Inicio / Lobisomem / Entregue ao príncipe das trevas / capítulo 2 As terras de vó'korr
capítulo 2 As terras de vó'korr

O vento nas Terras de Vo'korr não era apenas frio — era cruel, como lâminas invisíveis cortando a pele de quem ousasse pisar ali. Cada rajada trazia consigo um sussurro de antigos mortos, um chamado perverso ecoando em cada pedra rachada e árvore retorcida.

Elora caiu de joelhos, a respiração irregular arranhando sua garganta em carne viva. O chão era feito de poeira e ossos, duro e impiedoso sob suas mãos ensanguentadas. Sua mente girava em confusão: lembrava-se apenas de correr, de um clarão de magia explodindo atrás dela... e então, a escuridão.

Agora estava ali. Perdida, machucada, sozinha.

O céu acima era um tapete negro dilacerado por relâmpagos esporádicos, iluminando por um segundo os horrores daquele mundo: árvores mortas parecendo braços esqueléticos, colinas com silhuetas de ossadas enterradas pela metade.

Então vieram os sons.

Passos pesados. Rosnados.

Elora tentou ficar de pé, mas suas pernas falharam. Antes que pudesse rastejar para longe, três figuras emergiram das sombras. Lobisomens em forma semi-humana, enormes, vestindo armaduras negras com símbolos entalhados que pareciam pulsar com uma magia própria.

O maior deles, olhos dourados penetrantes, aproximou-se em poucos passos, o cheiro de sangue e terra molhada emanando de sua pele.

— Como você atravessou as barreiras, cadela? — rosnou ele, agarrando Elora pela garganta com uma força brutal.

Ela arfou, incapaz de responder. O terror latejava sob sua pele como fogo.

O segundo guarda a chutou nas costelas com violência. A dor explodiu, rasgando um grito rouco de seus lábios.

— Talvez devêssemos arrancar a resposta dela — sugeriu o terceiro, a voz impregnada de sede de sangue.

Antes que pudessem seguir com sua ameaça, uma presença cortou o ar como uma lâmina.

Todos se congelaram.

Uma mulher apareceu entre as árvores — alta, vestindo uma túnica negra que ondulava mesmo sem vento. Seus cabelos prateados caíam como correntes de gelo sobre os ombros, e seus olhos... seus olhos eram vazios, pálidos como luas mortas. Não havia calor nela, apenas um abismo.

Os guardas imediatamente abaixaram as cabeças.

— Uma invasora — relatou o líder, cuspindo perto dos pés de Elora. — Talvez uma espiã.

A mulher caminhou até Elora, inclinando a cabeça como quem analisa um verme.

— Você violou as Terras de Vo'korr — sua voz era suave, mas carregada de morte. — Você viverá. Mas viverá para servir.

— Uma escrava? — perguntou o guarda.

A mulher sorriu, e o sorriso foi como uma lâmina enferrujada atravessando carne.

— Escrava. Quebrada. Até que implore pela morte.

Elora tentou protestar, mas um golpe forte na cabeça a lançou na inconsciência.

**

Em algum lugar longe dali, outra sombra se movia.

Uma mulher de olhos frios como gelo observava uma carta em suas mãos. A escrita nela falava de Elora.

De sua queda.

De sua nova prisão.

A mulher apertou a carta entre os dedos, as unhas pintadas de vermelho deixando marcas no papel.

— Eu a encontrarei — murmurou a Condessa Lilianne, mãe de Cedric.

— E eu destruirei tudo que ela tocar.

**

Elora acordou sendo arrastada pelo chão frio. Cada pedra parecia arrancar pedaços de sua pele. Quando forçava os olhos a se abrirem, via apenas flashes: armaduras negras, bandeiras rasgadas, portas gigantescas esculpidas em pedra negra.

O castelo de Vo'korr.

Uma monstruosidade antiga que parecia crescer das entranhas da terra, coberto por musgo vermelho como feridas abertas. A fortaleza erguia-se desafiando até a própria natureza, cuspindo sombras em todas as direções.

Os guardas a puxaram para dentro sem qualquer delicadeza. Cada passo a levava mais fundo em um labirinto de escuridão e frio.

O cheiro de sangue velho e corpos apodrecidos impregnava o ar.

No fundo de sua mente, Elora sabia: ela não era mais uma pessoa ali.

Era apenas carne.

Carne para ser quebrada, moldada ou devorada.

Mas ela também sabia de outra coisa, algo que queimava silenciosamente em seu interior, mesmo que seu corpo estivesse fraco.

Ela não se renderia.

Não tão facilmente.

E em algum lugar, nas entranhas do castelo, uma presença a esperava.

Uma presença que a observava desde o momento em que cruzara a barreira entre os mundos.

O nome daquela presença?

Darian.

E ele já sentia o cheiro dela no ar — a mistura deliciosa de medo, raiva e magia contida.

O Rei Sombrio não sabia ainda o que faria com aquela prisioneira.

Mas seu instinto gritava que ela era diferente.

Tão quebrada quanto perigosa.

Tão bela quanto amaldiçoada.

E enquanto as portas do inferno se fechavam atrás dela, o destino de Elora selava-se com correntes feitas de desejo, ódio e algo muito, muito mais sombrio.

Algo que nem mesmo Darian seria capaz de controlar.

Sigue leyendo este libro gratis
Escanea el código para descargar la APP
Explora y lee buenas novelas sin costo
Miles de novelas gratis en BueNovela. ¡Descarga y lee en cualquier momento!
Lee libros gratis en la app
Escanea el código para leer en la APP