POV: NoahEu sempre fui bom em ler pessoas. Faz parte da minha natureza. Talvez por isso, quando Emily me recebeu com aquele sorriso contido naquela noite, eu soube na hora: havia algo errado.Era como se ela estivesse tentando manter uma aparência de normalidade. Mas seus olhos — ah, os olhos dela — diziam outra coisa.Dor.Culpa.E medo.—Tá tudo bem? — perguntei, me inclinando para beijá-la.Ela hesitou um segundo antes de retribuir. Só um segundo, mas foi o suficiente para meu estômago se revirar.—Claro — respondeu, dando um sorriso forçado. —Só estou cansada.Cansada.A desculpa favorita dos que estão tentando esconder algo.Entrei em seu apartamento e fechei a porta atrás de mim. A sala estava diferente. Não bagunçada, mas... desalinhada. Como se alguém tivesse estado ali e ela tivesse tentado arrumar às pressas.Meus olhos vasculharam o ambiente automaticamente. E foi então que notei.Um copo na mesa de centro.Vazio. Mas não era o dela. Era maior, mais pesado, como os que cos
POV: EmilyO som da porta batendo ainda ecoava nos meus ouvidos.Noah tinha ido embora.E, com ele, a única certeza que eu ainda tinha nesse caos emocional.Eu me sentei no chão da sala, abraçando os joelhos. A taça de vinho continuava intocada na mesa de centro, ao lado do copo que Alexander usara. Eu deveria tê-lo jogado fora, escondido qualquer rastro... mas não consegui.Parte de mim queria que Noah descobrisse.Porque parte de mim estava cansada de mentir.A dor era real. Pulsava no peito como uma ferida aberta. Mas o que mais doía era saber que eu a tinha causado.Noah não merecia aquilo.Ele merecia uma mulher inteira.E tudo o que eu conseguia ser era um campo de batalha entre o passado e o presente.Me levantei cambaleando e fui até o banheiro. Me encarei no espelho.Cabelos bagunçados. Olhos vermelhos.Marcas no pescoço que nem tentei esconder direito.Marcas dele.Alexander.Eu me odeio por ceder. Por deixá-lo me tocar como se ele ainda fosse dono de mim.Porque, no fundo,
POV: DylanTem gente que acha que o silêncio é seguro.Mas o silêncio... ele fala. Grita. Revela.Principalmente quando você sabe ouvir.E eu sempre soube.Observei da janela do escritório enquanto o carro de Alexander sumia no fim da rua. O mesmo carro que, horas antes, eu tinha visto estacionado em frente ao prédio da Emily.Sabia que não era coincidência.Nada envolvendo Alexander é.A verdade é que há semanas eu venho observando tudo. Emily, Noah... e principalmente ele.Não porque sou um santo.Mas porque, no fundo, sempre desconfiei que havia um jogo maior acontecendo.E eu odeio perder — até quando ainda nem sei as regras.—Você está obcecado — ouvi a voz de Sofia atrás de mim.Me virei. Ela estava encostada na porta, os braços cruzados, aquele sorriso irônico que me tirava do sério e me atraía ao mesmo tempo.—Só estou atento — rebati.—"Atento"? — ela riu. —Você anda seguindo seu próprio tio. Isso já ultrapassou a linha do razoável faz tempo.Sofia era o tipo de mulher que vo
POV: EmilyEu ainda sentia o cheiro dele.Era como se Alexander tivesse deixado uma marca invisível no meu apartamento, nas paredes, nos lençóis... em mim.Mas não era só o cheiro. Era o peso.O peso do que ele disse. O jeito como me olhou. O modo como tocou meu rosto como se fosse dele.Como se ainda fosse dele.Eu queria gritar.Queria arrancar de mim tudo o que me fazia hesitar entre o passado e o presente.Noah era o presente. Doce. Gentil. Estável.Mas Alexander era... a ruína que sempre me atraiu.Peguei o celular, os dedos tremendo. Mandei a mensagem para Dylan antes que perdesse a coragem."Você estava certo. Ele voltou. Eu me perdi de novo."E logo depois, me odiei por isso.Porque no fundo, o que eu esperava? Um salvador?Talvez fosse isso mesmo que eu buscava — alguém que me arrancasse da minha própria escuridão. E Dylan... ele sempre esteve lá, observando. Sem julgamentos. Sem máscaras.Menos de meia hora depois, ouvi a campainha.Ele estava ali. Rápido demais. Como se já
POV: NoahFazia dois dias que Emily não respondia minhas mensagens.Duas noites em que o silêncio dela falava mais alto do que qualquer palavra.A princípio, tentei me convencer de que era só o trabalho. Ou a cabeça cheia com os últimos eventos.Mas quando fui até o apartamento dela e encontrei a porta trancada, as luzes apagadas — e o perfume masculino no corredor —, o chão começou a ceder.Não era só paranoia.Era instinto.E meu instinto sempre me alertou sobre ele.Alexander.Sentei no banco do carro e encarei o volante como se ele tivesse as respostas. Minhas mãos estavam fechadas em punhos no colo. Minha respiração era um caos tentando parecer calma.Eu a amava.Isso não tinha mudado.Mas amar alguém que talvez ainda ame outro… era como mergulhar de olhos abertos num abismo.Peguei o celular e abri as últimas mensagens."Você está bem?""Emily, me responde, por favor.""Se precisar de espaço, eu entendo. Mas me fala alguma coisa."Nada.Eu conhecia aquela ausência.Era a mesma q
POV: AlexanderEu observei tudo.De longe, é claro. Como um predador paciente.Emily não fazia ideia do quanto me irritava ver seu sorriso se curvando para outro homem. Nem imaginava que cada vez que ela tocava o braço de Dylan ou deixava escapar um riso para ele, algo dentro de mim se partia — e se reconstruía com mais raiva.Dylan.Nunca imaginei que fosse ele.Eu sempre soube que Noah era uma ameaça. Mas Dylan... Dylan foi traição interna. Um rato escondido no nosso próprio círculo, roendo aos poucos aquilo que era meu.Me escondi nas sombras por tempo suficiente. Dei a ela o espaço que disse precisar. Tolice minha.Emily nunca quis espaço. Ela quis liberdade. Para se perder. Para se vingar de mim. Para experimentar o mundo sem as correntes que eu, no fundo, sempre soube que ela desejava que eu colocasse de volta.Ela podia tentar fugir.Mas tudo ao redor dela ainda levava meu nome.Hoje, estacionei o carro a uma quadra do prédio onde Dylan agora estava hospedado.Sim, eu sabia. So
POV: Emily*Dylan dorme ao meu lado.Respiração leve, corpo aquecido pelo cobertor fino que cobre parcialmente nossos corpos. Ele é bonito, gentil, e ultimamente tem sido meu porto seguro… ou pelo menos, a tentativa de um.Mas enquanto ele dorme, os pensamentos que me mantêm acordada têm outro nome.Alexander.Ele não me liga. Não aparece. Não manda nenhuma mensagem. Mas sei que está por perto. Porque consigo senti-lo — como um raio prestes a cair.E pior: a cada dia, sinto falta da tempestade.A cabeça de Dylan se move levemente no travesseiro, e ele murmura meu nome com uma doçura que deveria me aquecer o coração.Mas tudo o que sinto é culpa.E vazio.Levantei devagar, vestindo apenas a camiseta dele e andando descalça até a cozinha do pequeno apartamento. As luzes da cidade dançavam através da janela, refletindo nas garrafas vazias de vinho que deixamos sobre a bancada. A noite passada tinha sido… quente. Ele me tocou com desejo, com delicadeza. Me fez rir, me beijou como se tives
POV: AlexanderEla estava lá.Usando aquele vestido preto ridiculamente simples, como se não tivesse consciência do que provocava. Como se seus olhos grandes e ansiosos não estivessem me desafiando desde o momento em que entrou naquele salão.Emily.A mulher que partiu meu orgulho em dois.A mulher que eu ainda quero.Ela chegou com ele.Dylan.Meu sobrinho.O idiota sorridente que acredita, ingenuamente, que pode amar como um homem de verdade. Que pode protegê-la de mim.Não pode.Por fora, mantive a compostura. O terno ajustado, o copo de whisky equilibrado na mão. Mas por dentro, uma guerra silenciosa se formava. Uma guerra entre o que restou de racionalidade em mim… e o desejo de tê-la de novo.Inteira.Arfando sob o meu toque, gemendo o meu nome como se fosse uma súplica.Quando passei por ela no salão, senti.O corpo dela enrijeceu.O olhar se desviou.Mas o cheiro dela… maldito cheiro de jasmim e pecado… ainda estava preso em mim.Ela tentou fingir força. Tentou agarrar a mão d