Não sou figurante

Cristal terminou de uma vez a taça que havia deixado no balcão. O líquido desceu amargo, mais pela noite do que pelo espumante.

— “Chega. Já ouvi demais... dentro da minha própria casa.” — disse, firme, quase em tom de decreto. — “Vocês que se virem.”

Virou as costas sem pressa, mas cada passo reverberava como um corte. Subiu as escadas com a elegância intacta, embora por dentro seu peito estivesse em chamas. Ao passar pelo corredor, escolheu um dos quartos de hóspedes. Não queria ver ninguém. Não queria estar no quarto que dividia com Raphael. Não agora.

Entrou, fechou a porta atrás de si com um clique seco, e se sentou na beira da cama. Respirou fundo, longamente, como quem tenta manter a represa intacta. Os olhos percorriam o papel de parede claro, a cortina de linho ondulando com a brisa leve. Tudo ali era silencioso. Mas dentro dela, o barulho era ensurdecedor.

Poucos minutos se passaram até que uma batida discreta ecoasse na porta.

Cristal não respondeu.

A maçaneta girou e
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