Emilly

— Sua mãe não queria que você viesse? — Connie perguntou enquanto nós nos arrumavamos para a festa no quarto da Scarlett.

As duas foram me buscar em casa após eu ligar mais cedo, e eu apenas trouxe meu vestido e minha bolsa. Depois eu poderia lidar com a irritação de minha mãe, mas neste momento a única coisa que eu queria era aproveitar aquela noite da melhor maneira possível.

— Eu não sei o que aconteceu, ela recebeu uma ligação e de repente insistiu que eu deveria ficar em casa. Antes ela iria até me ajudar a me arrumar — eu contei enquanto modelava meus fios ruivos em frente ao espelho, pensando se deveria ou não prendê-los.

— Sua mãe é uma mulher com muitos segredos, não é? — Scarlett me provocou.

Eu pensei por um segundo naquela afirmação, mas logo a afastei de minha mente.

— Não, ela tem uma vida pacata demais para segredos. A rotina dela se resume a cuidar de mim e trabalhar, desde sempre. Ela não teve outros relacionamentos, não costuma sair — eu balancei a cabeça em negativa — Acho que a perda do meu pai mexeu muito com ela. Quero dizer, ela se viu sozinha, com um bebê e obrigada a trabalhar para cuidar de todos os detalhes.

— Eu concordo, não deve ter sido fácil, a senhora St Clair foi muito corajosa e deve ter amado muito o seu pai para não ter se casado novamente — Connie concordou comigo.

Já me sentindo farta daquele assunto, decidi tentar mudar o foco da conversa.

— E a Maggie? Eu não a vi desde que cheguei.

— Alerta de fofoca — Connie cantarolou, prendendo seus fios dourados em um coque, destacando seus olhos verdes.

— O que aconteceu? Ela não voltou a tempo?

Margareth tinha viajado para LA há dois dias, afirmando precisar resolver um problema na universidade antes do início do ano letivo, mas nós desconfiávamos de sua justificativa.

— Meu pai quis conhecer o amigo de quem ela tanto fala, então ontem ela apareceu com um amigo que é professor na universidade — Scarlett abaixou o tom.

Um professor? Desde quando um professor recebe o suficiente para dar tantos mimos quanto os que ela recebe?

— Quanto ganha um professor? — eu franzi o cenho.

— Esse é o ponto! Não podemos negar que ele é um verdadeiro pedaço de mal caminho, mas não tem como ser o tal amigo dela — Scarlett devolveu.

— A grande questão, é que hoje um homem que parecia ser bem mais velho veio procurar por ela — Connie relatou — eu não consegui ver seu rosto, mas tudo nele gritava dinheiro.

— Isso foi antes mesmo do desjejum e ela não voltou até agora — Scarlett confirmou a história.

Uma batida na porta interrompeu nossa interação e a senhora Heyes se juntou a nós para que a ajudassemos a ajustar o vestido. No fim, não demorou para estarmos caminhando juntas em meio aos inúmeros convidados da festa.

Uma grande tenda tinha sido montada no jardim da mansão, e nós caminhávamos ao redor da piscina, aproveitando o clima quente da noite e os petiscos servidos antes do jantar

Scarlett apontou para a tia que saia da casa para o jardim, caminhando ao lado de um homem, mas como ambos estavam sempre conversando com alguém, não consegui ter uma visão clara dele, mas apesar de ser apenas um professor, suas roupas não pareciam ter sido baratas.

Maggie se afastou de onde estávamos e não tive a chance de ver o rosto de seu amigo com clareza, mas isso não impediu que as garotas sonhassem acordadas.

— Será deselegante se nós seguirmos os dois pela festa? — Scarlett zombou, enquanto esticava o pescoço, tentando ver para onde estavam indo.

— Seus pais te matariam, Scarlett — Connie devolveu, apesar de se esforçar para ter uma visão melhor do casal.

— Vocês duas podem se acalmar? Tenho certeza que logo a Maggie virá nos cumprimentar — eu aceitei uma taça de champanhe que um dos garçons ofereceu.

— Tem alguma chance dele ser nosso professor? — Connie soltou em meio a uma risada, parecendo ter conseguindo um vislumbre de seu rosto.

Uma pontinha de inveja começou a queimar em meu interior, as duas tinham algo que eu desejava muito e provavelmente eu jamais alcançaria. Principalmente depois de ter desobedecido minha mãe essa noite, ela com certeza já deu pela minha falta e está furiosa em casa.

Minha mãe… qual será o preço por tê-la desafiado da maneira que fiz? O que me espera quando eu voltar para casa?

— Amy, você está bem? — Connie chamou minha atenção

— Sim… eu apenas vou ao toalete — forcei um sorriso.

— Nós vamos com você — Scarlett envolveu meu braço com o seu — você não parece nada bem.

Apesar de desejar ficar um pouco sozinha eu não pude recusar a companhia, e nós caminhamos juntas em direção a entrada da casa, já estávamos quase alcançando a porta dupla que nos levaria ao hall de entrada quando a voz de Hilda nos interrompeu.

— Senhor, se puder esperar aqui, eu chamarei a senhorita Hayes.

Nós olhamos para a porta dupla que estava aberta e levaria até o hall de entrada, foi quando uma figura imponente surgiu. O homem era alto, tinha um olhar perigoso e caminhava com passos confiantes.

— Tolice, eu consigo encontrá-la sozinho, então preciso de ajuda…

Mas o que me fez congelar em meu lugar foram suas características físicas, seus cabelos eram ruivos, pele branca e olhos cor de violeta que eu jamais tinha visto sem ser no espelho.

Ele, que antes parecia tão decidido, se surpreendeu, interrompendo seus passos quando seu olhar encontrou o meu.

— Com licença, eu posso ajudá-lo? — Scarlett tomou a frente da situação, parecendo não notar nada de diferente no ar.

— Eu estou procurando pela Margareth — ele desviou o olhar de mim brevemente, parecendo se lembrar do motivo que o levou até ali.

— E quem é você?

— Eu sou Francis Kinahan, é um prazer conhecê-la — ele estendeu a mão, me fazendo arregalar os olhos.

O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI?