MIA
A porta da frente cedeu com um estalo seco.
O cheiro que escapou de dentro era de coisa velha, trancada no tempo — umidade, cigarro, mofo. A casa estava mergulhada em sombras. As janelas estavam cerradas, as cortinas pesadas abafando qualquer traço de luz. Ainda assim, o ar ali dentro parecia carregar a presença dele. Do homem que me criou. Do homem que me entregou.
Do meu pai.
Entrei devagar, cada passo fazendo o chão de madeira ranger sob meus pés, como se os fantasmas do passado gemessem com a minha volta. O silêncio era estranho… denso, pesado. Como se a casa prendesse a respiração desde o dia em que eu fugi.
Tudo estava no lugar. O mesmo sofá puído, o relógio parado na parede, os quadros tortos com fotografias que agora só m