Helena encarava o celular como se ele fosse um portal para algo que não sabia se queria atravessar. Aceitar ou não o convite de Clara? Depois de tanto tempo construindo paredes ao seu redor, o simples gesto de se abrir para uma nova amizade parecia assustador.Respirou fundo. Pressionou o botão de chamada.— Alô? — atendeu Clara com sua voz animada.— Oi, sou eu... Helena. Ainda está de pé aquele convite para um café?— Achei que você nunca fosse aceitar! — Clara respondeu com uma risada genuína. — Claro que sim! A gente se encontra no café em frente ao prédio? Daqui a quinze minutinhos?— Estarei lá — disse Helena, tentando manter a voz firme.Assim que desligou, sentiu um frio na barriga. Talvez estivesse finalmente permitindo a si mesma respirar um pouco.---A cafeteria era acolhedora e discreta. Clara já a esperava, acenando com entusiasmo ao vê-la entrar.— Que bom que veio! — disse ela, puxando uma cadeira para Helena. — Confesso que achei que você recusaria.— Eu também achei
Sentada na cama do hotel, Helena encarava o celular com as mãos trêmulas. O título da notícia estampado em todos os portais era inconfundível:"Secretária casada com milionário para dar golpe no chefe – Veja foto do casamento de Helena Ribeiro e Eduardo Vasconcelos!"A imagem anexada era cruel: ela e Eduardo no cartório, assinando o contrato de casamento. O sorriso congelado, a cumplicidade ensaiada—uma distorção da verdade que alimentava um enredo fabricado. A manchete transformava seu casamento em uma estratégia interesseira, um golpe, uma manobra. A raiva e a impotência a consumiam.Helena sentiu um aperto no peito ao ler cada palavra. A mentira estava ali, espalhada como fogo em palha seca, impossível de conter. A sensação de invasão a sufocava, a vergonha apertava sua garganta, mas o pior era saber que, mais cedo ou mais tarde, ela teria que lidar com isso. Não podia mais se esconder. A verdade — ou a falta dela — estava exposta para todos verem. E nada desaparecia da internet. N
Helena tentava se concentrar no notebook à sua frente, mas era impossível. As palavras do relatório se embaralhavam, transformando-se em borrões indecifráveis. O trabalho remoto deveria ser sua âncora, um resquício de normalidade no meio da tempestade, mas cada vez mais parecia um castelo de cartas prestes a desmoronar.O celular vibrava incessantemente sobre a mesa, anunciando notificações que ela não queria ler. Mas a curiosidade, mesclada ao medo, falava mais alto. Com mãos trêmulas, destravou a tela."Secretária interesseira.""Golpista de luxo.""Casou por dinheiro, típica oportunista."Os comentários eram cruéis, impiedosos. O julgamento vinha de todos os lados—pessoas que ela nunca tinha visto falavam sobre ela com uma certeza ofensiva, como se fossem íntimas de sua história, como se pudessem enxergar dentro de sua alma.E como veneno, aquelas palavras se infiltravam lentamente em sua mente, corroendo sua confiança e minando suas forças.A foto dela e de Eduardo no cartório est
— Sente-se — a voz de Eduardo Vasconcelos cortou o silêncio como uma lâmina. Helena parou na entrada do escritório, o coração acelerando. Havia algo no tom dele que a deixava em alerta, mais do que de costume. Respirou fundo, ajustando a postura, e obedeceu. Eduardo não era o tipo de homem com quem se discutia — não se trabalhava ao lado dele por três anos sem aprender isso. Quando finalmente se acomodou na cadeira, ele não perdeu tempo. Com um movimento firme, empurrou uma pasta de couro em sua direção. — Leia isso. Ela olhou para o objeto sobre a mesa como se fosse uma bomba prestes a explodir. Seus olhos subiram para encontrar os dele, mas Eduardo já estava recostado na cadeira, os braços cruzados, observando-a com aquela intensidade fria e calculista. — O que é isso? — ela perguntou, hesitante, mas já desconfiando da resposta. — Um contrato — respondeu ele, a voz neutra como sempre. — De casamento. O impacto daquelas palavras a fez piscar, desacreditada. Um contrato
Helena despertou com o peso esmagador da decisão que havia tomado. A assinatura do contrato não era apenas um ato ousado — era uma rendição. Ao abrir os olhos, ela se sentiu em um campo minado, cada passo adiante prometendo mais instabilidade. Tomou um banho longo, como se a água pudesse levar consigo o turbilhão de pensamentos. Mas ao encarar o espelho, a mulher que via não parecia mais a mesma. Seus olhos refletiam incertezas e medos que ela não ousava admitir. Vestiu-se e prendeu o cabelo em um coque firme, como se a aparência impecável pudesse mascarar sua inquietação interna. Mas a cada movimento, sentia o fardo invisível que agora carregava: ser, mesmo que por contrato, a esposa de Eduardo Vasconcelos. No caminho para o trabalho, o celular vibrou com uma nova mensagem. Eduardo, em sua habitual falta de gentileza, enviara apenas uma ordem: **"Sala de reuniões 9h em ponto. Não se atrase."** Helena bufou e fechou os olhos por um momento. Ela nunca se atrasava, mas sa
O dia começou com o peso esmagador da decisão que Helena havia tomado. Após assinar o contrato, cada escolha parecia encaminhá-la a um destino inevitável, como uma peça de um tabuleiro que não podia ser movida de outra forma. Antes de seguir para o cartório, um impulso a fez desviar o caminho. Precisava visitar o pai. Era uma necessidade emocional que não conseguia ignorar. Queria vê-lo, ouvir sua voz e, de alguma forma, reafirmar sua própria coragem. Na clínica, o ambiente era acolhedor, mas carregado de uma tensão invisível. Helena caminhava pelos corredores com passos rápidos, ignorando os olhares dos enfermeiros que a reconheciam. Quando entrou no quarto, seu pai estava sentado na cama, com o semblante sereno e fragilizado. Os olhos dele se iluminaram ao vê-la. — Helena, que surpresa boa — disse ele, com a voz baixa, mas gentil. Ela se aproximou, sentando-se ao lado dele na cadeira de plástico. — Como o senhor está? — perguntou, segurando sua mão gelada. Ele sorriu, o
As luzes do apartamento de Dona Vera brilhavam contra o entardecer, emanando uma atmosfera sofisticada que Helena imediatamente percebeu ser o oposto da mansão Vasconcelos. Aqui, tudo parecia mais aconchegante e pessoal, um reflexo direto da dona do lugar. Helena ajustou o vestido enquanto seguia Eduardo pelo hall de entrada. Apesar de sua postura impecável, sentia o peso de todas as expectativas que recaíam sobre ela. O casamento repentino não era apenas um acordo entre ela e Eduardo — agora envolvia a família dele, que ela teria que convencer. Dona Vera abriu a porta com um sorriso caloroso, a elegância evidente em cada movimento. Vestia um conjunto discreto, mas sofisticado, e sua presença iluminava o ambiente. — Ah, então esta é a famosa Helena! — disse Vera, avançando para abraçá-la com espontaneidade. Helena ficou paralisada por um momento antes de corresponder ao gesto. — É um prazer conhecê-la, Dona Vera — respondeu com um sorriso nervoso. — Nada de “Dona”! Me cham
A primeira manhã na mansão começou com um silêncio incômodo. Helena despertou cedo, mas o corpo ainda se acostumava ao colchão macio demais e à ausência de sons familiares. Por alguns segundos, se permitiu esquecer onde estava. Mas, ao abrir os olhos, o quarto espaçoso, os móveis minimalistas e frios trouxeram a realidade de volta. Era o contrato. Ela se levantou devagar, ainda de camisola, e seguiu para a cozinha, na esperança de encontrar um pouco de normalidade na nova rotina. Mas normalidade não era uma palavra que combinava com a vida que havia aceitado. Eduardo já estava lá. Arrumado, impecável em um terno escuro, tomando café em pé como se o dia tivesse começado horas atrás. — Bom dia — murmurou Helena, hesitante. Ele a olhou de relance, pegou uma caneca extra e empurrou na direção dela. — Café? — Por favor. Ela aceitou, tentando não parecer desconfortável. O silêncio entre os dois era espesso, quase palpável. Eduardo voltou sua atenção para o celular, enquant