Envolvida com o Pantera
Envolvida com o Pantera
Por: Victor Lima
1- Janete

Janete Narrando

Meu nome é Janete, tenho 32 anos e sou uma mulher de poucas palavras. Sempre fui assim, direta e reta, sem paciência para rodeios ou frescuras. Não levo desaforo para casa e, se alguém acha que pode passar por cima de mim, aprende rápido que comigo as coisas não funcionam desse jeito. Meu corpo reflete minha disciplina. Faço crossfit há anos, e cada treino é um desafio que encaro de frente. Meu corpo é bem definido, músculos firmes, força e resistência que não são só físicas, mas também fazem parte da minha essência. Sempre gostei de me sentir forte, de saber que posso me defender se for preciso. Minha pele negra é um orgulho, herança que carrego com firmeza. Meus cabelos são enrolados, cheios de vida, volumosos como minha presença. Nunca precisei de ninguém me dizendo o que fazer com eles, e muito menos com minha vida. Sou eu quem dita as regras do meu caminho, e quem não gosta, que siga outro rumo.

A vida nunca me deu nada de graça. Tudo que conquistei foi com esforço, suor e determinação. Não sou de reclamar, sou de agir. Quando vejo um problema, encaro de frente. Cresci aprendendo que o mundo não é justo, mas que a gente pode, sim, lutar pelo que quer. E eu luto, todos os dias. No trabalho, sou respeitada. Não sou de sorrisos fáceis ou conversa fiada. Faço o que precisa ser feito e não espero reconhecimento de ninguém. Se tem uma coisa que aprendi cedo é que depender dos outros é o caminho mais rápido para a decepção. Prefiro confiar na minha própria força.

Às vezes, as pessoas acham que sou fria. Talvez eu seja mesmo. Mas a verdade é que eu só entrego minha confiança para quem merece. E esse número é bem pequeno. Quem me conhece de verdade sabe que, apesar da casca dura, sou leal como poucos. Protejo os meus com unhas e dentes. E, se alguém quiser testar até onde posso ir, pode ter certeza de que vai descobrir rápido.

Hoje, minha melhor amiga, Nath, me ligou empolgada. Assim que atendi, já senti que vinha ideia.

— Janete, sem desculpas! Hoje tem um baile lá no morro da Tijuca e você vai comigo! — ela disse, cheia de energia.

Revirei os olhos, mesmo sabendo que ela não podia me ver.

— Ah, Nath... Não sei se estou no clima para isso, não.

— Para de ser chata! Você nunca quer sair, mulher! Vai ser bom, a gente dança, bebe alguma coisa, se diverte um pouco. Você anda muito na sua.

Suspirei, já prevendo que ela não ia largar do meu pé tão fácil.

— Vou pensar no seu caso.

— Isso quer dizer que sim, né? — Nath insistiu, rindo.

— Isso quer dizer que vou pensar no seu caso — repeti, firme.

Ela bufou, mas eu sabia que não ia desistir tão fácil. Era sempre assim. E, no fundo, talvez eu até precisasse sair um pouco. Mas nunca entrego o jogo logo de cara. Era sempre assim. E, no fundo, talvez eu até precisasse sair um pouco.

A verdade é que faz tempo que não me permito relaxar. O dia a dia é sempre uma correria, treino, trabalho, casa, e no meio disso tudo, minha paciência para socializar foi ficando cada vez menor. Mas Nath sempre soube como me puxar de volta para o mundo, me lembrar que viver não é só cumprir obrigações. Depois de desligar o telefone, fiquei encarando meu reflexo no espelho. O rosto sério, a expressão sempre fechada, como se eu estivesse pronta para qualquer briga. Talvez estivesse mesmo. Mas será que eu estava pronta para simplesmente me divertir? Joguei o celular na cama e fui tomar um banho. No fundo, já sabia a resposta.

Assim que saí do banheiro, enrolada na toalha, escutei a campainha tocar. Franzi a testa. Quem poderia ser? Caminhei até a porta e, quando abri, lá estava Nath, sorridente e já pronta para o baile.

— Achei que você fosse pensar no meu caso — ela debochou, cruzando os braços.

— E pensei — retruquei, arqueando uma sobrancelha.

— Pois bem, sua resposta tem que ser sim, porque eu não vim aqui à toa! Agora vamos te arrumar! — Ela entrou sem cerimônia, já indo direto para o meu guarda-roupa.

Suspirei, sabendo que tinha perdido essa batalha. Nath começou a revirar minhas roupas, murmurando para si mesma enquanto analisava cada peça.

— Você tem um corpão, mulher! Bora mostrar isso! Nada de roupa séria hoje. Vamos de algo que marque essa cintura e valorize essas pernas.

Antes que eu pudesse protestar, ela já tinha jogado um vestido justo na cama.

— Veste isso. E sem reclamar! — ordenou.

Bufei, mas peguei a peça. Enquanto eu trocava de roupa, ela já separava os itens para a maquiagem.

— Nath, eu não sei fazer essas coisas — resmunguei.

— E é por isso que eu estou aqui! — ela sorriu, pegando um pincel. — Agora senta aí e deixa comigo. Hoje você vai brilhar, Janete!

Revirei os olhos, mas obedeci. No fundo, não queria admitir, mas já estava começando a gostar da ideia.

Quando me olhei no espelho depois da transformação, tive que admitir: Nath sabia o que fazia. Minha pele estava iluminada, os olhos realçados com um delineado preciso e a boca destacada com um batom que eu jamais escolheria por conta própria.

— Agora sim! Você tá um escândalo, amiga! — Nath comemorou, batendo palmas.

Dei um meio sorriso, ajeitando o vestido no corpo.

— Vamos logo antes que eu mude de ideia — resmunguei, pegando minha bolsa.

— Isso que é espírito de festa! — ela riu, me puxando porta afora.

No elevador, respirei fundo. Fazia tempo que não me permitia sair assim, sem preocupações. Talvez essa noite fosse diferente. Talvez eu realmente conseguisse me divertir. Só restava saber o que o baile da Tijuca reservava para mim. Assim que chegamos na entrada do morro, vi que os caras que estavam por ali, armados, pararam o que estavam fazendo e olharam para mim. Um deles assobiou e soltou um comentário:

— Eita, olha o morenão bonito passando aí.

Outro riu e concordou.

— Chama atenção mesmo, hein. Se eu fosse tu, tomava cuidado, viu, gata?

Revirei os olhos, ignorando as gracinhas. Nath, ao meu lado, só riu e cutucou meu braço.

— Tá podendo, hein?

Não respondi, apenas cruzei os braços enquanto os caras liberavam nossa entrada. O som do baile já ecoava mais ao fundo, a batida pesada do funk marcando o ritmo da noite.

— Vamos nessa, Nath. Quero ver se essa festa toda vale a pena mesmo — falei, enquanto descíamos pelo beco iluminado pelas luzes coloridas do baile.

A noite só estava começando.

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