Mundo de ficçãoIniciar sessãoArthur
Respirei fundo, tomando um gole de whisky que um garçom me serviu, observando os convidados daquele evento. Eu já tinha conversado com nossos anfitriões que pareciam decididos a me apresentar a cada convidado, como se eu fosse algum tipo de espécime raro a ser exibido. Por que eu aceitei participar disso? Eu poderia estar tranquilo em minha casa, ou até mesmo visitando meus pais, mas não. Eu tinha que ceder às súplicas de minha amiga e me envolver nessa confusão. E a pior parte foi ter me envolvido sem saber com quem eu teria que lidar. Mas meu pensamento foi interrompido quando uma figura surgiu em meu campo de vista. Ela tinha cabelos ruivos, traços delicados e chamativos adornavam seu rosto e seu corpo estava envolto por uma seda azul marinho, destacando sua figura elegante. Meu olhar começou a acompanhar cada passo que aquela intrigante mulher dava, Margareth tinha se afastado, me deixando em um lugar um pouco oculto, livre para apreciar a beleza daquela jovem que parecia alheia à minha presença. — Artie, você me ouviu? — a voz de Margareth me trouxe de volta a realidade. — Ouvi, claro! — eu procurei disfarçar meu momento de distração, olhando em sua direção. — Mentiroso — sua gargalhada melodiosa fez com que eu abaixasse a cabeça, escondendo um meio sorriso. Margareth e eu éramos amigos há um ano, desde que comecei a trabalhar como professor de desenho arquitetônico na Huntington University. E foi essa amizade que me colocou em uma situação tão desconfortável quanto essa. Não era exatamente segredo para ninguém da universidade que Maggie mantém um relacionamento pouco convencional com algum figurão de Los Angeles, então, quando ela me disse o que sua família tinha exigido, eu não me importei em acompanhá-la e interpretar esse papel. Eu apenas não contava em receber Francis Kinahan em meu quarto de hotel, exigindo saber exatamente o que eu penso que estou fazendo com sua garota. — Parece que alguém te enfeitiçou! — Margareth me provocou, seguindo o meu olhar. — Você está imaginando coisas — eu desconversei, me virando de frente para ela, voltando a beber enquanto aquela mulher seguia para o interior da casa acompanhada de suas amigas. — Estou imaginando coisas? Por favor, Artie. Você não tira os olhos dela desde que a viu — Maggie insistiu no assunto. — Ela chama atenção, apenas isso — tentei ser evasivo. — Mesmo? — ela desdenhou. — Por que você está usando esse tom? Não pode negar que ela chama atenção, ela me lembra alguém, mas não sei ao certo quem — eu olhei em seus olhos, não me intimidando por aquela expressão que beirava a insolência que sempre estava presente em seu rosto. Eu não podia negar que Margareth era uma mulher bonita, muito bonita. Mas ela não era o tipo que me chamava atenção e nunca retribuiu qualquer tentativa de nenhum de nossos amigos, e aquilo me incentivou a nunca tentar nada com ela. E no fim, o único sentimento que surgiu entre nós foi a amizade. — Eu sei, não é estranho? Isso é porque você não a viu de perto, ela tem os olhos… — ela abaixou seu tom para quase um sussurro. Eu deixei de prestar atenção em suas palavras quando Francis Kinahan surgiu. Seu olhar se prendeu em nós dois, e ele não parecia muito feliz com minha presença. — Maggie — eu apontei, me arrependendo de ter aceitado me envolver naquela história. — Ahh meu Deus, o que ele está fazendo aqui!? A família Hayes era a clássica família de classe média alta que não se importava nem um pouco de gastar rios de dinheiro em um evento como aquele, mas ainda assim, Francis Kinahan se destacava entre os convidados. Tanto as roupas quanto as jóias que ele usava pareciam inalcançáveis para a maioria ali presente. Mas as coisas caras que ele usava não era a única coisa que atraia atenção de todos para ele. Apesar de ser dono de um dos estúdios mais rentáveis de Hollywood, a família Kinahan era conhecida por sua origem irlandesa, seus negócios e amizades obscuras, e as pessoas geralmente eram inteligentes o suficiente para apenas sair do caminho deles, mas quem não era tão inteligente não gostava muito da experiência. A simples presença daquele homem exalava uma aura densa que parecia contagiar a todos os presentes, que nos observavam, cochichando entre si com curiosidade enquanto ele se aproximava. Maggie mantinha um sorriso constrangido no rosto, apesar de seus olhos gritarem outra coisa. — Senhorita Hayes, senhor Holbech, que imenso prazer encontrá-los aqui — Francis estendeu a mão para mim, a apertando com um pouco mais de força que o necessário enquanto suas íris violeta pareciam ler o fundo de minha alma. — Frank, o que você está fazendo aqui? — Maggie abaixou o tom, forçando um sorriso sem graça enquanto observava o homem. — Você me disse que sua família queria me conhecer — ele devolveu. — Não, eu disse que minha família queria conhecer a pessoa com quem eu me relaciono. Você não pode simplesmente aparecer assim — ela praticamente rosnou. — Nós vamos conversar sobre isso depois — o sorriso cordial abandonou o rosto do homem, antes do seu olhar se prender em mim, fazendo com que eu mais uma vez me arrependesse de ter aceitado fazer parte daquela história. Se meu padrasto soubesse no que eu me meti… — Não, nós não vamos. Conversamos sobre isso mais cedo e já resolvemos tudo sobre esse assunto — ela devolveu sem se intimidar, o que fez com que eu me perguntasse se aquela mulher era louca — e agora você precisa ir embora! Mas antes que aquela discussão pudesse seguir, o irmão de Margareth se aproximou ao lado da esposa, com uma expressão confusa em seu rosto. — Maggie, querida. Está tudo bem? — a senhora Hayes perguntou. — Quem é o seu amigo? — Ahh esse é… — Ela balbuciou sem saber o que dizer para explicar toda aquela confusão. — Francis Kinahan. Sou um antigo amigo do feliz casal à minha frente, certo, Holbech? — Francis tomou a dianteira da situação. Não me intimidando com a situação geral, eu correspondi com um sorriso, ignorando o olhar penetrante do homem à minha frente. — Nós somos todos bons amigos. — Francis Kinahan? Como Violet Kinahan? — A senhora Hayes arregalou os olhos. As pessoas ao nosso redor ficaram surpresa com a presença do homem naquela festa. — Minha irmã mais nova — Francis esclareceu — E quando eu soube dessa ocasião especial, não poderia deixar de presenteá-los — Presente? Você trouxe um presente? Não era necessário Frank — Maggie soltou uma risada mortificada. Sua risada morreu em seguida quando um homem entrou carregando uma tela com uma pintura abstrata. Minha amiga arregalou os olhos, perdendo um pouco a cor. Seu irmão e sua cunhada pareciam confusos, e antes que se recuperassem, ela forçou um sorriso segurando minha mão, antes de empurrar Frank em direção a entrada da casa. — Com licença — ela pediu enquanto nos conduzia. — Um Pollock? Você enlouqueceu, Frank? — ela sussurrou irritada assim que estávamos sozinhos. — Eu achei um presente adequado. Você disse que eles gostaram da exposição que visitaram! — Isso deve ter custado mais de mil dólares! — Dois mil e quinhentos — ele corrigiu — mas qual o problema? — O problema é você achar que pode comprar a minha família! — ela devolveu sem se intimidar. — Eu posso comprar o que eu quiser! — ele ergueu a voz, perdendo um pouco a compostura pela primeira vez desde que chegou. Eu me sentia deslocado ao presenciar aquela discussão da qual eu obviamente não deveria participar, e estava prestes a inventar qualquer coisa e sair quando ele voltou a falar. — E agradeça de eu ter decidido apenas aparecer com um presente caro, eu deveria ter sumido com ele — Francis apontou para mim, fazendo com que eu o encarasse com as sobrancelhas erguidas enquanto Margareth empalideceu um pouco. Por um segundo eu organizei uma defesa simples e direta em minha mente, torcendo para que desse resultado e eu conseguisse sair da mira do homem sem precisar recorrer a minha própria família. — Senhor Kinahan, não há necessidade nenhuma dessa reação, eu apenas aceitei acompanhar Margareth porque ela é uma amiga. Margareth logo endossou o coro ao meu favor, abaixando o tom enquanto observava o homem com uma expressão preocupada. — Sim, Frank. Ele é apenas um amigo, e eu pedi isso a ele pois sabia que não corria risco algum em sua companhia! — Nenhum risco, senhor Kinahan, meus interesses são outros — eu completei. Sim, meus interesses eram outros, como evitar toda a dor de cabeça de ser sequestrado por um de seus capangas. Francis franziu o cenho, alternando o olhar entre nós dois, parecendo em dúvida sobre o que tinha acabado de ouvir. — Mesmo? — ele buscou confirmação e Margareth logo balançou a cabeça de maneira afirmativa. Aquilo parece ter aliviado o homem, que me olhou com um discreto sorriso no canto dos lábios. — Por que não me disseram logo? Teria poupado muitas ameaças! Como se eu não estivesse falando isso desde que o conheci! — Você o ameaçou? — Acho que vocês precisam de um tempo sozinhos, então eu volto daqui a pouco — decidi me afastar daquela loucura. Ótimo, da próxima vez que decidir ajudar uma amiga é bom saber bem todos os detalhes da história!






