Pensei que a noite passada tinha sido o fundo do poço.
Eu estava enganada.
Na manhã seguinte, meu celular explodiu com ligações.
— Elara, você viu as notícias? — A voz da minha amiga Sarah estava em pânico.
Abri o celular. Uma foto em alta definição me encarava.
Eu, com um vestido branco manchado de vinho, parada miserável sob a chuva.
As manchetes eram revoltantes:
AMANTE DE COSTELLO HUMILHADA EM FESTA DE NOIVADO
DA SALA DE ARTES AO QUARTO: OS SEGREDOS DO DON.
Eu estava em todos os lugares. Minha imagem distorcida, meu passado revirado, minha vida exposta.
O telefone tocou novamente.
— Senhorita Elara Vance? Sou um repórter do New York Herald. Gostaria de perguntar sobre sua relação com Dante Costello.
Desliguei.
Outra ligação.
— Quando você e o Don começaram a se envolver?
Desliguei.
— Você acha que as atitudes de Isabella Rossi foram justas?
Desliguei.
Desliguei o telefone e desabei no sofá.
Por cinco anos, tínhamos sido tão cuidadosos. Nunca um único toque em público.
Da noite para o dia, tudo foi por água abaixo.
No fim da tarde, as notícias haviam desaparecido.
Cada artigo, cada foto, sumiram como se nunca tivessem existido.
Eu sabia que era obra de Dante. Ele tinha o poder de fazer desaparecer qualquer coisa que ameaçasse sua família.
Mas outra matéria rapidamente tomou seu lugar:
BEIJO APAIXONADO DO DON COSTELLO E SUA NOIVA NO CARRO; DATA DO CASAMENTO É ANUNCIADA.
A foto mostrava Dante pressionando Isabella contra o interior de um carro em um beijo ardente.
As pernas dela estavam envoltas em sua cintura, a saia subida até a coxa.
Sua mão agarrava o quadril dela, puxando-a com força contra seu corpo.
Eles estavam se devorando.
Eu olhei para a foto, parecia que uma faca estava torcendo em meu peito.
Ontem, ele disse que éramos "estritamente profissionais".
Hoje ele é todo da Isabella.
Talvez eu fosse apenas um brinquedo desde o início. Ele nunca se importou com meus sentimentos.
Meu telefone tocou. Era Antonio.
— Senhorita Elara, o Don quer vê-la. Agora.
Hesitei. — Eu já me demiti.
— Isto não é um pedido, senhorita. — A voz de Antonio ficou firme. — O carro já está lá embaixo.
Eu sabia que não podia recusar.
No mundo de Dante, ninguém o recusava.
Vinte minutos depois, eu estava no andar mais alto da Torre Costello.
Seu escritório privativo. O lugar onde fizemos amor pela primeira vez.
O leve aroma do perfume de Isabella ainda estava sobre a mesa.
Meu estômago se contraiu.
Sua secretária me levou até a porta do escritório, mas me deixou do lado de fora.
— Espere aqui, por favor. — Disse ela. — A Senhorita Isabella está lá dentro.
Fiquei parada do lado de fora da porta.
Ela não estava totalmente fechada.
Suas vozes chegavam até mim, agudas e audíveis.
— Aquela mulher ainda trabalha para você. Não gosto disso. — A voz de Isabella era fria. — Dante, quero que você lide com ela. Agora. Na minha frente.
— Ela é minha melhor restauradora. — A voz de Dante era serena.
— Uma restauradora? — Isabella deixou escapar um riso de escárnio. — Restaurando o quê, Dante? Suas obras de arte… ou o seu corpo?
Um longo silêncio.
— Não sou idiota, Dante. — Sua voz tremia de raiva. — Ontem à noite, você fez de mim e da minha família motivo de piada. E sua solução? Jogar uma foto nossa para a imprensa? Acha que não sei o que você está realmente pensando?
Sua voz tornou-se venenosa. — Eu vejo o modo como ela olha para você. Ela te ama.
— Isso não tem nada a ver comigo.
— Nada a ver com você? — Sua voz foi um grito agudo. — E você, Dante? Você sente algo por ela? Eu quero ela fora. Quero ela longe daqui. Para sempre.
Mais silêncio. Um silêncio prolongado.
Então, sua resposta veio, com uma frieza muito grande em suas palavras.
— Ela é uma peça no jogo. Nada mais que isso.
Meu coração quebrou por dentro.
Então a porta se abriu.
Isabella saiu e me viu parada ali.
Um sorriso triunfante espalhou-se por seu rosto.
— Ah, Elara, você está aqui. — Sua voz era enjoativamente doce. — Na hora certa. Havia algo que eu queria dizer a você.
Ela caminhou até o balcão de bebidas e derrubou propositalmente uma taça de cristal.
CRASH. Estilhaços se espalharam pelo chão.
— Opa, que desastrada que eu sou. — Isabella fingiu um suspiro de surpresa. — Mas é melhor assim. Algumas coisas merecem ser quebradas, não é mesmo?
Inclinou-se, pegou um caco afiado. Num movimento brusco, sua mão golpeou e cortou o dorso da minha mão.
O sangue espirrou instantaneamente.
— Isabella! — Gritei.
— O quê? Está doendo? — Ela zombou. — Isso não é nada. Você faz ideia de como dói ver o noivo de uma pessoa se envolvendo com outra mulher?
Apertei a minha mão sangrando, encarando ela com raiva.
— Não há nada entre eu e o Dante.
— Nada? — Isabella me interrompeu, a voz como unhas num quadro-negro. — Uma garota pobre que não podia pagar os estudos, bancada pelo Don, que depois fica voluntariamente ao lado dele por cinco anos. Você acha que alguém aqui é burro?
Aproximou-se mais, com sangue nos olhos.
— Achou mesmo que seu rostinho bonito e seu corpo fariam Dante se apaixonar por você? Acorda, Elara. Você é só um brinquedo de que ele já enjoou.
— Chega. — A voz de Dante ecoou da sala.
Ele saiu, seu olhar percorrendo a cena.
Sua testa franziu ao ver o sangue em minha mão.
Mas sua expressão logo se recompôs numa máscara fria.
— Isabella, vá para casa. Tenho assuntos do trabalho para discutir.
— Trabalho? — Isabella olhou para ele com desconfiança, o tom carregado de desagrado. — Livre-se dela de uma vez por todas, Dante. Escolha. Ela… ou eu.
Dante olhou para mim, depois para Isabella.
— Ela ainda tem projetos para terminar. — Disse friamente. — Não posso deixar que sentimentos pessoais interfiram nos negócios.
— Sentimentos pessoais? — A voz de Isabella ficou com um tom afiado. — Você tem sentimentos pessoais por ela?
— Não foi isso que eu quis dizer. — Dante esclareceu. — Eu estava referindo aos seus sentimentos, Isabella. Não inventa.
Isabella franziu os olhos.
— Você não pode demiti-la… ou não quer?