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Entre o Crime e a Paixão
Entre o Crime e a Paixão
Por: Zee Roe Nyx
Capítulo 1 - Boas notícias

Eu precisei olhar para o chão do elevador enquanto segurava o pequeno envelope apertado contra o peito. Eu sabia que, se olhasse para a Sarah, ia desabar em lágrimas. E eu não queria perder o controle na frente de todo o escritório. Ou mesmo na recepção. Por isso, quando as portas se abriram com aquele “ping” alegre, eu quase corri para dentro do café e me sentei na última mesa, lá no fundo.

Sarah veio atrás de mim e se sentou do outro lado da mesa. Com as costas voltadas para a entrada e para todo mundo, finalmente consegui agradecê-la.

— Sarah, eu quero... — comecei a dizer.

Mas foi o máximo que consegui. Meu peito arfou e as lágrimas levaram todas as palavras embora. Tudo o que eu consegui fazer foi chorar, chorar e chorar diante da Sarah sorridente. Parecia que tinha chovido sobre o envelope que eu segurava.

Ela esticou o braço por cima da mesa e segurou minhas mãos trêmulas, e mesmo assim eu não consegui dizer uma palavra por vários minutos. Talvez ela tenha se cansado do meu pranto, porque se levantou e voltou com dois lattes. Quando se sentou de novo, eu ainda não tinha conseguido parar de chorar, mas pelo menos já conseguia respirar e murmurar algumas palavras.

— Esse é o dia mais feliz da minha... — tentei dizer, mas comecei a soluçar de novo.

— A gente sabe, Carla, a gente sabe. Você merece isso — ela me garantiu.

— Eu não mereço... eu não mereço amigas como você! Eu vou pagar, cada centavo.

— Shhh... calma. Tá tudo bem. Todo mundo ajudou. Até o chefe!

— Mas... é demais!

— Sim, faculdade é cara. A gente sabe. Alguns de nós já passaram por isso. Por sorte, tivemos pais para ajudar. E o Diogo tem você.

Eu ainda custava acreditar no que via. Abri o envelope agora salpicado de lágrimas e tirei o cheque, feito em nome do Diogo. Era mais dinheiro do que eu jamais sonhei. Li o valor de novo, através da máscara de cílios borrada. Sarah me deu um guardanapo para limpar, mas eu tinha medo de soltar o cheque — parecia que, se eu deixasse, ele ia voar ou eu ia acordar de novo no meu apartamento de um quarto que eu dividia com meu filho recém aprovado na faculdade.

Diogo agora tinha 18 anos e, contra todas as probabilidades, fora aceito em uma boa faculdade local. A gente não precisaria se preocupar com moradia, mas ele ia passar mais horas no metrô do que em qualquer outro lugar, indo da faculdade pro trabalho e de volta.

— Eu não sei como te agradecer, Sarah. Nem o pessoal do escritório... Como é que eu vou encarar todo mundo?

— Só diz “obrigada” e segue em frente, Carla. Tá todo mundo torcendo pelo Diogo. Ele é um garoto especial!

— Isso ele é — respondi, tentando limpar os olhos sem soltar o cheque, nem o manchar com maquiagem ou café.

— Mas foi o máximo que deu pra juntar. Mal cobre o semestre. O que você vai fazer com o resto? Tem os livros, ele não vai poder trabalhar tanto... — Sarah falava quase pedindo desculpas por ela e os colegas não poderem pagar tudo.

— Eu não sei. Vou continuar tentando bolsas e auxílio do governo. Talvez a gente consiga cortar alguns gastos.

— Cortar o quê? No último happy hour você só tomou água!

— Talvez eu arrume um segundo emprego... ou um terceiro.

Sarah riu disso. Desta vez fui eu quem segurou a mão dela.

— Mas, sério, é demais. Você tem certeza que todo mundo...

— Carla, chega! A gente te adora e queria poder fazer mais, mas...

Sarah parou de falar no mesmo instante em que o sino pendurado na porta do café tocou e a porta se abriu com força. Virei-me para seguir o olhar dela até o homem que entrou decidido e veio em nossa direção. Naquela parte da cidade, não era incomum ver homens elegantes, em ternos sob medida, desfilando em seus carros esportivos. Os prédios estavam cheios de escritórios de advocacia de alto nível e magnatas das finanças.

Mas esse cara era diferente. O cabelo perfeitamente penteado, a pele impecável, o terno escuro de três peças e a gravata vermelha contrastavam com o olhar feroz que ele trazia. Ele examinou o café como quem entra em um campo de batalha. E foi justamente no canto mais discreto desse campo de batalha, longe dos olhares de todos, que eu tinha me escondido pra chorar.

Quando nossos olhares se cruzaram, ele lembrou como se sorri, e — como um velho amigo prestativo — sentou-se na mesa ao lado.

— Oi — cumprimentou, com algumas mechas rebeldes escapando do exagero de gel e caindo na testa, os olhos azuis cravados nos meus. — Isso vai parecer muito estranho, eu sei, mas é uma coisa boa. Eu realmente, realmente preciso trocar de carro com você. Só dessa vez.

Ele levantou um cartão preto e brilhante, com um logo reluzente que eu mal reconheci. Acho que devo ter feito uma cara esquisita, porque ele sorriu mais, inclinou-se na minha direção e tentou pegar minha mão. Eu queria tanto proteger aquele cheque que me afastei.

— Não precisa ter medo. É uma boa notícia. Pode até ser divertido! — Ele pegou minha mão livre, colocou o cartão nela e fechou meus dedos. — Aqui. Essas são as chaves do meu carro. Você pode ficar com ele se me deixar pegar o seu emprestado. Só hoje, eu prometo.

Fiquei olhando nos olhos azuis dele, sem saber o que fazer.

— Estou estacionado aqui no prédio mesmo. Terceiro andar, vaga B12. E você?

— Uh... segundo... acho. Em frente ao elevador.

— Certo. Eu o encontro. Obrigado. Muito obrigado.

E ele foi embora sem olhar pra trás, com as minhas chaves na mão — tiradas da minha bolsa, ou do meu bolso, eu nem sei.

— Que diabos acabou de acontecer? — perguntei.

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