Capítulo 04

— Eles estão prontos para o café? — perguntou Gael, com a voz firme, como se não tivesse escutado a frase doce que Breno havia acabado de soltar.

— Sim… — respondi, tentando disfarçar a emoção que ainda me ardia no peito.

Ele se aproximou e pegou Bruno no colo. O menino o olhou com atenção, mas não com o mesmo brilho que iluminava os olhos quando me via. Gael, como de costume, não percebeu… ou preferiu não demonstrar que percebia.

Desci para o café com os meninos e lá estava Paulina sentada como se fosse a dona da casa, ela me olhou de maneira sarcástica e ignorei as suas provocações, eu só lembrava que tudo que eu estava fazendo era para a minha avó e por ela eu iria engolir qualquer sapo, após um café da manhã estranho Gael e Paulina se foram e eu finalmente pude respirar em paz. 

Estava de volta ao quarto dos gêmeos quando o celular vibrou sobre a cômoda. O número era desconhecido, mas o prefixo… eu reconhecia. Hospital.

— Alô?

— Senhora Leandra Félix? — A voz masculina soava formal, mas carregava uma pressa contida.

— Sim, sou eu.

— Ligamos do Hospital Santa Regina. É sobre sua avó, dona Almerinda Félix. Seria importante que a senhora viesse o quanto antes.

O chão pareceu sumir sob meus pés.

— Algum problema grave?

— Prefiro que venha conversar pessoalmente. — A ligação foi encerrada.

Um frio subiu pela minha espinha.

Peguei a bolsa sem pensar duas vezes, chamei Francisca e pedi que me ajudasse a colocar Bruno e Breno no carrinho. Gael não estava em casa e, mesmo que estivesse, não pediria permissão. Minha avó vinha primeiro.

Seu Alfredo, percebendo minha pressa, não fez perguntas. Apenas acelerou, deixando a cidade correr pela janela como um borrão.

No caminho, Bruno começou a choramingar. Breno logo o acompanhou. Tentei cantar baixinho, como minha avó fazia quando eu era criança, mas meu coração batia rápido demais para encontrar o compasso. Segurar dois bebês e a ansiedade ao mesmo tempo era sufocante, mas eu não tinha escolha.

O hospital me recebeu com o cheiro forte de desinfetante e o eco de passos apressados. Uma enfermeira me reconheceu e indicou o caminho.

— A coordenação pediu que a senhora passe lá antes de ir ao quarto.

O diretor do hospital, um homem de meia-idade com óculos finos e expressão grave, levantou-se ao me ver e apontou para a cadeira à frente de sua mesa.

— Senhora Leandra, vou ser direto. A situação de sua avó é delicada. Precisamos iniciar um novo tratamento imediatamente para estabilizar o quadro dela, mas… — ele fez uma pausa, folheando alguns papéis. — As últimas despesas não foram pagas. Se o pagamento não for feito nos próximos dias, infelizmente teremos que suspender o tratamento.

Senti um nó apertar minha garganta.

— Pensei que isso já estava resolvido… — murmurei, mais para mim do que para ele.

— Lamento. Mas precisamos agir rápido.

Assinei os documentos que ele empurrou na minha direção, sem saber de onde tiraria o dinheiro. Saí da sala com o peso do mundo nas costas.

O quarto da minha avó ficava no final do corredor. A luz suave que entrava pela janela iluminava seu rosto pálido, mas seus olhos ainda guardavam a doçura de sempre.

— Minha menina… — sua voz fraca se acendeu ao me ver. O olhar dela logo encontrou o carrinho. — E esses… anjinhos? Quem são?

— Tecnicamente, meus filhos.

Ela franziu a testa, surpresa.

— Seus… filhos? Como assim, Leandra?

Peguei os dois no colo e os acomodei de cada lado dela na cama.

— É uma longa história, vovó. O importante é que estão aqui… e que estou cuidando deles, assim como a senhora cuidou de mim.

Ela acariciou o rosto dos meninos com os dedos trêmulos e depois segurou minha mão.

— Você sempre teve um coração grande demais para este mundo, minha neta. Mas não esqueça de cuidar dele também.

As lágrimas arderam nos meus olhos.

— Não vou deixar nada acontecer com a senhora. Eu prometo.

Ficamos em silêncio, apenas ouvindo o som suave da respiração dos bebês e o zumbido constante dos aparelhos.

Os meninos a observavam com curiosidade. Ela ria das caretas deles. Ver minha avó naquela situação me partia o coração. Ela tinha renunciado a tanto para me criar… nunca me deu luxo, mas me deu algo muito maior: amor.

— Filha, parece que um dos pequenos deixou um presentinho aqui. — Ela riu, e eu não precisei de explicação para saber que se tratava de uma fralda suja. Troquei os dois e os coloquei no carrinho novamente. Depois, me deitei ao lado dela, acariciando seus cabelos até que seus olhos se fechassem e ela adormecesse com um sorriso.

Saí do hospital com a decisão tomada. Meu pai tinha me prometido: se eu me casasse com Gael, ele pagaria o restante do tratamento da minha avó. Eu não confiava nele, mas não podia ignorar essa chance.

A casa do meu pai surgia imponente atrás dos portões de ferro. Quando criança, aquele portão era apenas um obstáculo entre mim e um mundo que eu não podia chamar de meu. Hoje, era o lembrete silencioso de todas as vezes que precisei dele e fui ignorada.

Apertei o interfone, respirando fundo. Olhei para os meninos no carrinho e forcei um sorriso para disfarçar o turbilhão dentro de mim. Uma voz masculina atendeu:

— Pois não?

— É a Leandra. Vim falar com o meu pai.

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