Mundo de ficçãoIniciar sessãoIsadora precisava de ar.
A música alta, as luzes piscando, o calor da pista de dança — nada disso explicava o nó em seu peito. Era ele. A forma como segurou sua cintura, a maneira como a voz grave reverberava em seu ouvido, o olhar que parecia capaz de despir mais do que roupas… tudo a deixava em alerta. Determinada a recuperar o controle, avisou às amigas que iria embora mais cedo e caminhou até a saída. A noite fria bateu contra sua pele como um choque de realidade. Era isso. O suficiente de emoção por uma noite. Ou pelo menos era o que ela queria acreditar. — Achei que tinha te perdido na multidão. A voz surgiu logo atrás dela, fazendo o coração acelerar sem permissão. Quando se virou, encontrou novamente aquele olhar firme, agora iluminado apenas pelas luzes da rua. Ele estava ali, como se tivesse previsto que ela não conseguiria simplesmente desaparecer. — Você sempre segue mulheres que mal conhece? — Isadora ergueu o queixo, tentando manter a postura. — Só quando elas me deixam intrigado — respondeu com naturalidade, como se fosse impossível sentir vergonha. Isadora bufou, tentando disfarçar o arrepio que percorreu sua pele. — Pois devia aprender a lidar com a frustração. Ele deu um passo à frente. — Não sou bom em aceitar frustrações. A proximidade era perigosa. O perfume amadeirado se misturava ao frio da noite, criando um contraste que a deixava tonta. Isadora precisava ir embora. Precisava. Mas seus pés pareciam enraizados no chão. — Eu tenho que ir — ela murmurou, finalmente encontrando forças para se afastar. — E eu tenho que descobrir seu nome — ele rebateu, com um meio sorriso. Isadora sentiu a boca secar. Parte dela queria ceder, se apresentar, se render à curiosidade que ele despertava. Mas a parte racional gritava que aquilo era loucura. Ela apenas sorriu de canto, sem dar resposta, e começou a caminhar pela calçada. Ainda assim, não resistiu à tentação de olhar por cima do ombro. Ele continuava parado ali, observando-a como se tivesse acabado de encontrar um enigma que não poderia descansar até decifrar. E, naquele instante, Isadora soube: por mais que tentasse resistir, aquele encontro não terminaria naquela noite. - Isadora caminhava pela calçada tentando convencer a si mesma de que tinha feito o certo. Ele era só um estranho. Um homem sedutor, arrogante e insistente, mas ainda assim… um estranho. Só que cada passo longe da boate parecia pesar mais, como se estivesse deixando para trás uma chance de respirar algo diferente, de sentir-se viva outra vez. — Você não vai mesmo me dizer seu nome? A voz surgiu outra vez, agora mais próxima. Ele havia a seguido, sem esforço, como se soubesse que ela não teria forças para afastá-lo de vez. Isadora girou o corpo para encará-lo, pronta para repreender, mas o que encontrou foram olhos tão intensos que toda a raiva se dissolveu. — Não costumo dar informações pessoais para homens misteriosos que aparecem do nada em boates. — E eu não costumo me sentir desafiado desse jeito por alguém que acabei de conhecer. — Ele sorriu, inclinado, como se confessasse um segredo. Havia algo na sinceridade daquela frase que desmontou suas últimas defesas. Por que não? Por que não, por uma vez, se permitir? Ela passara anos controlando cada passo, cada escolha, como se a vida pudesse ser planejada em linhas de código. Mas ali, diante dele, nada fazia sentido. — Está me seguindo por quê? — ela perguntou, com uma provocação que não conseguiu disfarçar. — Porque não consegui me despedir ainda. — A resposta foi simples, mas carregada de uma intensidade que a fez estremecer. Um silêncio denso pairou entre eles. E então ele estendeu a mão. — Vem comigo. Só essa noite. O coração dela disparou. Mil razões para recusar correram pela mente: segurança, reputação, bom senso. Mas nenhuma foi forte o bastante para segurar o impulso. Isadora colocou a mão na dele.






