Silêncio e Medo
A cozinha estava silenciosa, exceto pelo som da colher batendo na xícara.
Lucas estava sentado, olhando para o nada, como quem conversava com fantasmas que mais ninguém via.
Thamires entrou devagar.
Fingiu ir até o balcão.
Fingiu procurar água.
Fingiu respirar leve.
Mas seus olhos estavam na chave sobre a mesa.
Lucas percebeu.
Sempre percebia.
Ele não olhou para ela — e isso foi pior que olhar.
— Sai daqui. — disse, sem levantar a voz.
Thamires parou.
— Lucas, eu só—
— Você atrapalha.
— Você sempre atrapalha.
— É por isso que tudo dá errado. — ele sussurrou, finalmente ergueu o olhar.
Os olhos estavam vazios.
Friamente convencidos.
Cruéis por natureza.
— Porque você é burra.
Thamires ficou imóvel por um segundo.
Só um.
Depois murmurou, sem que ele ouvisse:
— Você vai ver quem é burra.
Ela pegou a chave no momento em que virou as costas —
rápido, suave, exato.
E subiu as escadas.
---
O corredor estava escuro.
S