A floresta respirava morte.
Sob a luz espectral da lua cheia, Elora corria, o vestido rasgado encharcado de sangue — sangue que antes pulsava dentro dela, sangue que deveria ter dado vida ao seu filho. Agora, ela apenas lutava para respirar enquanto o mundo parecia se fechar ao seu redor. Atrás dela, os rugidos selvagens do Alfa ecoavam pelas árvores: Cedric, o homem que uma vez prometeu protegê-la, agora em sua forma de lobo, sedento por sua morte. Seu ventre doía, um vazio horrendo onde antes havia esperança. Ela havia perdido tudo. O ataque fora brutal. Ele a descobrira tentando contar à mãe dele sobre a gravidez — uma última esperança de proteger seu filho da crueldade do próprio pai. Mas antes que as palavras pudessem ser pronunciadas, Cedric se transformou. Arrancou dela não apenas o filho, mas a própria fé nos deuses antigos. Elora tropeçou, os joelhos rasgando-se contra a terra gelada. Ao seu redor, as árvores pareciam se inclinar, testemunhas silenciosas de sua agonia. Uma voz interior — antiga, feroz — sussurrou em seu ouvido: "Você é mais do que dor. Você é herdeira do sangue de Velora. Levante-se." Tremendo, ela colocou-se de pé. Quando Cedric saltou das sombras, dentes à mostra, olhos dourados manchados de loucura, Elora não fugiu. Ela aceitou o ódio que crescia dentro dela. A magia adormecida no fundo de sua alma queimou, como se a própria noite atendesse seu chamado. — "Por nosso filho..." — Ela sussurrou. O lobo alfa avançou. E num grito de pura fúria e desespero, Elora canalizou toda a dor, toda a perda, toda a escuridão. Uma explosão de energia invisível irrompeu dela, jogando Cedric para trás como uma marionete despedaçada. Ele uivou, tentando se erguer. Mas Elora já estava sobre ele, com a adaga prateada — presente esquecido de sua avó — cravada em sua mão trêmula. — "Por nosso filho!" — gritou novamente, enquanto a lâmina mergulhava no coração do monstro. O uivo dele se tornou um gemido. Seus olhos dourados, por um breve momento, pareciam pedir clemência. Ela não ofereceu. Quando o corpo de Cedric caiu morto entre as folhas, Elora cambaleou para trás, encharcada do sangue dele e do seu próprio desespero. Ao longe, ela já ouvia os primeiros passos — guardas, familiares... a matilha. Eles viriam para vingar o Alfa caído. A pulsação mágica em seu peito tornou-se insuportável. Ela gritou, e as sombras ao seu redor responderam. O chão sob seus pés tremeu. A realidade se rasgou como um véu de seda. Sem saber como, Elora foi arrancada daquele mundo — lançada através do vazio, o corpo despedaçado, a alma em frangalhos, levando consigo apenas o ódio, a dor... e a esperança apagada de um filho que nunca respirou. O mundo desapareceu. E ela caiu... em um novo pesadelo. --- Antes de tudo desmoronar, houve um momento de luz. Elora se recordou — como uma faca cortando através da escuridão — da manhã em que descobriu a vida crescendo dentro dela. Lembrava-se do calor que se espalhara em seu peito, da sensação doce e quase incrédula ao sentir que não estava mais sozinha. Ela acariciara o ventre ainda liso, os olhos brilhando de emoção. Naquela hora, o futuro parecia possível. Ela sonhara com pequenas mãos agarrando seus dedos, com risadas que ecoariam pelos corredores frios da casa de Cedric. Foi então que tomou a decisão: buscaria a ajuda da mãe dele, a matriarca que, apesar da frieza, talvez tivesse piedade de uma nova vida. Se conseguisse contar, se tivesse apoio, talvez Cedric não ousasse levantar a mão contra ela ou contra o bebê. Era um fio de esperança. Frágil, tênue, mas real. Agora, esse fio partira-se, como o berço que nunca seria preenchido. E tudo o que restava era a lembrança... e a fúria silenciosa de uma mãe que perdera tudo.