A viagem até a fazenda dos Vieira de Sá começara antes do nascer do sol. A carruagem balançava suavemente enquanto deixavam para trás as ruas de paralelepípedos do Rio de Janeiro e seguiam pela estrada que os conduziria até São Paulo. O ar ainda carregava o frescor da madrugada, e a névoa pairava sobre as colinas como um véu delicado. Cecília mantinha as mãos enlaçadas no colo, tentando em vão controlar a inquietação que se espalhava por seu peito. A cada quilômetro percorrido, a realidade de que em breve estaria sob o mesmo teto que Max se tornava mais inescapável. — Não entendo seu nervosismo, Cecília. — Gabriel quebrou o silêncio, recostado confortavelmente no banco de couro. — Não há nada de assustador na fazenda dos Vieira de Sá. — Para você, talvez. — Helena interveio com um tom mais suave, mas um sorriso cúmplice nos lábios. — Mas Cecília está indo para conhecer o lugar onde viverá pelo resto da vida. "Se eu chegar a me casar com Eduardo…" A ideia a atravessou como uma a
Eduardo a conduziu para dentro da casa, e Cecília sentiu o ar mudar assim que cruzaram a porta principal. O interior da fazenda era tão imponente quanto o exterior. O mármore polido refletia o brilho suave da luz do entardecer, e os móveis pesados, de madeira escura, davam ao ambiente um ar quase solene. A cada passo que dava ao lado de Eduardo, seu coração parecia pesar mais. A lembrança de suas mãos em Max, do calor dos beijos, ainda queimava em sua pele. E agora, ali, com o homem a quem deveria prometer seu futuro, ela mal conseguia encará-lo. — Imagino que não seja muito diferente da sua casa — Eduardo comentou, conduzindo-a por um longo corredor decorado com pinturas a óleo de paisagens rurais. — É... — Sua voz saiu baixa, e ela precisou se esforçar para acrescentar: — Um pouco mais... formal, talvez. Ele riu suavemente. — Meu pai sempre teve um gosto mais austero. Quando nos casarmos, você poderá dar seu toque feminino à casa. — Seus olhos se suavizaram quando a observo
A escuridão do corredor da casa dos Vieira de Sá era cortada apenas pelo brilho trêmulo da lamparina que Cecília segurava com mãos tensas. O silêncio da noite pesava em seus ombros como uma sentença, cada passo ecoando pelas paredes imponentes enquanto ela tentava se convencer de que precisava apenas de um copo de água – nada mais. Mas então, o destino – o terrível destino – colocou Max em seu caminho. Ele subia as escadas que levavam à adega, com uma garrafa de álcool na mão, a camisa branca com os primeiros botões abertos e a expressão sombria que parecia gravada em seu rosto desde sua chegada. O coração de Cecília acelerou no peito, o ar se tornando denso ao redor deles. Ele parou quando a viu, e por um longo instante, nenhum dos dois disse nada. Apenas ficaram ali, presos em uma tensão que ameaçava romper a frágil fachada que ambos tentavam sustentar. — Não consegue dormir? – A voz dele saiu baixa, rouca, quase um desafio. Ela ergueu o queixo, forçando uma compostura que
A tensão que envolvia Cecília e Max era densa como o ar antes de uma tempestade. O beijo entre eles se aprofundava em um misto perigoso de raiva, desejo e culpa. A cada toque, a cada suspiro abafado, ficava mais claro que nenhum dos dois conseguia resistir à força que os puxava um para o outro – mesmo quando tudo ao redor gritava que aquilo era errado. As mãos de Max, firmes e possessivas, desceram pela curva da cintura de Cecília, puxando-a contra ele, como se quisesse apagar qualquer distância que os separasse. O corpo dela respondeu imediatamente, o coração martelando dentro do peito, os nervos em chamas sob cada carícia. — Você não devia estar aqui… – murmurou ele contra os lábios dela, mas não houve qualquer convicção em sua voz. — E você não devia me querer – retrucou, as palavras saindo ofegantes enquanto suas mãos deslizavam pelos ombros largos, sentindo o calor que queimava sob a pele dele. Max soltou um riso baixo e amargo, pressionando-a mais contra a parede do corre
Cecília mal conseguia respirar ao fechar a porta do quarto, os dedos tremendo levemente enquanto tentava não fazer barulho. O corpo ainda latejava — uma mistura de culpa, raiva e desejo. Sentia a pele sensível onde as mãos de Max a tinham tocado, marcado. Deslizou para a cama ao lado de Helena, que dormia profundamente, alheia ao caos que se desenrolava dentro da irmã. Cecília tentou se cobrir e encontrar algum descanso, mas cada vez que fechava os olhos, via o rosto de Max. Os olhos intensos, a forma como seu nome soava mais grave na boca dele. O gosto dele ainda estava em sua língua. Ela não era mais a mesma mulher. E sabia que, se alguém descobrisse o que fazia nas sombras, o escândalo a destruiria. Na manhã seguinte, tentou ocupar a mente. Conheceu as dependências da casa, absorvendo cada detalhe do lugar que em poucos meses deveria chamar de lar. A Fazenda dos Vieira de Sá era diferente da sua. Onde a propriedade dos Monteiro de Alcântara era exuberante e festiva, es
Ele a puxou pela cintura e a boca dele desceu sobre a dela em um beijo desesperado e faminto. Cecília resistiu por um instante, mas depois derreteu em seus braços, as mãos agarrando sua camisa enquanto ele a pressionava contra a mesa de leitura. O gosto dela era como fogo e pecado, algo que ele jamais deveria tocar de novo — mas que não conseguia abandonar. Os dedos dele traçaram a curva do corpo dela sob o tecido fino da camisola, e ela arfou quando ele a puxou ainda mais para perto, o corpo dele moldando-se ao dela de forma indecente. — Eu te quero, Cecília — ele murmurou contra seus lábios. — Sempre quis. Ela não respondeu, mas o modo como seu corpo se curvava em direção a ele, como se procurasse cada toque, cada beijo, já dizia o suficiente. Mas então… o som seco de um livro caindo cortou o ar. Max congelou. Cecília ficou rígida em seus braços, o peito subindo e descendo em pânico. Ele se virou devagar… e o que viu fez seu sangue gelar. Eduardo estava parado na entr
O silêncio pesado que se seguiu após as palavras de Max era quase sufocante. Cecília ainda estava sentada, o rosto pálido e manchado de lágrimas, enquanto Max permanecia firme, mesmo com o lábio cortado e o sangue escorrendo lentamente em sua pele. Eduardo, por outro lado, parecia prestes a explodir de fúria novamente, o maxilar rígido e os punhos cerrados ao lado do corpo. — Você acha que tem o direito de defendê-la? — A voz de Eduardo cortou o ar como um açoite. — Depois do que vocês fizeram pelas minhas costas? — Eduardo… — Helena tentou intervir, a expressão angustiada ao ver os dois irmãos diante de um abismo tão profundo. — Por favor, tenta se acalmar. Não vamos resolver nada assim. — Se acalmar? — Ele soltou uma risada seca e descrente, passando a mão pelo cabelo em um gesto nervoso. — Minha noiva me traiu com o meu próprio irmão, Helena! Eu sou um idiota por ter confiado em ambos! — Não fala assim com ela — Max repetiu, a voz firme, mas havia uma dor crua em seus olhos.
O silêncio na casa dos Vieira de Sá era opressor. Apenas o estalo ocasional da madeira na lareira quebrava a tensão sufocante entre os dois irmãos restantes. Eduardo permanecia de pé, os ombros rígidos e a expressão fechada em um misto de raiva e decepção. Max, com o rosto ainda marcado pelos socos que recebera de Vicente e pelo peso das próprias escolhas, tentava conter a fúria que borbulhava em seu peito. — Eu ainda não consigo acreditar. — A voz de Eduardo soou áspera, cortando o silêncio como uma lâmina. — Você… com a mulher que eu ia me casar? Max passou a língua pelo corte no lábio inferior antes de responder, a voz rouca e carregada de emoção contida. — Não foi algo que eu planejei, Eduardo. Eu tentei… tentei me afastar. — Não tentou o suficiente. — Eduardo zombou, o tom carregado de sarcasmo e mágoa. — Eu sabia que o certo era deixar você e Cecília seguirem com esse casamento ridículo. — Max estreitou os olhos. — Mas toda vez que a via… Eu perdia o controle. O que exi