CAMILA NOGUEIRA
UMA SEMANA DEPOIS
Saí da universidade com a cabeça latejando com teorias de contrato social que pareciam uma piada de mau gosto perto do meu próprio contrato. A noite estava fria em São Paulo, e eu me encolhi dentro do meu casaco. O Porsche estava esperando no estacionamento privativo que Arthur, depois de uma única ligação, tinha conseguido para mim.
Mas eu não fui direto para o carro. Eu precisava de alguns materiais especiais para uma apresentação. Havia uma papelaria 24 horas a duas quadras do campus que sempre me salvava.
Enquanto eu caminhava pela rua mal iluminada, ouvi um som. Um ganido baixo. Parei, olhando ao redor.
E eu o vi.
Encolhido na entrada de um prédio comercial fechado, tentando se proteger do vento, estava um cachorro. Ele não era um filhote, mas também não era velho. Era um vira-lata, de pelo cor de caramelo, manchado de lama e sujeira. Mas o que me pegou foram seus olhos. Eram castanhos, inteligentes e cheios de uma tristeza tão humana que me par