06. Luxúria e o Legado

A luz dourada do entardecer tingia as ruas com um brilho decadente, como se a cidade inteira ardesse em desejo. Para Max, era apenas o prenúncio de mais uma noite de excessos. E ele pretendia se perder nela até o último gole, até o último corpo, até o último pecado.

No salão reservado do Clube do Progresso — um templo do luxo exclusivo para homens poderosos — o tilintar de taças e as risadas roucas criavam uma sinfonia de decadência. O cheiro de tabaco cubano, conhaque envelhecido e promessas ilícitas pairava no ar como uma cortina invisível de permissividade. Era um ambiente feito sob medida para homens como Max.

Ele estava recostado em uma poltrona de couro, com as pernas relaxadas, o olhar afiado percorrendo o salão como um predador entediado. Seus cabelos castanhos estavam levemente desalinhados, o maxilar coberto por uma barba por fazer, e os olhos, escuros como pecado, brilhavam com uma confiança perigosa. Max era o tipo de homem que exalava charme sem precisar tentar — e ele sabia disso.

— Você perdeu, Max — provocou Antônio, seu primo e parceiro de jogatinas e devassidão, ao jogar as cartas na mesa. — A sua sorte virou.

— Sorte? — Max sorriu de lado, levando a taça de conhaque aos lábios. — Eu nunca precisei dela.

Mas seu interesse já não estava no jogo. Seus olhos estavam cravados em algo — ou melhor, alguém — no canto do salão.

A mulher mais deslumbrante da noite o observava com ousadia. Morena, com a pele dourada, os lábios pintados de um vermelho pecaminoso e um vestido de veludo verde que abraçava cada curva como se tivesse sido feito sob medida para o desejo. Ela não precisava dizer uma palavra para ser uma tentação.

— Maximiliano Vieira de Sá — disse ela, sua voz soando como uma promessa sussurrada ao pé do ouvido. — Sempre ouvi que você tem talentos... inesquecíveis.

Max sorriu devagar. Aquele era o tipo de jogo que ele dominava.

— Só há uma forma de descobrir — murmurou, com uma voz arrastada, carregada de intenções obscenas.

Com movimentos calculadamente sensuais, ele se ergueu da poltrona, caminhando até ela como quem desafia o mundo a impedi-lo. Quando sua mão tocou a dela, o arrepio foi mútuo. Ela sorriu — um sorriso malicioso, faminto.

— Não me decepcione — sussurrou, puxando-o pela mão para fora do salão, como se ele fosse o prêmio e não o caçador.

Max adorava quando uma mulher ousava conduzi-lo. Era como jogar gasolina no próprio fogo.

No corredor estreito e pouco iluminado, ele a prensou contra a parede com brutal delicadeza. Seu corpo colou-se ao dela com firmeza e promessas silenciosas.

— Seu nome — exigiu, roçando os lábios em seu pescoço.

— Clara — respondeu ela, já com a respiração entrecortada.

— Clara — repetiu ele, saboreando o som como se fosse uma fruta proibida. — Espero que não seja tão pura quanto o nome.

Ela riu, entregando-se sem hesitação.

— E eu espero que você seja tão pecador quanto dizem.

O beijo veio como uma explosão. Voraz, sem cerimônia, sem tempo para delicadezas. As mãos dele exploraram com maestria cada curva, cada suspiro dela era combustível para sua sede.

Max não era um homem gentil. Era intenso, feroz, e naquela noite, ele fez Clara esquecer o próprio nome. Ali, contra a parede fria do corredor de um clube elitista, ele a fez perder o fôlego — e a si mesmo, por um instante.

Quando tudo terminou e Clara adormecia em sua cama, Max se vestiu devagar, sem pressa, como se já esperasse que a próxima noite fosse apenas mais uma repetição. Voltou ao clube, onde Antônio o recebeu com um sorriso zombeteiro.

— Outra conquista?

— Mais uma — respondeu, indiferente, como se dissesse "mais um copo de conhaque".

Mas algo o desconcertou.

No fundo do salão, como um fantasma que se recusa a desaparecer, a lembrança dos olhos claros de Cecília Monteiro de Alcântara voltou à sua mente. E com ela, o incômodo. O desejo. A proibição.

Max praguejou em voz baixa. Cecília não era como Clara. Não era como nenhuma outra. Ela era recatada, prometida a outro homem, cercada por regras e deveres. Intocável.

E era justamente isso que a tornava tão malditamente desejável.

Ele sabia que estava perdido antes mesmo de tê-la.

---

Enquanto isso, a jovem Cecília Monteiro de Alcântara caminhava pelo terraço da fazenda da família. Os campos de café se estendiam como um mar verde sob o céu rosado, e a brisa morna do entardecer balançava seus cabelos, soltando mechas do penteado perfeitamente preso.

Aquele lugar era seu lar — e sua prisão.

A fazenda era um império, construído com suor, visão e decisões ousadas. Seu pai, Joaquim, se orgulhava de ser um dos primeiros a abandonar a escravidão e implementar um sistema de trabalhadores assalariados. Uma atitude que dividia opiniões, mas que tornava a propriedade um modelo de modernidade.

— Pensativa de novo, Cecília? — A voz de Vicente, seu irmão mais velho, a tirou dos devaneios.

Ela se virou. Vicente era a personificação da responsabilidade. Alto, de semblante sempre atento, ele carregava nos ombros o futuro da família. E ela sabia o quanto isso custava.

— Apenas admirando o fim do dia — respondeu, tentando esconder a inquietação.

— E o casamento? Ainda acha que vai conseguir se convencer de que é só um acordo?

Ela sorriu, cansada.

— Não sou boba, Vicente. Sei que alianças políticas são essenciais. E papai precisa disso.

— Mas e você? Precisa?

A pergunta ficou no ar, carregada de compaixão. Vicente era o único que realmente se importava com o que ela sentia.

— Talvez eu precise aprender a aceitar meu papel — disse, mais para si mesma do que para ele.

— Todos temos papéis que não escolhemos — ele respondeu, com um olhar que revelava o fardo que também carregava. — Mas às vezes, precisamos encontrar formas de sermos livres dentro deles.

O silêncio entre os dois era cheio de compreensão. Cecília sabia que Vicente se sacrificava em nome da estabilidade, assim como ela seria obrigada a se casar por ela.

— Papai está inquieto — ele disse, quebrando o silêncio. — Os tempos mudam. A República é jovem, instável. Muitos dos nossos vizinhos estão à beira da falência. Um casamento com os Vasconcellos garante proteção, influência. É mais do que um laço, é uma estratégia.

Cecília assentiu, mesmo sentindo o peso apertar o peito.

— Eu farei o que for necessário. Não vou decepcioná-lo.

— Eu sei disso. Mas, por favor... não se perca nisso.

Antes que pudesse responder, passos apressados ecoaram atrás deles. Era Helena, a irmã mais nova, com os olhos brilhando de animação.

— Vamos ao lago amanhã. Você vem, Cecília?

— Claro — respondeu, forçando um sorriso. Precisava, desesperadamente, de um momento de leveza.

— E você também, Vicente — disse Helena, lançando ao irmão um olhar provocativo.

Vicente apenas riu, desviando o olhar para o horizonte — mas havia algo diferente em seus olhos. Um peso invisível, compartilhado em silêncio com Cecília.

E ela sabia. Sabia que, mesmo com todo o esforço para se manter firme, o mundo que conheciam estava prestes a ruir — e ninguém ali sairia ileso.

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