— Estou te dando três dias. Livre-se dessa mulher.
Isabella desprendeu a mão da de Dante como se livrasse de um peso. A noiva doce e grudenta havia desaparecido.
Claramente a princesa da máfia tinha pouca paciência para os casos de seu futuro marido.
Ela saiu com passos firmes em seus saltos altos.
Ao passar por mim, sua bolsa raspou contra o corte em minha mão. Com força.
Uma dor aguda me percorreu. Mordi o lábio para não gritar.
Depois que ela saiu, Dante fechou a porta do escritório.
Seu olhar estava frio, e nele já não havia o mínimo do calor de antes.
— Antonio disse que você quer se demitir? Não aprovo. Mas depois do que aconteceu hoje, vou te dar duas opções.
Ele caminhou até o bar e serviu um uísque para si mesmo. Não serviu um para mim.
— Opção um: você paga cinquenta milhões de dólares à família Rossi pelos danos à reputação deles.
Eu o encarei, incrédula.
— O quê?
— O escândalo de ontem à noite prejudicou a reputação de ambas as nossas famílias. — Ele disse, com uma calma serena. — Alguém precisa assumir a responsabilidade.
— Eu não fiz nada!
— Sua presença lá foi o erro. — Ele tomou um gole de sua bebida. — Opção dois: você se desculpa. Publicamente. Para Isabella. Para os meus capangas. Você admite que me seduziu. Você jura que desaparecerá. Em troca, eu te transfiro para minha propriedade na Costa Oeste. Você pode continuar seu trabalho lá.
Senti meu sangue gelar.
Trabalho?
Ele só queria me trancar para sempre longe de tudo.
Ele queria que eu me desculpasse… que dissesse que tudo entre nós foi culpa minha…
— Você está louco, Dante? — Minha voz tremia. — Quer que eu me desculpe? Pelo quê? Por te amar? Você foi quem...
— Decida, Elara.
Seus olhos brilharam por um segundo, mas então se transformaram em gelo novamente.
— E se eu me recusar?
Ele baixou o copo e caminhou na minha direção.
— Então você perderá tudo. Mesmo que me deixe, vou garantir que você nunca mais trabalhe neste país. — Parou diante de mim. — Você sabe que tenho esse poder.
Eu o encarei, esse homem que eu pensava conhecer.
— Escolho a segunda opção. — Falei com os dentes cerrados. — Mas esta é a última vez.
— Reunião de família. Amanhã, 15h.
...
No dia seguinte, eu estava na sala de reuniões da família Costello.
Cerca de uma dúzia de homens vestidos em ternos caros, o coração da família, sentavam-se ao redor de uma longa mesa.
Isabella estava à direita de Dante, com um sorriso vitorioso no rosto.
— Senhores. — Dante levantou-se. — Estamos reunidos hoje para resolver um… mal-entendido desagradável.
Seus olhos encontraram os meus.
— Elara, por favor.
Respirei fundo e levantei-me.
— Eu… quero me desculpar pelo que aconteceu. — Minha voz era um sussurro. — Foi minha culpa. Eu não deveria ter ido lá.
— Mais alto. — Isabella ordenou. — Que todos possam ouvir.
Apertei os punhos.
— Peço desculpas por minhas ações. — Elevei a voz, as palavras com gosto amargo. — Fui eu que persegui o Senhor Costello. Comportei-me de forma inapropriada. Foi um erro, e não consegui me controlar.
A sala ficou em silêncio.
Alguns dos homens mais velhos trocaram olhares. Alguns balançaram a cabeça, outros esboçaram sorrisos de desdém.
— Prometo… que nunca mais incomodarei esta família. — Forcei as palavras para fora. — Eu irei embora. E não voltarei.
— Bom. — Um dos homens de cabelos brancos consentiu. — Não é crime um jovem cometer um erro, contanto que aprenda com ele.
Lembrei de dois anos atrás, nesta mesma sala, quando Dante mostrou a eles uma pintura renascentista que eu restaurei.
— Elara é um gênio. — Ele disse na época. — Ela consegue trazer a arte morta de volta à vida.
O orgulho e a admiração em seus olhos naquele momento pareciam uma piada cruel agora.
— Reunião encerrada. — Dante anunciou.
Enquanto todos saíam, Isabella passou por mim. Seu ombro chocou-se contra o meu. Ela se inclinou, seu perfume forte e sufocante.
— Boa garota. — Sussurrou. — Da próxima vez, chore. Deixa a atuação mais convincente.
Logo, só restou Dante e eu na sala.
— O corte ainda dói? — Ele perguntou, apontando para minha mão enfaixada.
Eu o encarei, incapaz de acreditar que ele tivesse a ousadia de perguntar.
— Está fingindo que se importa?
— Depois que terminar seus projetos, vou te dar uma semana de licença remunerada. Então pode fazer as malas para a propriedade da Costa Oeste. — Ele ignorou minha pergunta. — Descanse.
— Obrigada por sua misericórdia, chefe. — Retorqui com sarcasmo. — Posso ir agora?
Ele acenou com a cabeça.
Virei-me para sair, mas parei na porta.
— Dante. — Disse, olhando para trás, para ele. — Você se lembra da "Vênus Adormecida"? Passei três meses restaurando-a, e você disse que era a coisa mais linda que já viu.
Seu rosto se fechou instantaneamente.
— Finalmente entendi. — Uma risada amarga escapou de meus lábios. — Você nunca me amou. Você amava o que eu podia fazer. Eu conserto as suas coisas quebradas. Eu as trago de volta da morte.
Encontrei seus olhos. — A diferença, Dante, é que uma pintura não pode amar você de volta. E não pode lhe causar problemas.
Não esperei sua resposta. Simplesmente saí.
De volta ao meu apartamento, comecei a fazer as malas.
Joguei tudo relacionado a Dante em um saco de lixo.
Os livros que ele me deu, as fotos que tiramos, até os arquivos dos meus projetos de trabalho.
Estava cortando todos os laços com meu passado.
No dia seguinte, eu estava na inauguração de um novo hotel financiado pelo Grupo Costello.
Era meu último projeto antes de deixar Nova York. Eu era a responsável pela restauração e exposição de toda a arte do hotel.
— Senhoras e senhores. — A voz do apresentador ecoou pelo salão. — Recebam nossa consultora-chefe de arte, a Senhorita Elara Vance, para apresentar a coleção de arte do hotel.
Respirei fundo e caminhei até o palco.
Este era o ápice da minha carreira e, também, minha despedida.
— Obrigada a todos. — Ajustei o microfone. — Esta noite, temos o prazer de apresentar…
Mas um rebuliço repentino percorreu a multidão.
Os convidados começaram a sussurrar, vários olhares estranhos.
Confusa, olhei para o grande painel atrás de mim.
Meu coração parou.