NARRADO POR ALANA
(a mulher que engole a dor com gosto de deboche)
“Não gosto de fardada.”
As palavras dele ainda tavam ecoando no quarto quando me sentei na beira da cama, os pés no chão, o sangue subindo no meu rosto mais rápido que qualquer tiro.
Fardada, é?
Engraçado…
Quando tava com a boca colada no meu pescoço, me chamando de “minha cúmplice”, ele não parecia enjoado da farda.
Abaixei a cabeça, respirei fundo.
Meus dedos fecharam o lençol com força.
Orgulho ferido tem gosto de sangue.
Mas eu aprendi a engolir.
Olhei ele jogado no sofá.
Camisa fora, peito exposto, braço por cima dos olhos como se o mundo não valesse mais nada.
E mesmo tentando parecer indiferente, ele tava mais tenso que policial encurralado em operação.
— “Não gosta de fardada…” — murmurei, só pra mim. — “Mas me perseguiu com a mira de quem já tava rendido.”
Levantei devagar.
Dei dois passos até o interruptor.
Apaguei a luz principal.
Ficou só a do abajur, aquela meia-luz que denuncia sombra e