Ao distinguir a silhueta vaga na penumbra, Gabriel estendeu a mão, prestes a tocá-la. Mas parou no ar.
Em seguida, tirou do bolso um pequeno maço de lenços limpos e passou-os com cuidado pelos dedos, como se temesse levar qualquer impureza até Beatriz.
Não ousou acariciar-lhe os cabelos, no fim, limitou-se a segurar a mão dela por cima do cobertor.
Não saiu dali. Ficou de pé, imóvel, por muito tempo.
O silêncio profundo da noite parecia um julgamento implacável, obrigando-o a reviver mentalmente, uma e outra vez, os dois anos de casamento, anos em que Beatriz sempre lhe fora respeitosa, submissa, cuidando dele com extrema atenção e carinho.
Quanto mais lembrava o quanto ela havia sido boa para ele, mais nítido se tornava o contraste: o quanto ele fora ingrato, cego, de coração endurecido.
Principalmente no mês após o divórcio... Quantas coisas ele fizera para feri-la, para gelar o coração dela, para despertar nela desprezo e ódio, deixando-a marcada por cicatrizes que talvez jamais sum