07. Ecos do Passado

Emilly

Uma brisa suave agitou os fios espessos e rubros de minha cabeça, eu beberiquei o conteúdo da taça de champanhe que eu segurava, observando a escuridão da noite que nos cercava. Eu tinha decidido aproveitar um pouco a distração causada pelo caro presente que Francis Kinahan trouxe para os Hayes e fui para uma das varandas que dava para a frente da casa, tentando acalmar minha mente.

Não se apavore, Amy. O homem tem a mesma cor de olhos e cabelos que você, mas isso não significa nada. Tudo bem, olhos violeta são extremamente raros, principalmente combinados com cabelos ruivos. Mas coincidências acontecem, certo?

Sim, uma coincidência, apenas isso. Eu não tenho nenhum motivo para pensar o contrário.

Um calafrio passou pela minha espinha e eu me virei depressa ao sentir uma presença tão forte que era quase opressora perto de mim.

— Sr Kinahan!

Ele estava parado junto a porta recém fechada, me observando com um olhar analítico sem a menor cerimônia.

— Boa noite, senhorita St Clair — ele se manifestou após alguns segundos em silêncio.

Eu não consegui elaborar uma resposta em um tempo hábil, e o homem aproveitou aquela brecha para se aproximar, tomando um gole do copo de whisky que ele segurava enquanto se debruçava sobre o guarda corpo, observando o céu estrelado.

— Está uma bela noite, não acha? Senhorita St Clair? — ele declarou sem me olhar.

— Sim, está uma noite muito agradável — eu concordei, me sentindo incapaz de me mover, apesar do meu desejo de fugir imediatamente daquele lugar.

Francis ficou em silêncio, bebendo seu whisky observando a escuridão ao nosso redor, eu estava prestes a me retirar quando ele voltou a se manifestar.

— St Clair, St Clair St Clair… — ele repetiu meu sobrenome de maneira pensativa antes de se virar para mim — esse nome me parece familiar.

— Talvez seja um sobrenome comum em Los Angeles — eu ponderei.

Seu olhar se fixou no meu, fazendo meu sangue gelar enquanto um discreto sorriso surgiu no canto de seus lábios.

— Eu não acho que seja o caso, senhorita St Clair… me diga, quem são seus pais?

Eu sabia o que estava implícito naquela pergunta e não podia acreditar que aquele homem pudesse sequer cogitar aquela hipótese apenas por conta dos meus olhos.

— E então? — ele chamou minha atenção para o fato de que eu não tinha respondido sua pergunta.

— John e Vivienne St Clair. Esses são os meus pais, minha mãe é a modista que fez os vestidos da Maggie — eu balbuciei em resposta.

Seu olhar ganhou um brilho astuto, ele tomou mais um gole de seu whisky, sem desprender o olhar do meu, fazendo meu coração se inquietar.

— Uma modista… o valor que eu paguei foi bastante considerável.

— Você viu como Margareth está linda? Não acha que vale o que você pagou? — eu o desafiei.

— Isso não vem ao caso, Margareth ficaria linda mesmo vestindo um saco de batatas — ele devolveu sem se intimidar.

— Não significa que não valem o preço.

— Eu nunca disse isso.

Nós voltamos a ficar em silêncio por alguns segundos, e daquela vez eu estava decidida a inventar uma desculpa e sair daquela situação.

— Acho melhor eu ir, minha amigas devem estar me procurando — eu forcei um sorriso, dando as costas para ele.

Cheguei a dar dois passos em direção a porta quando sua voz fez com que eu interrompesse meus passos mais uma vez.

— Eu conheci uma Vivienne uma vez, Vivienne Dupont. Ela era assistente de um dos estilistas do estúdio — sua voz saiu distante, como se sua mente estivesse presa em uma outra época — ela era muito bonita e intrigante. Uma pena que seu caráter não era compatível com sua beleza.

Eu senti meu coração acelerar diante daquela frase. Não era possível que sua insinuação fosse real, certo?

— Isso aconteceu há cerca de vinte anos. Me diga, senhorita St Clair, qual é a sua idade? — um sorriso quase perverso surgiu em seus lábios, fazendo meu sangue gelar.

Sem me dar ao trabalho de respondê-lo eu entrei na casa, apressando meus passos em direção à saída, não me sentindo mais à vontade para permanecer naquele ambiente. Forcei um sorriso simpático para a empregada que estava junto a porta e estava quase conquistando minha liberdade quando uma voz deteve meus passos.

— Amy, onde você esteve? — Scarlett perguntou surpresa..

Ela e Connie estavam indo em direção ao jardim onde acontecia a festa quando me encontraram.

— Desculpe,eu preciso mesmo ir, eu já devia ter voltado — eu balbuciei.

— Se isso é pela discussão com sua mãe, você pode apenas ligar para ela e avisar que amanhã de manhã você volta, eu mesmo te levo — Scarlett tentou me tranquilizar.

— Não, eu preciso ir agora, não posso ficar até amanhã, ela deve estar preocupada — eu tentei encerrar o assunto ao ver Francis caminhar calmamente em nossa direção.

— E você vai sozinha? Já está tarde — Connie cruzou os braços.

— Não é um problema. Eu sempre morei aqui e…

— Não é adequado uma jovem tão bonita caminhar sozinha a essa hora da noite — Francis chamou nossa atenção.

Ele não pode se oferecer para me levar em casa! O que vou dizer? Além disso, minha mente ainda estava uma bagunça tentando entender tudo o que aconteceu.

— Realmente não é um problema, senhor Kinahan. Eu não moro tão longe, e…

— Não mora tão longe? Você teria que caminhar por cerca de trinta minutos! — Scarlett me interrompeu, fazendo com que eu lhe lançasse um olhar urgente.

— Eu posso…

— Meu motorista te levará para casa, não se preocupe, senhorita St Clair — Francis me interrompeu — e antes que você tente negar, eu não aceito um não como resposta.

Não tive como fugir, mas pelo menos, o próprio Francis permaneceu na festa, me deixando aos cuidados de seu motorista, o que me deixou livre para pensar no que estava me esperando em casa.

Logo eu estava parada em frente a calçada de nossa casa, com o coração batendo com força em meu peito, imaginando o que eu teria que enfrentar quando abrisse aquela porta. Aquela era a primeira vez que eu desobedecia minha mãe, e devo assumir que era apavorante.

Tomando coragem, eu abri a porta, entrando em casa. Minha mãe estava sentada em uma poltrona, com o olhar fixo no vazio e uma expressão neutra em seu rosto.

— Eu cheguei — decidi me manifestar após alguns segundos parada no mesmo lugar, apesar de saber que ela já tinha notado minha presença.

Minha mãe respirou fundo, como se estivesse procurando forças para manter a calma antes de olhar em minha direção, e seus olhos fixos em mim fizeram meu sangue gelar, sabendo que eu tinha ultrapassado os limites naquela noite.

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