66. O Olhar que Queima (Vicente)
A lama ainda se acumulava nas ruas, mas isso não impediu que ela seguisse seu caminho até o empório, onde trabalhava por algumas horas antes de sair para vender seus quitutes.
Os fregueses entravam e saíam do pequeno estabelecimento, trazendo consigo o cheiro de terra molhada e o burburinho de conversas sobre o incêndio na fazenda Monteiro de Alcântara. Tereza não prestou muita atenção no falatório — o que acontecia nas terras dos grandes senhores raramente dizia respeito a ela. Seu foco estava no trabalho.
Organizou sacas de feijão, empilhou pacotes de farinha e ajudou a cortar um naco generoso de queijo para uma senhora que murmurava sobre os tempos difíceis. Quando finalmente terminou suas tarefas no empório, recebeu algumas moedas e se despediu, jogando o avental sobre o ombro antes de seguir para feira, onde trabalharia por mais algumas horas.
O sol já estava alto quando Tereza sentou-se sob a sombra de uma árvore para comer seu pão de milho. O aroma levemente adocicado e a