[NARRADO POR CAIO – O MURALHA]
O asfalto já tinha voltado, mas meu corpo ainda era barro, sangue e dor.
Cada curva de moto doía como tapa nas costelas quebradas.
Alana atrás de mim respirava pesado, agarrada na minha cintura com os dedos trêmulos, a camisa rasgada, a testa sangrando.
A gente era dois fantasmas sujos da explosão que o Brasil achava que tinha vencido.
Mas não tinha.
Ainda não.
Foi quando dobrei a última viela antes da entrada da Conquista… que vi.
Mais um carro da PM.
Disfarçado, mas ali. Parado. Vigiando.
Dois verme fardado dentro, rádio na mão, esperando o improvável.
— “Filhos da puta...” — murmurei.
Parei a moto no cantinho, debaixo da sombra de uma árvore seca.
— “Ainda tem cana aqui…” — falei baixo, rangendo os dentes.
Alana desceu da moto com dificuldade. Quase caiu. O joelho dela sangrava.
— “A gente não pode entrar. Se eles nos verem agora, acabou.”
— “Ninguém pode ver a gente. Nem mais uma alma.”
Foi então que passou um moleque. Devia ter uns