna, há sempre um crime!” Charlie “Lucky” Luciano Hades nunca sequer olhou para um preparativo de casamento, ele somente contratou as pessoas certas e deixou a mercê da sua noiva. Sua única exigência era que não poderia ser em hipótese alguma numa igreja, assim como a famiglia, a igreja era negócios e ele não iria misturar isso. Apesar de Hades ser siciliano e um homem de honra — novamente — ele nunca acreditou em uma religião específica, como um bom negociador e estratégico ele via os líderes religiosos manipulando as pessoas de fé, usando o mais baixo e antigo modo de extorsão para ganhar o que queria, e claro, Hades tinha esses líderes aos seus pés . Muitos homens de honra optaram por usar a imagem da igreja como pretexto para manter a boa imagem diante a comunidade siciliana. Hades nunca precisou fingir, muitas pessoas de fé temia a Deus no juízo final por causa de seus pecados praticados em vida, temiam a morte. Hades não era um Deus, mas era m
“Há certas promessas que você faz que são mais sagradas que qualquer coisa que acontece em um tribunal de justiça, eu não me importo para a quantidade de Bíblias em que você põe sua mão.” Paul Castellano Svetlana calculou todas as variantes de que se precisasse mataria seu mais novo esposo no altar. Ela sabia que sua entrada chocou a todos, principalmente quando escolherá entrar com as armas banhadas a ouro em mãos em vez de um buquê estúpido. A cerimônia aconteceu normalmente até o homem à sua frente falar sobre a ormetà¹. — O pedido especial da noiva é que o senhor Hades D'Angelo jure a omertà a ela — Svetlana quis sorrir ao olhar para Hades. Sim, ela tinha ousado colocar a omertà no casamento, assim como ela, ele iria fazer o voto de silêncio da família. Hades ficou de frente para Svetlana e seus azuis vieram para ela. Sem hesitar ele tirou uma adaga do cós da sua calça e levantou
“Alguns deles, excluindo a parte criminosa de suas vidas, podem ser gente muito bacana.”Rudolph Giuliani Hades tinha que mostrar para o seu recém sogro que ninguém iria desrespeitá-lo, foi uma ofensa de grandes proporções não ter ido ao seu casamento. Os italianos eram povos extremamente familiares, não vir nenhum membro da famiglia de Svetlana foi uma mensagem de que não se importava com tal aliança que seu consigliere fora tão persistente. — Sua famiglia, como está? — Hades perguntou para sua recém esposa enquanto a girava pelo salão, dançando. Svetlana o olhou com curiosidade, ele tinha reparado como ela analisava sua interação com seus irmãos, e com todo o ambiente, em nenhum momento sua esposa parou de analisar tudo e todos. — Eu não sei, não falo com eles — Ela esticou seu pescoço olhando tudo por cima dos ombros de Hades. — Eles não terem vindo foi uma desonra com você, esposa — Svetlana olhou seu corpo tensionando levemente. — Eu não me importo. — Ela disse
“Um dos princípios da máfia italiana, é nunca trair a esposa, pois: se você é capaz de trair quem confia em fechar os olhos e dormir ao seu lado, você não é digno de confiança de ninguém"Máfia italiana Na manhã seguinte Hades se levantou da cama sozinho. Rapidamente se sentou procurando sua esposa, a arma debaixo do travesseiro foi pega em segundos e em movimentos ágeis ele estava esticando seus braços deixando a arma na altura dos seus olhos e consequentemente todos os pontos da suas costas apertam a pele. Ele olhou ao redor de seu quarto procurando por alguma ameaça ou inimigo. Não tinha amanhecido ainda para a claridade tomar conta do cômodo. A arma foi travada quando ele reparou em um pequeno corpo feminino enrolado em cobertas no canto da parede ao seu lado esquerdo, não muito longe da cama. O simples clique da trava fez Svetlana abrir os olhos e ela olhou para ele com suas íris escurecidas, ele quase não reconheceu o seu rosto e de como ele ficou com aqueles olhos azuis o