Amanhã eu a verei de novo. E nada será simples.
Entro na minha suíte sentindo o peso inteiro da noite sobre meus ombros. O silêncio do quarto é enorme, quase acusador. Tiro o paletó, desfazendo cada botão com impaciência, como se aquilo pudesse tirar de mim o gosto amargo do que aconteceu.
Vou para o banheiro, abro o chuveiro no quente e fico ali, debaixo da água, muito mais tempo do que o necessário. Mas nada relaxa. A água escorre pelo meu corpo, mas não leva a culpa embora.
As palavras do segurança — “ela tem uma vida difícil… é uma menina trabalhadeira…“ — martelam na minha mente, como se cada sílaba me atingisse no estômago.
E eu a tratei daquela forma.
Por um erro meu.
Por um julgamento precipitado.
Por causa de um fantasma do passado — de Raifa — que eu permiti que falasse mais alto do que minha razão.
Saio do banho, seco o rosto devagar e vou até a cama. O lençol de cetim está frio, macio — conforto que agora parece indevido. Deito-me, ajeito o travesseiro, tento diminuir a tensão dos músculos… mas o sono não vem.
Amanhã eu