Capítulo 10
O som da porta se fechando atrás de si trouxe a Eloise um alívio estranho, como se finalmente pudesse respirar sem o peso do olhar afiado de Augusto sobre seus passos. Aquele dia havia sido longo — intenso demais para o que ela estava preparada.
Largou a bolsa sobre a cadeira da cozinha e começou a guardar as compras que havia passado no mercado antes de voltar. Tudo simples. Prático. A rotina era sua forma de manter os pés no chão, de não se deixar arrastar pelos jogos perigosos de homens como Augusto Monteiro.
— Pai? — chamou ao passar pela sala.
Ele estava sentado na poltrona, olhando para o nada, como quem carregava pensamentos demais.
— Oi, filha — respondeu, tentando sorrir. Mas havia algo diferente em seu olhar. Um traço de dúvida. De preocupação.
Ela não quis forçar. Apenas seguiu para a cozinha, prendendo o cabelo e abrindo a panela com um gesto automático. A água já estava para ferver.
“Macarrão com molho madeira...”, murmurou sozinha, como se invocasse a mãe. A