Mundo de ficçãoIniciar sessão1954
Emilly O sol da manhã entrava pela janela do meu quarto enquanto eu arrumava meus fios ruivos com esmero, soltando os grandes rolos de cabelo antes de prendê-los parcialmente, observando se minha aparência estava aceitável. Na última semana eu vinha trabalhando com minha mãe em seu ateliê, ela era a principal modista de todo o condado e sua assistente estava doente, e eu sabia que ela gostava que eu estivesse perfeita em todos os aspectos. Passei um batom vermelho em meus lábios antes de me levantar, indo até meu armário, observando a camisa listrada e bermuda caqui que eu desejava vestir naquele dia, mas optei por uma camisa azul e saia florida, sabendo que aquela escolha agradaria mais a minha mãe. — Emilly, já está pronta? Você irá se atrasar outra vez — minha mãe reclamou, aparecendo na porta do meu quarto — Ótimo, você ainda sequer calçou os sapatos! — Eu já estou calçando — eu avisei. O olhar de minha mãe desceu para o sapato peep toe que eu tinha escolhido, fazendo uma careta de desaprovação surgir em seu rosto em seguida. — Acho que é melhor escolher outro sapato, Emilly, Querida. -– Por que? Eles combinam com minha roupa — eu franzi o cenho. — Sim, não estou dizendo que não combinam. Mas você sabe que seus dedos dos pés não são seus pontos fortes, querida — Ela apontou — Além disso, os saltos estão muito baixos, se você colocar um mais alto vai ter uma figura mais elegante e menos… Rechonchuda. Eu franzi o cenho, me olhando no espelho em busca de algo errado com minha aparência. Eu estou acima do peso? Ela se colocou ao meu lado em frente ao grande espelho de corpo inteiro que eu tinha em meu quarto, sorrindo ao admirar sua figura elegante refletida. — Não se preocupe querida, não é culpa sua se você não conseguiu uma genética tão boa quanto a minha. Mas você pode compensar isso com as escolhas corretas — garantiu ela. Eu voltei a observar a minha figura refletida no espelho, franzindo o cenho ao não encontrar nada de errado enquanto minha mãe saia do quarto. — Eu não estou acima do peso, mãe! Eu sou mais magra que a maioria das moças da região — eu reclamei, optando por um scarpin de saltos altos, apesar de discordar de suas observações. — Ainda não, querida. Mas você está a uns passos de ganhar algumas dobrinhas indesejadas, mas não se preocupe, eu descobri uma nova dieta ótima — ela garantiu, me fazendo suspirar. Aquilo era típico, desde a minha primeira menstruação minha mãe me submetia a inúmeros tipos de dietas para que eu tivesse uma “figura elegante”, e constantemente ela culpava meu peso pelo fato de ainda não ter nenhum pretendente — pelo menos, não um que fosse financeiramente vantajoso. Na verdade, minha mãe sonhava que eu repetisse sua história, ela conheceu meu pai aos vinte anos em uma visita a um hospital especializado em tuberculose, ele se apaixonou por ela à primeira vista, e eu não podia culpá-lo, minha mãe era uma mulher muito bonita, mesmo depois de vinte anos. A ausência de um tratamento eficaz para a doença em 1938 fez com que ambos decidissem se casar, juntando o que restava da fortuna que ele gastou com o tratamento para tentar viver sua vida da melhor forma possível. Ele faleceu alguns meses após o casamento, deixando-a grávida, decidida a fazer o melhor por mim. Foi isso que a impulsionou a abrir mão de todos os seus sonhos e ambições. Ela vendeu tudo o que tinha em Los Angeles e montou seu ateliê em Palm Springs, se esforçando para nos manter de maneira confortável. Todo o seu sacrifício fez com que ela criasse muita expectativa sobre meu futuro, ansiando o dia em que eu conquistaria o coração de um homem rico e me tornaria a esposa perfeita que lhe renderia uma boa aposentadoria e ela poderia descansar de todo o enfado que me criar sozinha por tantos anos lhe causou. Mas em meu coração eu ansiava por outra vida. Eu via tantas mulheres incríveis que conseguiam construir carreiras, serem independentes, livres sem ter a obrigação de manter uma casa bem cuidada, filhos limpos e o jantar na mesa enquanto aguarda o marido retornar do trabalho. Aquela liberdade era o que eu almejava para minha vida. Eu não era contrária a ideia de me casar, mas eu tinha para mim que isso aconteceria apenas se eu me apaixonasse de verdade por uma pessoa e não por uma conta bancária. Mas minha mãe não podia sequer desconfiar desse tipo de pensamento. — Emilly, você está me ouvindo? — minha mãe chamou minha atenção. — Sinto muito, eu me distrai — eu pisquei atordoada. — Como sempre com a cabeça nas nuvens. Você precisa se concentrar mais, querida. Nenhum homem gosta de uma esposa que não presta atenção no que ele diz. — Que bom que não estou falando com um homem agora, certo? — eu forcei um sorriso, recebendo um olhar astuto em troca, mas ela decidiu não comprar aquela briga — O que a senhora disse? — Nós teremos clientes importantes hoje, a família Hayes chegou para passar as próximas semanas e Scarlett pediu para avisar que virá com uma amiga para encomendar vestidos para a festa de aniversário de casamento do Sr e da Srª Hayes — ela declarou enquanto seguimos em direção a garagem, para ir até o ateliê. — Ela trouxe uma amiga dessa vez? Ela sempre vem sozinha com o irmão. — Você deveria prestar mais atenção no irmão dela, poderia ser uma companhia interessante — ela sugeriu, me fazendo arregalar os olhos. — Mãe! — Você sabe que a família é muito bem estabelecida, querida. — Ele é um garoto de dezesseis anos muito acima do peso, mãe! — eu virei para ela depois de entrar no carro. — Isso só prova que você precisa correr, está ficando sem opções, querida — ela devolveu sem se abalar. Eu decidi não responder aquela provocação. Minha mãe estava decidida a me casar, e cabia a mim arrumar uma maneira de perseguir meus sonhos sem me indispor com a pessoa que desistiu de toda sua vida por mim. Eu só não tinha certeza como fazer isso, e nem desconfiava que em breve toda a minha vida desabaria ao meu redor.






